Paraíba

COMPROMISSO

IFPB presta serviço às populações que precisam de moradia

Dois projetos de extensão, implementados pelo instituto, ensinam como construir casas de forma sustentável

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Turma do projeto de extensão do IFPB que está participando de capacitação para construção de tijolos de terra crua (BTC).
Turma do projeto de extensão do IFPB que está participando de capacitação para construção de tijolos de terra crua (BTC). - Projeto IFPB

Procurar soluções quando tudo parece estar perdido. A junção entre construção de casas  e saídas sustentáveis tanto em níveis sociais, quanto econômicos e ambientais é o foco de dois projetos de extensão executados no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Campus João Pessoa. Na prática, um arcabouço prático e teórico, adquirido, também, a partir das experiências dos povos tradicionais. Atitude colocada em prática, por um grupo do IFPB chamado MoviBem, resultou no ensino de construções sustentáveis, tijolos de terra crua e o uso de uma antiga técnica, a taipa de mão. Soluções de baixo custo, ambientalmente justas e que atendem às necessidades das pessoas mais necessitadas.

Preparando a terra para a construção dos tijolos, mistura com cimento e água. / Projeto IFPB.


As professoras responsáveis por essas iniciativas criativas e transformadoras da realidade são  Lilian Ferreira Cardoso da Silva, arquiteta e urbanista, professora do IFPB - Campus João Pessoa e a professora Roberta Paiva Cavalcante, arquiteta e urbanista, do IFPB também do Campus JP. Os projetos são o de Bloco de Terra Crua (BTC) e o de taipa. Elas simplesmente, a partir do respeito aos povos e às comunidades tradicionais, descobriram que, com a troca de experiências, poderiam aprender soluções encontradas por pessoas simples no que tange à arquitetura. 
Em 2017, como uma ação social, através da realização de uma festa para crianças, na escola José Albino, no Conde, encontraram as portas para começar esse trabalho. Em 2018 continuaram a trabalhar com 4 comunidades tradicionais, 2 quilombolas e 2 aldeias indígenas. "A base do projeto era a horizontalidade do saber. Como estávamos em comunidades com culturas e tradições fortes, a proposta principal do projeto era a troca de saberes. Ofertávamos nosso saber acadêmico através de oficinas itinerantes, em regime de mutirão, nós fazíamos móveis em pallets e em troca aprendíamos com as comunidades um saber tradicional. Fomos apresentados a taipa de mão, turismo de base comunitária, vivência na aldeia", explicou a professora Lilian.
Esse projeto de 2018 ganhou um prêmio de inovação educacional e social, experiência que será apresentada este ano na Feira e Congresso de Tecnologia e Inovação (Expotec).

Programação do curso de extensão utiliza parte dos recursos naturais presentes nas próprias comunidades envolvidas no projeto. / Projeto IFPB.


Dias 23 e 25 de outubro foi a vez das comunidades tradicionais e o movimento sem teto ocupar o espaço e o saber no IFPB. Eles participaram da capacitação proposta pelos projetos em questão. "Atualmente estamos a frente de 2 projetos: Um é o de capacitação em bloco de terra crua (BTC), um bloco feito 90% de terra e apenas 10% de cimento e que não vai a forno. Ele é produzido em uma prensa, a que utilizamos foi a prensa Mattone, uma prensa italiana mas existem várias no mercado", explicou a coordenadora do projeto e professora, Lilian Ferreira.


BTC produzido na prensa Mattone. / Projeto IFPB.

A capacitação teve 3 momentos, um de leitura e interpretação de projetos, outro da parte teórica sobre as construções em terra crua e bloco de terra crua e a terceira que foi uma oficina prática de análise do solo, produção do BTC na prensa, cura e assentamento.
Já o segundo projeto de extensão tem a ver com taipa e ainda vai acontecer. "Será uma capacitação em taipa de mão com bambu. Essa também acontecerá em 3 dias. No primeiro, haverá uma teoria sobre as construções em taipa, os dois outros dias serão a prática de taipa, onde será construída um pequeno protótipo", disse Lilian.

Construção com tijolos BTC. / Projeto IFPB.

Os projetos esse ano envolvem comunidades tradicionais e também vinculação de parceiras como com a Universidade Federal da Paraíba, a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), através da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), a Ong Casa dos Sonhos e o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).


"Na verdade, é ao mesmo tempo o IFPB enquanto Instituto Federal trazendo para dentro da sua instituição os movimentos sociais. Aqui estão presentes os tabajaras, os quilombolas, o movimento sem teto, de várias ocupações, está aqui presente e onde a gente está recebendo uma qualificação intensiva para a gente dominar essas técnicas, são técnicas de construção sustentáveis, tanto no sentido econômico, porque são de baixo custo – o que normalmente ajuda a população de baixa renda como é o caso das ocupações - como também do ponto de vista ambiental. Em tempos de negação das políticas públicas de moradia, que você tem um processo em que praticamente a Minha Casa, Minha Vida foi destruído, há uma tendência que a gente se volte para processos de uma autonomia em relação à construção, então a gente já está buscando, nesse sentido, identificar a partir da universidade, do IFPB, quais são esses setores que têm condições, capacidade técnica para garantir que os movimentos possam dominar essas técnicas", declarou Gleyson Ricardo, militante do MTD.
 

Edição: Heloisa de Sousa