Memória

Metalúrgicos de SP fazem ato em memória de Santo Dias, morto há 40 anos pela ditadura

Trabalhador foi morto por um policial militar quando participava de um piquete de greve, em 1979

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cortejo fúnebre, em 31 de outubro de 1979, foi marcado por manifestações contra a ditadura
Cortejo fúnebre, em 31 de outubro de 1979, foi marcado por manifestações contra a ditadura - Arquivo IEA/USP

Representantes de dez centrais sindicais e de movimentos populares realizaram na tarde desta segunda-feira (28), no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, um ato em memória do metalúrgico Santo Dias da Silva, assassinado há 40 anos pela ditadura militar. O trabalhador foi atingido por um tiro, disparado por um policial militar, em 30 de outubro de 1979, durante um piquete de greve na fábrica Sylvania em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo (SP).

A morte de Santo Dias virou um símbolo da luta pelos direitos trabalhistas e contra a ditadura. Quarenta anos depois, o legado de Santo Dias foi lembrado por trabalhadores que seguem em resistência contra os retrocessos de direitos promovidos pelos governos Temer (MDB) e Bolsonaro (PSL).

"Mais de 400 trabalhadores foram mortos pela ditadura. Se somar os sem-terra e os indígenas, são mais de 2 mil. Eu não imaginava que isso pudesse voltar. Temos que chamar atenção para o que está acontecendo no Brasil novamente. É o desmonte da legislação trabalhista", disse Sérgio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

"Santo Dias era o único negro no piquete. A polícia chegou e dispersou os trabalhadores. Todos correram. Um policial me deu uma rasteira e cai no chão. Ouvi um tiro. Era o meu amigo sendo assassinado", relatou ex-metalúgico Vicente Garcia.

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Santo Dias, assassinado durante um piquete | Foto: arquivo

Filho de lavradores, Santo Dias era uma referência não só no movimento sindical, mas também da pastoral operária da Igreja Católica, e frequentou como leigo reuniões da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

No dia seguinte à morte do metalúrgico, uma passeata com 30 mil pessoas saiu da zona oeste até a praça da Sé, na região central, com uma faixa negra de luto e palavras de ordem contra a ditadura e a repressão policial. 

"É um momento de se inspirar em Santo Dias e manter a luta. Não abrir mão dos direitos e lembrar que 13º salário, por férias, por participação nos lucros e outros benefícios foram conquistados com a morte e a resistência dos trabalhadores", disse João Carlos Juruna, secretário-geral da Força Sindical. 

Ana Dias, viúva de Santo, enviou uma nota aos participantes do ato e afirmou: "A luta continua". Ela ajudou a organizar as atividades do Comitê Santo Dias, em homenagem ao seu companheiro, entre elas o relançamento do livro "Santo Dias, quando o passado se transforma em luta", pela Expressão Popular e pela Perseu Abramo, escrito por Jô Azevedo, Luciana Dias e Nair Benedicto. O metalúrgico também é lembrado no álbum "Santo Dias", do grupo Arribação, que conta com um depoimento da viúva. 

Edição: Daniel Giovanaz