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Com a vitória do Lula Livre quais os próximos passos?

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Ex-presidente Lula discursa em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP)
Ex-presidente Lula discursa em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) - Pedro Stropasolas/Brasil de Fato
É nossa tarefa constituir frentes amplas em defesa da democracia

Com a palavra de ordem “Lula Livre” materializada, o “homi” agora anda livremente e fala ao povo. Com isso, começamos da corrigir uma grande injustiça contra a dignidade do presidente Lula e mais um elemento que demonstra o caráter fraudulento da sua prisão.

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A liberdade de Lula abre uma nova etapa na luta política no Brasil. Ter a capacidade de explorar as oportunidades que surgem com esse novo fato é fundamental para sairmos do isolamento e ampliarmos o movimento de resistência!

A prisão de Lula foi uma grande farsa orquestrada para inviabilizar sua vitória eleitoral em 2018, como apontavam as pesquisas que o colocavam em primeiro lugar. Por isso, além de ser um atentado à dignidade da pessoa humana, também se trata de um ataque frontal à nossa democracia, pois, com o impedimento do candidato preferido da maioria do povo, abriu-se caminho para a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro com um programa de desmonte do Estado e retirada de direitos, na contramão dos interesses da população.

A liberdade de Lula contribui para revelar essa farsa e a inconstitucionalidade de sua prisão desde abril de 2018, não apenas a partir da semana passada quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decide declarar constitucional o texto explícito da Constituição Federal. O próximo passo nessa luta é a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, a ser votada em breve pelo STF, que pode concluir por sua parcialidade e resultar em nulidade do processo contra Lula.

Lembrando que Moro cometeu diversas irregularidades durante o processo, desde a condução coercitiva de Lula sem prévia comunicação e com espetáculo midiático, a condenação com fundamentação genérica, além do conluio ilegal entre o juiz e o procurador Deltan Dalagnol, demonstrado pelas conversas vazadas pelo Intercept. Temos ainda a cereja do bolo com a premiação de Moro como Ministro da Justiça pelo presidente Jair Bolsonaro após ter condenado e impedido seu principal adversário de concorrer às eleições. Ou seja, não faltam motivos legais para que o processo seja anulado por parcialidade do juiz.

O que mais importa nesse momento é que a liberdade de Lula representa uma derrota para eles, para a operação Lava Jato, e uma vitória nossa, dos setores populares! Uma combinação de fatores levaram a essa vitória: a rápida queda de popularidade do governo Bolsonaro; a diminuição da legitimidade de Moro/Lava-jato diante dos vazamentos do Intercept; a disputa intraburguesa, entre fascistas e liberais; a unanimidade internacional no entendimento de que a prisão de Lula era política e ilegal; a militância ter ecoado a bandeira “Lula Livre” nas lutas, ruas, festivais, disputando o conjunto dos setores democráticos a se posicionar contra essa prisão arbitrária; dentre outras questões que não pretendo aprofundar nesse artigo.

É importante destacar o papel do comitê Lula Livre, que possibilitou a ampliação e a unificação da campanha com diversos setores da sociedade e campos políticos. Nesse espaço, reunimos organizações das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, juristas, intelectuais e ativistas independentes que estavam dispostos a dedicar energias na disputa ideológica sobre o caráter político da prisão de Lula e na luta pela sua liberdade. Cabe ressaltar a importância dessa unidade para avançar mais um passo, devolvendo a ele seus plenos direitos políticos, a atual tarefa do comitê.

No entanto, essa vitória por si só não altera a situação desfavorável para a classe trabalhadora, apenas abre uma nova etapa na luta política em que as forças de esquerda terão melhores oportunidades para se reorganizar. Cabe a nós saber explorar ao máximo essa janela.

Com Lula livre, temos ao nosso lado o potencial da maior liderança popular, capaz de dialogar com a população para combater o programa econômico do governo Bolsonaro. É nossa tarefa constituir frentes amplas em defesa da democracia que tenham a capacidade de enfraquecer o bolsonarismo na sociedade e organizar a luta com o máximo de unidade em defesa da soberania e dos direitos sociais que estão sendo atacados.

É necessário dialogar com o povo brasileiro com o intuito de revelar os objetivos do golpe, relacionando a piora das condições de vida da população com o programa que está sendo implementado. É hora de investir todas as forças na organização da indignação popular, em um contexto de altos índices de desemprego, crescente miséria e desmonte dos serviços públicos. Por fim, devemos intensificar a disputa ideológica em torno do projeto de país democrático e popular que defendemos, além de ampliar o trabalho de base que nos permite reorganizar e recompor as forças no seio da classe trabalhadora.

 

Edição: Julia Chequer