Pernambuco

Memória

Nossa homenagem à companheira Paula Adissi

Militante na Paraíba, Paula se formou em jornalismo e esteve à frente do Brasil de Fato PB

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Paula integrou a Consulta Popular e a Marcha Mundial das Mulheres.
Paula integrou a Consulta Popular e a Marcha Mundial das Mulheres. - Marcos Barbosa/Brasil de Fato PE

No dia que marca os 108 anos de nascimento do comunista baiano Carlos Marighella, a esquerda se despede da militante feminista e popular Paula Adissi, aos 37 anos. Paula faleceu na madrugada desta quinta-feira (05) em decorrência do agravamento do câncer de colo do útero.
Nascida no estado da Paraíba, em 1º de junho de 1982, juntamente à sua irmã gêmea Joana, Paula dedicou a vida à luta popular em seu estado desde o ensino básico, quando participou do movimento estudantil secundarista. Anos depois, durante a graduação em jornalismo, se aproximou bastante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fazendo parte de um coletivo que prestava assessoria ao movimento. A partir dessa relação, foi que ela esteve em 2001 da primeira turma do Curso Realidade Brasileira (CRB) em Juíz de Fora (MG) e passou a integrar posteriormente Consulta Popular e a Marcha Mundial das Mulheres. 
Jornalista de formação, durante muitos anos da vida não exerceu a profissão mas nos últimos três anos passou a compor a equipe do Brasil de Fato Paraíba, sendo editora geral do jornal. No início de 2018, Paula descobriu que estava doente, mas esteve, até enquanto o corpo conseguiu, presente dos espaços de militância e no acompanhamento do jornal.
Conhecida pela mística, não somente àquelas que fazia mas a presente nas suas falas e escritas, Paula era um exemplo e inspiração para todas as pessoas que conviveram com ela. Nas redes sociais, os amigos e amigas se despedem com mensagens que lembram sua força, alegria, criatividade e amor ao povo.
Na manhã de hoje, ocorreu a celebração litúrgica na Paróquia Santa Catarina no município do Conde. À tarde, o enterro acontecerá às 15:30h no cemitério Parque das Árvores. Paula se vai deixando dois filhos e muita saudade.
Abaixo, a poesia que Paula escreveu em 2010, que retrata um pouco da sua caminhada de luta e sonhos:

Ter companheiros

Ter companheiros
é como ter vida longa
vida eterna.
É saber que mesmo depois da morte
poderemos permanecer vivos
como os guerrilheiros cubanos,
os bolcheviques, e os integrantes de Palmares..

Ter companheiros
é a única e melhor coisa
que mesmo nesse mundo cão
que expropria tudo
e todas as felicidades,
podemos ter como maior tesouro

Ter companheiros
é como antecipar o futuro
e ver no presente
as relações humanas
da nova sociedade

Ter companheiros
é deixar de ser um só.
É passar a fazer parte
das fileiras históricas
de seres humanos
que passaram a vida
na batalha

Ter companheiros
é ver-se no outro
e o outro ver-se em ti

Ter companheiros
é ter iguais:
iguais nos sonhos
iguais nas alegrias
nas músicas, nos copos, nos choros,
nas palavras gritadas ao vento
e nos punhos erguidos
 
Iguais nos olhos
nas bandeiras,
no destino.

Ter companheiros
é estar mais perto da revolução
É sentir na voz deles,
em suas mãos, pés e pensamentos
na vida que eles dedicam,
o dia que viraremos esse mundo
e remontaremos nas melhores formas,
nas mais lindas cores e ao som da mais belas musicas,
e a poesia deixará de existir
pois estará em toda parte.

Paula Adissi, 11 de maio de 2010

Edição: Marcos Barbosa