Violência

Manifestantes repudiam violência que levou carroceiro à morte em SP

O suspeito confessou o crime, mas a Ouvidoria das Polícias ainda aponta contradições no depoimento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O padre Júlio Lancellotti coordenou a manifestação, na zona leste de São Paulo
O padre Júlio Lancellotti coordenou a manifestação, na zona leste de São Paulo - Foto: Caroline Oliveira/Brasil de Fato

"Fazer justiça séria para acabar com a miséria do povo sofredor". Foi entoando essas palavras, acompanhadas pelo som de um violão, que começou o ato em repúdio ao assassinato do carroceiro Carlos Roberto Vieira da Silva, de 39 anos, que se encontrava em situação de rua e foi morto após um homem atear fogo nele, no último domingo (5), enquanto dormia.

O crime ocorreu na esquina das ruas Celso de Azevedo Marques com a Rua Etiópia, na Mooca, na região central de São Paulo. A manifestação foi realizada no mesmo local, na manhã desta quinta-feira (9).

Durante o protesto, o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Dimitri Sales, homenageou Vieira da Silva e responsabilizou o poder público pela ausência de amparo à população em situação de rua. “Mais uma vez um irmão morre pela falta de uma política pública capaz de realizar um acolhimento. Morre nas mãos dos prefeitos, da sociedade que fecha os olhos para os irmãos que estão passando fome”, afirmou. 

De acordo com Sales, a informação recebida das autoridades policiais pelo órgão acerca do caso é que Vieira da Silva teria furtado R$ 10 mil do suspeito de matá-lo, conhecido como Buiú. “Mas quem tem essa quantidade estando em situação de rua? Sabemos que esse valor é impossível de ser sacado em um único dia”. 

O Condepe, junto com a Ouvidoria das Polícias de São Paulo, está acompanhando as investigações e em busca de mais informações sobre o assassinato. "Estamos saindo daqui e vamos para a delegacia pegar mais informações do inquérito. Precisamos saber se as condições de confissão foram baseadas na lei”, afirmou. O suspeito confessou o crime, mas as autoridades responsáveis ainda não fecharam o caso. 

Benedito Mariano, Ouvidor das Polícias, confirmou a versão de Sales: “Ainda há contradições”. “Conversei com uma moradora que conhece o suspeito, e que o perfil narrado por ela é diferente daquilo que foi dito. Nós vamos acompanhar de perto essa apuração, porque há contradições que indicam que esse caso não está esclarecido e encerrado”, concluiu. 

Pedro Paulo Batista Marinho, de 22 anos, que passava pelo local da manifestação enquanto puxava sua carroça de resíduos recicláveis, falou sobre como era a convivência com Buiú e Vieira da Silva. “Trabalho como carroceiro há uns três anos. Ele [o suspeito] nunca demonstrou maldade nenhuma, nunca fez nada pra ninguém.”

“Carlos era uma pessoa sensacional. Não tinha maldade com ninguém. Ele ajudava a gente. A maioria dos carroceiros ajudam um ao outro. Ele não fazia diferente. Não dá para entender o que se passa na cabeça de um ser humano”, disse Marinho à reportagem do Brasil de Fato

Vieira da Silva chegou a ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no Hospital Municipal do Tatuapé. No entanto, não resistiu aos ferimentos e veio a óbito na manhã da segunda-feira (6). Ele foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros com queimaduras de segundo e terceiro graus no rosto, costas, tórax e pernas. 

O caso foi registrado no 56º Distrito Policial (DP), da Vila Alpina, primeiramente, como crime de lesão corporal. Mas foi encaminhado ao 18º DP, do Alto da Mooca, como homicídio. O galão de gasolina, utilizado no assassinato e encontrado no local, passará por uma perícia no Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica.

Edição: Vivian Fernandes