Mercado Editorial

Brasil tem aumento nas vendas de livros políticos em 2019

Em 2013 foram 10 mil livros e no ano passado, a média foi de 30 mil livros; pequenas editoras ganham terreno

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A editora Expressão Popular tem 20 anos e recentemente lançou o Clube do Livro e tem aumentado o número de assinantes.
A editora Expressão Popular tem 20 anos e recentemente lançou o Clube do Livro e tem aumentado o número de assinantes. - José Eduardo Bernardes

A procura por livros sobre política no Brasil teve aumento significativo nos últimos anos, de acordo com uma pesquisa publicada por uma empresa de medição editorial.

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O levantamento teve sua primeira publicação em 2013, ano em que o país viveu uma das maiores convulsões sociais de sua história. Nesta primeira pesquisa, a média era de cerca de 10 mil livros vendidos. Na última pesquisa, de 2019, este número saltou para 30 mil, em média.

A crise política, a polarização que paira no ar desde as eleições presidenciais de 2014 no Brasil parecem explicar os novos hábitos de leitura dos brasileiros.

"Esse cenário sombrio, que é especialmente sombrio nos campos culturais, das artes, fez com que as pessoas buscassem entender isso que estava acontecendo", afirma Ivana Jinkings, diretora da editora Boitempo, especializada na publicação livros políticos há 20 anos.

Segundo Jinkings, o livro tem se colocado como um antídoto contra a desinformação "do que é bom e do que é ruim das redes sociais". "As pessoas veem muita coisa, ouvem muita coisa, e elas buscam o livro, que é resultado de uma pesquisa, que é resultado de alguém em quem eles confiam, seja um brasileiro, seja um pensador estrangeiro. Acho que o livro tem a teoria por trás dessa coisa toda".

Apesar de terem angariado espaço neste nicho editorial, os autores progressistas ainda buscam por afirmação diante de um mercado dominado por autores de "direita".

"O livro é um pouco subestimado pela esquerda, de certa forma, porque a direita fez grandes apostas, desde 2013, em criação na área de livro", aponta Cauê Ameni, diretor da editora Autonomia Literária, criada em 2015 e consolidada como uma das mais importantes da esquerda brasileira. 

Ameni explica que alguns editores que são Olavistas, dentro da editora Record, por exemplo, começaram a publicar "um monte de livros para a formação de conceito". Ele cita o caso de Reinaldo Azevedo, que cunhou os termos 'petrolão' e  'mensalão', e Rodrigo Constantino que popularizou o termo 'esquerda caviar'. "Eles todos foram colocados massivamente para serem vendidos", aponta. 

A editora Record também chegou a comprar importantes selos brasileiros como a Bertrand Brasil, a Paz & Terra e a Civilização Brasileira, para, segundo o diretor da Autonomia Literária "estancar as vendas dessas publicações".

Uma das alternativas para combater o monopólio de autores de direta, que as grandes editoras empregam no mercado, é a afirmação de pequenas e médias editoras que trabalham com autores progressistas.

"Essas editoras têm um perfil editorial que facilita e possibilita que o cidadão comum, militante, aqueles que querem transformar a realidade, se informem com esse material", considera o escritor e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Milton Pinheiro.

Ele já publicou oito livros, dois deles pela editora Expressão Popular - que completou 20 anos em 2019 -  e outro pela editora Boitempo. Ele considera que esses espaços de publicação tendem a aproximar a leitora e o leitor de uma maior compreensão do nosso tempo. 

 

Edição: Leandro Melito