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Em Manguinhos, no Rio, 80% dos moradores afirmam ter saúde afetada pela violência

O ser humano não foi feito para viver o que a gente vive na PM do Rio

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Cerca de 50% dos 1.320 militares do estado afastados por problema de saúde tiveram diagnóstico de estresse pós-traumático
Cerca de 50% dos 1.320 militares do estado afastados por problema de saúde tiveram diagnóstico de estresse pós-traumático - Reprodução
O ser humano não foi feito para viver o que a gente vive na PM do Rio

No Repórter SUS – programa produzido em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz (EPSJV/Fiocruz) – desta semana, Leonardo Bueno, pesquisador da Cooperação Social da Presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), falou sobre a Cartilha de Prevenção à Violência Armada em Manguinhos.

O material elaborado pela Fundação é destinado ao uso do moradores e profissionais do território, na zona norte do Rio de Janeiro, e aborda o impacto da violência armada na saúde física e mental da população que vive e frequenta a região.

Uma das orientações da cartilha está centrada na necessidade da população registrar as consequências psíquicas.

Segundo pesquisa divulgada junto ao documento, 80% dos moradores consultados afirmaram que a violência armada afeta a saúde deles ou de pessoas próximas. Quanto aos agentes de segurança, em 2018, cerca de 50% dos 1.320 militares do estado que se afastaram por problema de saúde tiveram diagnóstico de estresse pós-traumático.

A cartilha também reúne depoimentos de moradores e policiais que vivem ou trabalham no local. “Temos de três a quatro afastamentos psiquiátricos por dia, de uma forma resumida. O ser humano não foi feito para viver o que a gente vive na PM do Rio”, afirmou o Coronel Cajueiro, presidente da Comissão de Análise da Vitimização Policial da PM.

Durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, entre fevereiro e dezembro de 2018, os 33 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) cariocas atenderam mensalmente, em média, quinze mil pacientes. O número é de 3 mil enfermos a mais do que o mesmo período no ano anterior.

“Quando minha avó passa mal, aí a gente fica nervoso querendo levar ela para hospital, mas não dá porque tá dando muito tiro. Isso é problema grande pra minha avó e para toda a família”, afirma M.S., de 18 anos, morador do Complexo de Manguinhos.

“A cartilha pretende orientar uma campanha que produza efeitos não só a fim de reduzir a violência armada, mas também para mitigar os seus impactos saúde de todos os profissionais e moradores desse território de Manguinhos”, afirmou Bueno.

A Fiocruz espera que a cartilha, que também foi uma demanda dos moradores de organizações comunitárias e movimentos sociais, faça as pessoas repensarem o modelo de segurança pública.

“São iniciativas assim que consideramos relevantes para se pensar em um no modelo de segurança pública. Um que dialogue com os princípios de saúde, acolhimento, cuidado e da defesa de garantia à vida. Avançar [na segurança pública] do Rio de Janeiro pode servir para um problema nacional também, que tem impacto na saúde da população, que é a violência por uso de arma de fogo”, termina.

Para acessar a cartilha, clique aqui.
 

Edição: Rodrigo Chagas