Rio de Janeiro

PRIVATIZAÇÕES

“Comprar estatal sem autorização da população é crime”, diz Roberto Requião

Ex-senador discursou durante lançamento da Frente Estadual em Defesa da Soberania Nacional na ABI, no Rio de Janeiro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Diversas entidades sindicais, movimentos populares e parlamentares participaram de ato na ABI, no centro do Rio
Diversas entidades sindicais, movimentos populares e parlamentares participaram de ato na ABI, no centro do Rio - Eduardo Miranda

No ato de lançamento da Frente Estadual em Defesa da Soberania Nacional, do Desenvolvimento e da Petrobras, na última quinta-feira (12), no Rio de Janeiro, o ex-senador Roberto Requião (MDB) disse que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não tem autorização da população para vender a riqueza do país e que as empresas que estão comprando as estatais devem estar alertas para o futuro do país sob uma nova gestão.

“Devemos dizer aos que estão comprando hoje que, se compram de um governo que não teve autorização popular para isso, estão cometendo crime de receptação, de mercadoria roubada que será devolvida ao país mais cedo ou mais tarde. Getúlio Vargas fez isso lá atrás, nacionalizou o subsolo e, numa pernada só, liquidou com todas as concessões estabelecidas até então”, afirmou o Requião, que é presidente de honra da Frente Nacional.

A Frente, que teve seu manifesto lido na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro, é integrada por movimentos populares, parlamentares e entidades sindicais. Seu objetivo é unir forças para impedir a privatização das estatais pelo governo federal. 

Durante o ato, diversos integrantes da mesa lembraram que a maioria da população não apoia a venda pelo governo federal de empresas estatais como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, Casa da Moeda, Eletrobras, BNDES, Embrapa, Correios, entre outras. Na última pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, em setembro deste ano, 67% dos entrevistados se colocaram contra as privatizações.

Diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, lembrou que em 2018 a estatal importou mais de 37 bilhões de dólares em diesel dos Estados Unidos. Segundo ele, isso se deve ao fato de a Petrobras estar na contramão de todas as empresas do setor no mundo se tornando exportadora apenas de petróleo cru.

“Bolsonaro e seu lacaio, Roberto Castello Branco [presidente da Petrobras], se dizem contra a estatização, mas ajudam estatais estrangeiras a comprarem ativos da Petrobras. Eles se dizem contra a integração da Petrobras, mas ajudam a Shell e a Total a integrarem sua cadeia comprando ativos do sistema Petrobras aqui do Brasil. Se dizem contra o monopólio estatal do petróleo no país, mas criam o oligopólio nacional e monopólios regionais com empresas privadas”, criticou Bacelar.

Para o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, a privatização de praticamente todos os setores produtivos do Brasil vai jogar o país em um caos social. Segundo ele, a crise que se abate sobre a nação já há alguns anos e gera lucro exorbitantes para o mercado financeiro faz com que o governo atual não tenha no radar a geração de emprego e renda.

“Estão destruindo as empresas para que reste aos brasileiros apenas as atividades que não podem vir de fora: segurança, transporte e alimentação. Isso significa voltar ao período colonial, destruir a coesão social. Um país de 200 milhões de habitantes só se manterá coeso se houver uma proposta de desenvolvimento que implique geração de empregos e renda, esperança para a juventude, redução das absurdas desigualdades sociais que temos. Por isso, a Frente terá uma atividade primordial de defender este patrimônio que está sendo destruído, porque é ele que possibilitará a retomada do desenvolvimento”, pregou Celestino.

Também participaram do lançamento da Frente Estadual o ex-diretor da Petrobras e geólogo Guilherme Estrella, conhecido como "pai do pré-sal", os deputados Waldeck Carneiro (PT), que preside na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval, o deputado Glauber Braga (Psol), além de outros dirigentes, sindicalistas e políticos.

Edição: Mariana Pitasse