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Círculo de Experiências Periféricas leva Paulo Freire para periferia de SP

No Capão Redondo, educadores e ativistas culturais debateram a pedagogia crítica e sua aplicação nos territórios

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O bairro ainda é um dos mais violentos de São Paulo, mas iniciativas como o CDHEP têm transformado a realidade na quebrada
O bairro ainda é um dos mais violentos de São Paulo, mas iniciativas como o CDHEP têm transformado a realidade na quebrada - José Eduardo Bernardes

Em setembro passado, mais precisamente no dia 19, Paulo Freire teria completado 97 anos. Falecido em 1997, aos 75 anos, o educador deixou um legado que continua a guiar os caminhos da educação popular. No extremo sul de São Paulo, no bairro do Capão Redondo, um evento lembra suas práticas e as leva para a realidade da quebrada.

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O Círculo de Experiências Periféricas, organizado pelo Centro de Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP) -- realizado na última quinta (31), sexta-feira (1º) e sábado (2) -- resgatou o mote “Paulo Freire Vive”. 

Educadores das periferias de São Paulo compartilharam experiências e apontaram caminhos para a educação popular a partir das ideias da pedagogia crítica freiriana. 

A coordenadora do CDHEP, Mariana Pasqual Marques, lembra que esse é o momento de retomar Paulo Freire como referência para as práticas de educação popular. O pedagogo é um dos principais nomes da lista de inimigos do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) e sua ala reacionária, que o acusa de ser mentor de uma “cartilha ideológica marxista” nas escolas brasileiras. 

“A gente pega o Paulo Freire como um ícone da esquerda e da resistência brasileira às barbaridades que estão acontecendo e como a gente está vivendo tudo isso”, diz Marques.

Sérgio Haddad, professor da Universidade de São Paulo (USP) e escritor da obra “O educador: um perfil de Paulo Freire”, foi um dos participantes do evento e afirmou que o método freiriano implica aproximar educação e política.

“É político no sentido dos seus objetivos, portanto qualquer escola pode estabelecer como metas objetivos de natureza política. Você vai formar cidadãos e cidadãs para quê? Para o mercado de trabalho, para a competição? Ou você vai trabalhar no processo formativo, educacional, para desenvolver uma consciência comunitária, que respeita os direitos humanos?”, indaga. 

Experiências Periféricas

O bairro do Capão Redondo ainda é um dos mais violentos de São Paulo. Mas iniciativas como o CDHEP têm transformado a realidade do território. O órgão é um dos centros mais importantes da prática de Justiça Restaurativa -- que preza pelo diálogo para solução de conflitos - e tem canalizado a produção de atividades culturais do Capão. 

A educação é ponta de lança dessa revolução territorial. Para o educador Pedro Pontual, presidente honorário do Conselho de Educação Popular da América Latina, “as práticas que já existem no território da comunidade, quando elas passam a ser pensadas como práticas educativas, ela se potencializam, elas ganham uma outra dimensão”.

A professora Ednéia Gonçalves destaca que para se produzir conhecimento é necessário reconhecer o território como local educador. E a escola, os professores, não podem se desvincular da região que habitam.

“Você pensar que a escola, o ambiente de educação, ele não é um disco voador que pousa em um lugar, mas que ele faz parte, ele se alimenta das culturas daquele lugar, é que vai propiciar essa articulação de saberes”, argumenta. 

Edição: Rodrigo Chagas