Paraná

Genocídio de povos indígenas

Indígenas cobram justiça por mais um assassinato no Paraná e relatam ameaças

Corpo de Demilson Mendes, de 28 anos, foi encontrado em meio a uma plantação de soja. Ele foi morto a pauladas e pedrada

Curitiba (PR) |
Faixa estendida na plantação em que o corpo de Demilson Mendes foi encontrado
Faixa estendida na plantação em que o corpo de Demilson Mendes foi encontrado - Divulgação

Um indígena do povo Avá-Guarani foi assassinado no município de Guaíra, no Oeste do Paraná. O corpo de Demilson Olevar Mendes, de 28 anos, foi encontrado na última quinta-feira (14), em uma plantação de soja, a cinco quilômetros do Tekoha Jevy, onde vivia com a mãe e irmãos. A aldeia é uma das 14 áreas em processo de estudo que aguardam regularização e demarcação entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa.

Segundo informações de familiares de Mendes, a vítima vinha recebendo ameaças de moradores de Guaíra que estariam o acusando de furto de uma bicicleta. A acusação é contestada pelos familiares, uma vez que, por ter um problema físico, Mendes só conseguia andar com muletas e sua bicicleta era adaptada para seu problema. Segundo Analito Ortiz, uma das lideranças do Tekoha Jevy, Mendes foi visto pela última vez em um bar, na quinta-feira (14), por volta das 17h. Lá, ele teria sido abordado por dois rapazes que estavam em uma moto. Cerca de três horas depois, seu corpo foi encontrado em meio a plantação.

Em razão morte do rapaz, um grupo de indígenas da aldeia instalou uma barraca com uma faixa pedindo justiça pelo assassinato, no local onde o cadáver foi encontrado. A manifestação dos Avá-Guarani teve uma retaliação imediata. Os indígenas acusam o fazendeiro que arrendou a área de ameaçar os Guarani e colocar fogo na faixa e na barraca instalada na plantação.

Ainda conforme os indígenas, o fazendeiro teria apontado uma arma para duas pessoas que estavam no local. O fato foi registrado em boletim de ocorrência. A morte de Demilson Olevar Mendes está sendo investigada pela Polícia Civil. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul também acompanham o caso.

Morosidade acirra violência

O assassinato de mais um indígena no Paraná evidencia o principal problema encontrado pelas comunidades tradicionais no estado: a morosidade na regularização de terras. Existem 40 áreas na mesma situação que o Tekoha Jevy no Paraná, sendo 14 delas somente nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. Atualmente, são 17 terras demarcadas no estado, onde habitam cerca de 10 mil indígenas divididos em três povos: Guarani, Kaigang e Xetá.

Diferentes dos povos do norte do país, que sofrem com a invasão de suas terras já demarcadas, os indígenas no sul do país vivem em pequenas áreas degradadas, sem condições mínimas de estrutura, saneamento básico, água potável e muitos deles em estado de fome e sem perspectivas de futuro. São pequenos aldeamentos ou ocupações em margens de fazendas ou beiras de estradas.

Edição: Lia Bianchini