ALÉM DA CONTA

Natal e Ano-Novo serão mais caros para os potiguares em 2019

Aumento no preço de produtos leva famílias a repensarem gastos para festas de fim de ano

Brasil de Fato | Natal (RN) |
No mês de novembro, cesta básica do brasileiro comprometeu 37,89% de um salário mínimo
No mês de novembro, cesta básica do brasileiro comprometeu 37,89% de um salário mínimo - Agência Brasil/Divulgação

As principais festas da virada de ano estão se aproximando, e esse é o momento em que a maioria das famílias brasileiras se organiza para comprar presentes e elaborar boas ceias de Natal e Ano-Novo. Entretanto, um expressivo aumento nos preços, principalmente nos itens de alimento, está levando muitas pessoas a repensarem seus gastos de fim de ano.
Novembro foi o período que mais assustou as pessoas: só no Rio Grande do Norte, a carne bovina teve um aumento de 7% em relação a outubro, e 10% em relação a 2018. Em números absolutos, foram quase R$ 8,00 a mais no preço do quilo. 
De acordo com Mayara Dantas, socióloga, graduanda em economia e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), esse aumento ocorreu devido a um crescimento nas exportações, por produtores brasileiros, à China. Como a principal fonte de carne do país oriental está enfrentando uma peste suína, a demanda pelo alimento levou a China a solicitar o produto ao Brasil, já que o dólar está bem valorizado frente ao real.
Não deu outra: grande parte do que era “reservado” aos brasileiros, foi vendido. E, com pouca oferta e grande demanda no Brasil, devido à época de festas, o preço se elevou.
“O governo poderia intervir nisso mudando a política de exportação, mas não acredito que aconteça. Se alguma coisa tivesse que ser feita seria isto: barrar um pouco as exportações para que não faltasse o produto internamente e a população brasileira não sofresse com a baixa oferta da carne bovina. Mas, na linha da Política Cambial do governo, junto ao Banco Central, é pouco provável que se adéque as taxas de câmbio para que haja controle nas operações que envolvem importação e exportação”, ressalta Dantas.
Nas casas onde já se pensam as compras do fim de dezembro, o peso dos preços começou a impactar fortemente. Exemplo da família Macêdo, cujo lar tem cinco integrantes que vivem com a aposentadoria de Reginaldo Macêdo. Segundo ele, era comum ver promoções de carne por R$ 19,00 no açougue e R$ 23,00 no supermercado, contudo agora o quilo do alimento está chegando a R$ 34,00.
Sua esposa, Jussara Macêdo, aponta que também vem sentido o peso de alimentos básicos: “Batatinha está caro? Não compra. Maracujá está caro? Também não compra”. Além disso, os chamados “substitutos”, como carnes derivadas de frango e porco, também já não estão dando para a conta da família. “A gente também opta por muitos substitutos aqui, mas só voltamos a comprar quando baixar”, ressalta Reginaldo.
A técnica do Dieese explica que o acréscimo nos preços da carne bovina, nesse final de ano, implica no encarecimento também dos outros tipos de carne. Já que um estando caro, as pessoas se voltam aos substitutos, mas essa grande procura também leva a um aumento de preços. 
“A tendência é que se aumente, dado que eles vão substituir. Para não sentir tanto esse efeito da carne bovina, as famílias tendem a substituir por carne suína, carne ovina, caprina, frango, ovos, e também por derivados e processados. Aumenta a demanda por outros tipos de carne o que leva, consequentemente, à elevação de seus valores”, explica.
Aumento dos preços, aumento da desigualdade
Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos da Fecomércio, no RN, mostra que o gasto médio com as compras de Natal, pelo potiguar, deve aumentar cerca de 7% este ano em relação a 2018. Contudo, o gasto maior não significa que mais produtos serão comercializados, pelo contrário.
Em comparação com os últimos 12 meses - tendo como referência de data as vésperas das festas de fim de ano - ocorreu uma significativa diferença entre o salário mínimo e os gastos com alimentação, por exemplo. De acordo com o Dieese, no período de novembro de 2018 o salário mínimo custava R$ 954,00, e, mesmo com o reajuste de 2019, o valor não foi o suficiente para repor o que se gastava no ano passado.
“O valor da alimentação ainda sai muito caro ao brasileiro quando você coloca o impacto no salário mínimo. Aqui em Natal, por exemplo, no mês de novembro a cesta básica comprometeu 37,89% de um salário mínimo, já com os descontos da previdência. Isso pensando na alimentação de uma só pessoa”, explica a socióloga Dantas.
De acordo com o artigo 7º, inciso VI, da Constituição, o salário mínimo dos trabalhadores urbanos e rurais deve ser “capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”. Para isso, segundo cálculos do Dieese, o salário mínimo para atender uma família de quatro pessoas, hoje, deveria ser de R$ 4.021,39, ou seja, 4,3 vezes maior do que o vigente, de R$ 998,00.
E, com a crise econômica que vive o país e o aumento de trabalhadores na informalidade, essa diferença entre gastos e o salário mínimo acaba gerando uma maior desigualdade social e econômica, já que haverá uma diminuição na renda da população mais pobre e uma maior concentração, dessa mesma renda, na população mais rica.
“Atrelada às questões de ordem socioeconômica, a desigualdade social vem se acirrando diante da redução do número de beneficiados de programas de transferência de renda e da falta de financiamento das políticas sociais a partir da mudança no repasse de recursos da saúde, cortes nos recursos da educação, diminuição de repasse federal para assistência social e do fim de projetos habitacionais”, explica a assistente social Ana Carolina Galvão.
Janaina Silva, que mora numa casa com mais três pessoas, é uma das milhares de pessoas que vive com pouco, e economiza ao máximo. Com uma renda familiar de R$ 870,00, o gasto total básico chega a R$ 700,00, sobrando pouco para outros afazeres, como lazer. “Neste fim de ano, tivemos que comprar só o necessário e diminuir em quase tudo, para dar para comprar de tudo um pouco”, relata.
Sobre essa grande parte da população, Dantas ainda destaca: “É extremamente negativo um aumento, em qualquer época, paras as famílias mais pobres. Se ele acaba impactando famílias que não estão em situação de carência e risco social, afeta ainda mais famílias que ganham cerca de R$ 500,00. O valor que as pessoas têm ganhado pelo seu trabalho tem diminuído, dado que aumentou o número de trabalho informal. Isso torna ainda mais abissal à distância entre as classes sociais no Brasil, e no RN não é diferente”.
 

Edição: Isadora Morena