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Mar, rio, dunas e manguezais: conheça o assentamento Barra das Moitas, no Ceará

O turismo comunitário tem sido uma opção para o geração de renda na região.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Das possibilidades de lazer local, o barqueiro e agricultor Pedro Sousa Neto, fala que os passeios de barco são um dos mais procurados.
Das possibilidades de lazer local, o barqueiro e agricultor Pedro Sousa Neto, fala que os passeios de barco são um dos mais procurados. - Fotos: Celso Aquino

Situada no litoral oeste do Ceará, a aproximadamente 200 km de Fortaleza, a comunidade de Barra das Moitas, chama atenção por suas belezas naturais. Vizinha da conhecida praia de Icaraí de Amontada, tem como sede administrativa a cidade de Amontada. O rio Aracatiaçu, e seus diversos locais para banho, o mar e o encontro dos dois são o centro da paisagem do lugar. Além do mar e do rio, ainda há dunas, coqueirais e maguenzais preservados. Favorecida com tantos encantos, o turismo tem sido uma opção para o geração de renda na região, onde a própria comunidade é responsável por vários serviços prestados.

Além de trabalhar com agricultura e pesca, desde 2015 algumas famílias do assentamento Barra de Moitas começaram a ofertar serviços para os turistas, e assim o turismo de base comunitária começou a fazer parte do cotidiano do assentamento. Segundo a presidenta da Associação dos Moradores de Barra das Moitas, Liduína Ribeiro dos Santos, o turismo ofertado pela comunidade é de boa qualidade, sempre respeitando o meio ambiente, proporcionando emprego e renda para os moradores do assentamento e com preços bem abaixo dos praticados na região.

No chamado turismo comunitário, a comunidade é gere os empreendimentos turísticos e há um cuidado em reduzir o impacto ambiental fortalecendo ações de preservação da natureza. Segundo documento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), alguns dos princípios desse modo de fazer turismo são a conservação da biodiversidade, valorização da história e da cultura da comunidade, protagonismo comunitário, equidade social, partilha cultural e complementaridade a outras atividades econômicas.

De acordo com Liduína Ribeiro, a procura por acomodação é alta, a casa da moradora, que fica a poucos metros da beira do rio, já chegou a receber ao mesmo tempo, 27 estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) que estavam em atividade acadêmica na região. Além dela, algumas outras pessoas do assentamento também já oferecem quartos para hospedagem. As famílias também ofertam café da manhã típico da região, tapioca de coco, queijo e sucos de frutas da região fazem parte do cardápio, tudo incluso no preço que varia entre 100 reais a 200 reais.

Das possibilidades de lazer local, o barqueiro e agricultor Pedro Sousa Neto, fala que os passeios de barco pelo Rio Aracatiaçu são um dos mais procurados. Ainda segundo ele, os principais pontos de visitação são os mangues da região, que eventualmente formam túneis em que a embarcação passa, a Ilha das Ostras, as várias dunas com contemplação do entardecer e pôr do sol e encontro do rio com o mar, são várias as paisagens que o visitante tem para desfrutar. Na comunidade já são mais de 20 famílias que trabalham com esse tipo de opção de lazer, quase todas com barco próprio. O preço por indivíduo gira em torno de 50 reais, e o passeio dura cerca de duas pessoas. “Eu cheguei em Barra das Moitas por indicação de uma amiga, mas quando a gente vai pesquisar na internet a gente acha muitas referências bonitas, muita gente que frequenta o lugar, e que gosta ... tomar banho de rio, tomar banho de mar, com um preço bem em conta, a impressão foi muito boa, tanto que eu voltei.", conta Catarina de Angola, jornalista e residente em Recife, que já foi duas vezes à passeio em Barra das Moitas. Ainda segundo Catarina, a forma do turismo comunitária a agradou "motiva a gente saber que estamos praticando turismo, mas que as pessoas do próprio lugar estão ganhando com isso".

Nos planos de futuro, Neto acredita no investimento de uma rede de turismo comunitário que combine turismo e preservação ambiental, "queremos que as pessoas venham e vejam a natureza, o mangue, as praias, as dunas e respeitem". Ainda de acordo com ele, há uma preocupação especial com as dunas, já que algumas já foram desfeitas pela ação humana, e com o uso de grandes motores nos barcos, que interferem na vida do mangue.

Há também que salientar, a importância do turismo comunitário na geração de renda. Segundo Neto, a renda familiar aumentou em aproximadamente 40% desde que começaram a trabalhar com o turismo. Além do trabalho direto com o turismo, a produção de comida sem uso de agrotóxico também é vendida para donos de pousadas e restaurantes da região. A cadeia do turismo em menor escala, com responsabilidade socioambiental, além de impactar positivamente a economia local, é fundamental na preservação da natureza na região.

A região, que além da Barra das Moitas conta com as praias de Icaraí e de Caetanos, é conhecida internacionalmente pela beleza e por ser um dos melhores locais para prática de kitesurf do mundo. Frequentadas por muitos turistas brasileiros e estrangeiros, as praias com o passar dos anos foram tomadas por vários empreendimentos de grande porte, que ajudaram a elevar o preço médio dos serviços na localidade.

História de Luta

Além da beleza natural, há também muita história de lutas e conquistas no território que hoje é o assentamento Barra das Moitas. A terra ocupada desde os anos 1940, teve uma grande conflito em 1993, quando um suposto dono da propriedade apareceu e vendeu a área. Na época a fazenda abrigava quase 60 famílias que viviam da agricultura e pesca.

Segundo o dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Moisés Moura, as Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Diocese de Itapipoca contribuíram no processo de luta da comunidade. Ainda de acordo com Moura, "desde que o MST começou a participar da reivindicação pela terra, até os dias atuais, nunca abandonamos a luta da comunidade. Em 2015 conseguimos conquistar uma parte de terra pra comunidade, de 258 hectares, onde as famílias vivem de forma digna".

O deputado estadual Elmano de Freitas (PT) que à época era advogado da comunidade destaca, "foi muito importante a união das famílias, nós tínhamos quase todas as famílias de Barra das Moitas envolvidas no processo. Graças à mobilização da comunidade, da força do MST, dos nossos amigos, nós conseguimos que o então governo estadual de Tasso Jereissati (PSDB) desapropriasse a terra, mas somente agora no governo Camilo Santana (PT), nós tivemos a regularização da terra". Ainda segundo Freitas, "a união e a perseverança, das famílias, em uma só luta é o que permite essas conquistas".

Neto conta que a vida melhorou bastante no assentamento com o tempo, "primeiro veio a luz, as casas ainda eram de taipa, mas hoje todas as casas são de alvenaria" ainda segundo ele, "se todo mundo soubesse o que é um assentamento, se se ajudassem ia ser o local perfeito, todo mundo se ajudou a ganhar a terra aqui, temos que continuar nos ajudando".

Edição: Monyse Ravena