DISPUTA

Eleições na Argentina devem colocar fim à era neoliberal de Macri

Nas pesquisas realizadas nas últimas semanas, seu opositor, Fernández, aparece com 22 pontos percentuais de vantagem

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Fernández, cabeça na chapa peronista com Kirchner, chega ao dia de votação com grandes chances de abrir 10 pontos de diferença sobre o rival
Fernández, cabeça na chapa peronista com Kirchner, chega ao dia de votação com grandes chances de abrir 10 pontos de diferença sobre o rival - Reprodução

Milhares de argentinos vão às urnas neste domingo (27/10) para participar das eleições presidenciais que devem colocar fim ao governo neoliberal do atual presidente Mauricio Macri. Disparado nas pesquisas e vencedor inquestionável nas primárias, Alberto Fernández, cabeça na chapa peronista com a ex-mandatária Cristina Kirchner, chega ao dia de votação com grandes chances de abrir 10 pontos de diferença sobre o rival de direita e vencer o pleito no 1º turno - ou mesmo já conseguir 50% mais um dos votos.

Segundo pesquisas realizadas no país nas últimas semanas, Fernández aparece com 22 pontos percentuais de vantagem sobre Macri, mais que o dobro do necessário para uma vitória neste domingo. Outras pesquisas apontam para um resultado mais modesto de 17 pontos de diferença, o que de qualquer forma garantiria a eleição para o peronista, candidato na coalizão Frente de Todos.

A lei eleitoral da Argentina prevê vitória em primeiro turno se algum candidato alcance 50% mais um dos votos, ou se conquiste mais de 40% abrindo uma vantagem de 10 pontos percentuais do segundo colocado.

Se as pesquisas se concretizarem, Fernández e Kirchner alcançarão um resultado ainda maior do que o conquistado nas eleições primárias (PASO) realizadas em agosto. A contagem final das PASO deu à chapa de oposição 49,19% dos votos, contra 32,94% do presidente.

Crise

O quadro de caos econômico que marcou quase todo o mandato do direitista Mauricio Macri já indicava que sua reeleição não seria tarefa fácil. Entretanto, o presidente apostou - assim como em 2015 - nas críticas aos antigos governos de Néstor e Cristina Kirchner, condenando o que ele chama de "populismo" e se utilizando do "medo" da volta ao passado.

Entretanto, durante essa campanha, Macri não teve o trunfo das eleições passadas: os números de seu governo indicam um quadro de completa instabilidade financeira e social no país, tirando do mandatário o benefício do ineditismo no pleito.
Desde o início do governo macrista, 3,25 milhões de pessoas saíram da classe média para a classe baixa, mais de 9.000 pessoas por dia, o que representa seis novos pobres por minuto. O número de argentinos que estão abaixo da linha da pobreza também aumentou sob o comando de Macri, passando de 4,9% em 2015 para 7,7% em 2019. 

Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec), o número de pobres na Argentina alcançou 35,4% da população, o maior número em 10 anos, e deve chegar a 39% até o final de 2019 após anos de desvalorização do peso durante a gestão Macri.

No campo econômico, a desvalorização da moeda argentina, as altas no dólar e a inflação descontrolada foram fatores determinantes para a crise em que o país foi empurrado desde 2015. 

No primeiro ano completo de Macri como presidente da Argentina (2016), não houve dados oficiais sobre o aumento da inflação, mas em 2017 o índice já atingia 24,8% (4,8% a mais de inflação em comparação a 2015).

Em 2018, a inflação continuou sem controle e, somada a uma crise cambial em relação ao dólar e a um déficit comercial, o presidente recorreu a um empréstimo de US$ 57 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em contrapartida, teve que realizar um forte corte nos gastos sociais.

Não demorou para os efeitos da política econômica macrista afetarem diretamente os lares da maioria das famílias argentinas. Frente ao agravamento da crise com o passar dos anos, a população argentina começou a manifestar seu descontentamento não só durante manifestações convocadas por movimentos populares, mas também em saídas de shows, teatro e jogos de futebol.

Segundo dados do governo de Buenos Aires, a cesta básica - que compreende itens básicos de alimentação e serviços não alimentares como transporte e roupas - aumentou 57,6% entre 2018 e 2019 na capital do país. Outro item essencial, o gás, acumulou um aumento de 226,5% entre 2015 e 2019, passando de 97 pesos para 316 pesos.

A renda dos argentinos ainda sofreu diversos ataques durante esse período de crise. De junho de 2018 a junho de 2019, a Argentina perdeu 14 mil empregos por mês, 3 mil por semana, 478 por dia, 40 por hora e um a cada 90 segundos, apontou um estudo da Universidade Nacional de Avellaneda. A taxa de desemprego no país latino-americano chegou, no segundo semestre de 2019, a 10,6%. Desde 2006, o índice de desemprego não atingia tal marca.

PASO, moratória e mais inflação


Após a vitória da chapa oposicionista formada por Alberto Fernández e pela ex-presidente Cristina Kirchner nas eleições primárias realizadas em agosto, os mercados "se vingaram" de Mauricio Macri e o dólar no país disparou, chegando a subir mais de 33% um dia depois da votação. Dias depois, o governo de Macri, que chegou a culpar a vitória de Fernández pela crise, declarou moratória.

A inflação continuou a subir e atingiu o índice mais alto do ano neste mês de setembro. Segundo dados do Indec, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) acumulou uma alta de 37,7% desde o início de 2019. Já em 12 meses, o aumento foi de 53,5%.

O IPC de setembro já configura também em um dos mais altos índices da gestão Macri, ficando atrás apenas das cifras de setembro de 2018, que chegou em 6,5%, e abril de 2016, quando a inflação fechou em 6,7%. De acordo com o jornal Clarín, a inflação anual pode fechar entre 55% e 57%, cifra recorde nos últimos trinta anos.

Edição: Opera Mundi