Vazamento

Depois de quase dois meses, manchas de óleo reaparecem no litoral do Ceará

Segundo Ibama, até sexta (27), 38 pontos do estado haviam sido atingidos; problema já afetou 980 localidades no país

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Foto enviada por turistas mostra parte do estrago causado pelas manchas nas praias de Caetanos de Cima, em Amontada (CE)
Foto enviada por turistas mostra parte do estrago causado pelas manchas nas praias de Caetanos de Cima, em Amontada (CE) - Kleber Sabino

O vazamento de óleo na costa brasileira voltou a incomodar moradores do litoral cearense, onde o problema reapareceu na madrugada desta segunda-feira (30). Novas manchas de óleo foram encontradas nos municípios de Itapipoca e Amontada, litoral oeste do estado.

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O produto afetou praias como as de Caetanos de Cima e Caetanos de Baixo, que estão entre os pontos turísticos do Ceará. O problema mobilizou diferentes pessoas ao longo do dia nesses pontos, que contaram com articulação de agentes do Estado e voluntários para limpar os locais afetados.

O pescador Valyres de Sousa, que atua na região há 28 anos, contou ao Brasil de Fato que foi surpreendido logo no início da manhã, quando circulou a notícia da chegada das manchas.  

“Foi horrível. Tinham aparecido manchas aqui há um mês e 15 dias, quase dois meses. Era pouca coisa e não estávamos mais nem com essa preocupação, mas hoje a praia amanheceu cheia de óleo. Nunca tinha aparecido desse tanto. Parece com aquelas que a gente viu nos jornais lá pros lados da Bahia, de Alagoas”, compara.

Moradores contaram à reportagem que o produto se distribui em diferentes manchas, atingindo de uma ponta a outra da praia e se misturando à areia, às algas e às pedras.  

De acordo com o professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar-UFC), a volta da substância traz previsões negativas sobre a quantidade de produto ainda existente no litoral.  

Ele destaca que o reaparecimento do óleo mostra que os fenômenos naturais dos oceanos, como correntes e ondas marítimas e a decomposição fotoquímica do sol, não foram capazes de mitigar o problema.

“Devido a todo o tempo em que ele está derivando no oceano, já era pra estar bem mais decomposto, num nível micromolecular ou até molecular, que seria difícil de se ver a olho nu. Mas, pelo que nós estamos vendo, esse material ainda tem um tamanho considerável e uma certa quantidade”, analisa, acrescentando que a situação é “ecologicamente preocupante”.

Andréa Camurça, assistente social e assessora de campo do Instituto Terramar, organização não governamental (ONG) que atua junto aos povos litorâneos da região, acrescenta outra preocupação: os prejuízos socioeconômicos do vazamento, que afeta a cadeia do turismo comunitário e compromete especialmente a atuação das comunidades locais, marcadas pela atividade de pescadores, marisqueiras e entre outros.  

“As comunidades aqui vivem do mar, da pesca. Elas estão em contato direto e permanente com a água, então, há um risco nesse cotidiano. Isso tem um impacto, e é um desastre criminoso. A gente fica em uma situação muito difícil, porque o governo federal não tem assumido [o caso] como deveria”, avalia, mencionando também os riscos à saúde das populações atingidas pelo alcance das manchas.

Balanço

Segundo o último boletim do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), publicado na sexta-feira (27), 11 estados foram afetados até o momento pelo vazamento, incluindo os nove da região Nordeste, o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. O produto chegou a 129 municípios e atingiu o litoral de 980 localidades. Além disso, pelo menos 159 animais foram encontrados com óleo, entre tartarugas-marinhas e outras espécies.  

Os números são medidos desde 30 de agosto, quando o problema foi constatado no litoral da Paraíba, primeiro estado a registrar a ocorrência de manchas. Desde então, 38 pontos do Ceará foram atingidos até a última sexta-feira, segundo o Ibama.  

O Brasil de Fato contatou o instituto por meio de sua assessoria de imprensa no Ceará, mas as ligações não foram atendidas. A reportagem também não conseguiu contato com o comando da Marinha no estado, que atua na mitigação das manchas.

O Ibama tem dito à imprensa que atua no caso desde o dia 2 de setembro, por meio de ações conjuntas com a Marinha, a Polícia Federal (PF), a Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras, órgãos ambientais estaduais e municipais.
 

 

 

Edição: Camila Maciel