São Paulo

Investigações sobre massacre de Paraisópolis começam em meio a elogios de Doria à PM

Nove pessoas morreram outras 12 seguem hospitalizadas após ação da polícia em baile funk em São Paulo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Moradores de Paraisópolis se manifestam contra ação da PM
Moradores de Paraisópolis se manifestam contra ação da PM - Foto: Mídia Ninja

Na madrugada deste domingo (1º), nove pessoas morreram pisoteadas após a Polícia Militar de São Paulo encurralar uma multidão em uma viela de Paraisópolis, favela da zona sul da cidade. A investigação sobre o massacre foi aberta pela PM, com um inquérito militar registrado no 89º Distrito Policial, Jardim Taboão, região sudoeste paulistana.

O ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Benedito Mariano, no entanto, afirmou que vai solicitar que a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo se responsabilize pela investigação interna da ação dos agentes de segurança. "Já telefonei ao corregedor da PM, o coronel Marcelino Fernandes, para que seja a Corregedoria responsável pela investigação e não o batalhão onde atuam os policiais militares envolvidos neste caso gravíssimo", afirmou Mariano ao portal UOL.

Quando há morte em ação da Polícia Militar, tanto a Polícia Civil quanto a Corregedoria da PM são obrigadas a instaurar inquérito. Por isso, até o momento há duas investigações paralelas: uma que está entre a Corregedoria e a PM e outra na Polícia Civil.

O governador João Doria (PSDB) também se manifestou sobre o ocorrido. Em sua conta no Twitter, lamentou “profundamente” as perdas. “Determinei ao Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração rigorosa dos fatos para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio.” Duas horas depois, ele elogiou a política de segurança do estado: "hoje, São Paulo tem uma polícia preparada, equipada e bem informada".

Em coletiva de imprensa, o delegado Emiliano da Silva Neto, do 89º DP, defendeu que “tudo o que ocorreu foi uma fatalidade por causa do problema do Pancadão”. Em uma rede social, coordenador do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe-SP), Ariel De Castro Alves, criticou a fala do delegado: “a investigação será tão rigorosa que o delegado do caso já até se antecipou, concluindo que foi fatalidade e não houve excesso dos policiais. (...) Podemos ver que as apurações começaram de forma isenta e imparcial”.

Os deputados estaduais do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em São Paulo solicitarão na Assembleia Legislativa de São Paulo explicações ao governador. “Há meses a Polícia Militar têm atacado os bailes funk, com apreensão de motos, carros e detenção de jovens, numa clara atuação preconceituosa e de marginalização da juventude negra periférica. Há cerca de um mês uma jovem perdeu a visão de um olho, alvejado com bala de borracha numa ação policial de opressão à baile funk”, afirmaram os petistas em nota. A deputada federal Sâmia Bomfim afirmou em suas redes sociais que seu mandato vai acionar o Ministério Público e cobrar explicações à PM.

 

Relembre o caso

Na madrugada do último domingo, uma perseguição policial terminou em um dos maiores bailes funk da cidade, o Baile da 17, em Paraisópolis, que recebe em média cinco mil pessoas. De acordo com relatos de moradores, os agentes invadiram o local atirando, o que deixou pelo menos 20 pessoas feridas e 12 hospitalizadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
Durante a ação, um grupo grande de pessoas foi espancado e encurralado em uma viela, deixando 10 pessoas mortas por pisoteamento, como vídeos divulgado pela Ponte Jornalismo. A PM nega.

Em uma coletiva na tarde de domingo (1), o porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Masseira, disse que as imagens divulgadas nas redes sociais sobre a ação dos policiais “sugerem excessos”. "Todas as imagens estão incluídas no inquérito policial militar para ser analisadas. (...) O rigor da apuração vai responsabilizar quem eventualmente cometeu algum excesso, algum abuso", acrescentou.

 

Edição: Julia Chequer