Cinema

Mulheres debatem desigualdade de gênero no setor audiovisual

Em SP, Evento discutiu avanços e desafios da produção cinematográfica frente ao cenário de instabilidade do setor

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Simone Yunes, Débora Ivanov, Laís Bodansky e Tata Amaral durante I Fórum de Lideranças Femininas do Audiovisual
Simone Yunes, Débora Ivanov, Laís Bodansky e Tata Amaral durante I Fórum de Lideranças Femininas do Audiovisual - Vanessa Nicolav

Mulheres representam 51% da população brasileira, porém, sua participação em funções de liderança no mercado audiovisual, como direção e direção de fotografia, ainda é rara. Segundo pesquisa de 2016 realizada pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), das pessoas atuando nesses cargos somente 20% e 12%, respectivamente, eram mulheres. 

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Desde a divulgação do estudo, mulheres profissionais do setor vêm se mobilizando, organizando encontros e festivais para ampliar a visibilidade de seu trabalho e também pressionar pela construção de políticas públicas que garantam maior equidade de gênero no setor.

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Exemplo desse tipo de iniciativa é o 1º Fórum de Lideranças Femininas do Audiovisual que teve seu teve início na última segunda-feira (21), em São Paulo (SP). Contando com a presença de lideranças de 20 entidades dedicadas ao setor, o objetivo do encontro foi apresentar um panorama das iniciativas para a valorização da presença feminina nos últimos anos e propor a construção coletiva de uma agenda de ações para 2020.

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Para Débora Ivanov, ex-diretora da Ancine e uma das organizadoras do evento, a atividade representa a consolidação do movimento de mulheres no audiovisual que, além de buscar maior espaço para as produções de mulheres, também é um esforço para pensar políticas públicas para o setor como um todo.

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“Nos últimos anos, a soma de força entre as mulheres do audiovisual foi muito forte, por isso a importância de realizar seminários e festivais que pautem o tema. Mas é a primeira vez que estamos realizando um encontro mais amplo e sincronizado para conversar sobre como está a pauta do setor no Congresso, na Ancine e a relação com o novo governo. A ideia é buscar o que a gente pode fazer todas juntas, de norte à sul do país”, explica.

Apagamento e resgate da história

Durante o evento também foi lançado o livro "Mulheres de Cinema", organizado por Karla Holanda e lançado pela Numa Editora, que conta a história de pioneiras da atividade audiovisual em diversas partes do mundo.

Alessandra Meleiro, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e autora de um dos artigos do livro, reafirma a importância do espaço e comenta que a reflexão sobre a desigualdade de oportunidades também perpassa os espaços de educação audiovisual. “Quando fomos olhar para o corpo docente [dos cursos de audiovisual], vimos que há de fato uma predominância feminina em algumas áreas e masculina em outras. Então, como a gente pode discutir a participação da mulher no mercado de trabalho, se a gente não discute a desigualdade nesses cursos que formam os profissionais que vão entrar nessa área?”, questiona.

A diretora, roteirista e produtora Tatá Amaral também esteve presente na atividade, exibindo episódio de série inédita, “As protagonistas”, que faz um resgate histórica da participação histórica das mulheres no audiovisual brasileiro.

Segundo ela, a pauta do movimento é a diminuição das disparidades de gênero, mas também inclui a pauta de raça e da diversidade. “A pergunta que queremos responder é o que dentro do poder público pode ser feito para diminuir as assimetrias de gênero e raça no audiovisual brasileiro. Para que ele reflita a realidade da sociedade brasileira, onde a maioria é composta por mulheres e por negros.”

Profissional do áudio, Maria Prado Leon da Silva, é representante da nova de geração de mulheres no cinema e foi conferir a atividade que integrou a programação oficial da 43a Mostra de Cinema de São Paulo. Para ela, as produções cinematográficas feitas por mulheres se diferenciam muito.

“É outra fala, outra outra visão, outra forma, muito diferente do discurso do homem branco. Eu acho extremamente importante, fico até emocionada, porque eu ainda sou nova e estou entrando numa época boa, em que isso está sendo discutido. Acho que isso é o futuro, não vai ter volta", argumenta.

O Fórum de Lideranças Femininas no Audiovisual segue sua programação com uma mesa de debate com participação de Laís Bodansky, Denise Gomes, Diana Maia, Carla Franciane e Débora Ivanov que irá tratar das mudanças na Ancine e as novas recomendações do Tribunal de Contas da União. A atividade acontece no Centro de Formação do Sesc e contará também com lançamento do livro “Viés Inconsciente”, da autora Adriana Carvalho.

 

Edição: Rodrigo Chagas