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Os donos do capital não estão nem aí para a Cúpula do Clima

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São as grandes corporações que precisam mudar ou ser mudadas. Os governos estão impotentes. A política está impotente
São as grandes corporações que precisam mudar ou ser mudadas. Os governos estão impotentes. A política está impotente - Miguel Schincariol/AFP
Por trás dos fracassos das conferências do clima está a lógica do capitalismo

Os líderes políticos do mundo não estão levando a sério aquela velha expressão, “aprender com os próprios erros”. É o que mostra os resultados da 25ª edição da Conferência do Clima, que reuniu quase 200 países em Madri, na Espanha. O documento final limita-se a transferir, para 2020, o principal mote da atual conferência: “compromissos mais ambiciosos para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa”.

As conferências do clima têm a incrível capacidade de adiar o inadiável: reduzir as emissões e estancar o aumento da temperatura global.

A vida humana será riscada do mapa caso as emissões não sejam controladas.

Como nem eu, nem você e nem quem assina o documento vai sofrer as consequências dessa catástrofe, vamos adiando. Você conhece a história: o sujeito salta do 30º andar. Conforme vai se aproximando do solo, pensa: “até aqui tudo bem”.

Os ativistas e as organizações da sociedade civil fizeram o que podiam: reclamaram. Chegaram até a despejar um caminhão de esterco em frente ao prédio onde os governos se reuniam. O fedor foi grande. Redeu ótimas imagens, mas não sensibilizou os governos do mundo.

“Resultado frustrante”, resumiu o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. “Essa conferência, que era a da ambição, deixou toda a ambição para o próximo ano”.

Para culminar, o Brasil saiu da conferência como um dos principais vilões. Os diplomatas foram orientados e vetar tudo o que fosse possível, na expectativa de barganhar uns trocados. Claro que não deu certo e ainda foram tachados de ingênuos.

Todo ano é a mesma coisa. Ações protelatórias, ausência de metas e intermináveis discussões semânticas dão o tom das “invariavelmente frustrantes conferências de cúpula sobre o clima”, como definiu Viveiros de Castro ainda em 2014.

Siga o dinheiro

O que está por trás dos fracassos das conferências do clima é a lógica do capitalismo neoliberal, que nos faz crer que felicidade é sinônimo de consumo. Então, é preciso crescer, crescer e crescer. Consumir até estourar.

Em uma conferência proferida na Universidade de Colúmbia, em março de 1977, o geógrafo Milton Santos disse o seguinte: “A economia perdeu seu status científico e se tornou simples ideologia, cujo fito é persuadir Estados e povos das vantagens daquilo que passou a ser chamado desenvolvimento: a venda da ideologia do crescimento aos Estados, a imposição de uma ideologia de sociedade de consumo às populações”.

Esse e o nó górdio a ser desatado pela sociedade contemporânea: como viver sem detonar tudo a nossa volta. Os donos do capital não estão nem ai para as mudanças climáticas. O que eles querem é garantir o resultado do trimestre.

São as grandes corporações que precisam mudar ou ser mudadas. Os governos estão impotentes. A política está impotente.

A ativista Greta Thunberg precisa ser ouvida. A voz dela vem do futuro. Precisamos de um milhão de Gretas.

Temos que parar a escalada predatória. Precisamos despejar o esterco não em frente à sala de reuniões, mas na mesa de jantar dos grupos que controlam a escalada desenfreada do consumo.

Edição: Rodrigo Chagas