Extermínio

Doença de pele atinge presos de Roraima há meses, denuncia Pastoral Carcerária

Secretaria de Saúde diz que infecção é oriunda de sarna não tratada; sinais da doença se manifestam desde maio de 2019

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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A infecção de pele causada por bactérias, segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima, é resultante de uma sarna não tratada
A infecção de pele causada por bactérias, segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima, é resultante de uma sarna não tratada - Foto: Arquivo Pessoal

O Brasil é um dos países que mais encarcera pessoas no mundo e esse encarceramento é seguido de uma série de violações de direitos. Na última segunda-feira, (20), a Ordem dos Advogados do Brasil de Roraima (OAB-RR) denunciou a existência de uma doença que corrói a pele dos detentos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, capital do estado.

Nesta terça-feira (21), a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima divulgou, em nota, que o diagnóstico é de piodermite, uma infecção de pele causada por bactérias, resultante de uma sarna não tratada. O padre Gianfranco Graziola, assessor da Pastoral Carcerária Nacional, conta que tentou visitar o local em maio de 2019, mas não conseguiu, porque foi impedi do pela Força de Intervenção Penitenciária (FTIP). Mas segundo ele, a sarna é comum em diversos presídios de Roraima. Na época, ele visitou a Cadeia Feminina e a Cadeia Pública, onde haviam vários presos estavam infectados por sarna, cujo nome científico é escabiose.

Ainda de acordo com o religioso, as condições de higiene no local, que ele visitou outras diversas vezes, são precárias. Além disso, o padre afirma que o uniforme cedido pelo governo do estado acaba sendo mais um fator de doença, porque só é fornecida uma muda de roupa.

"Tem uma condição de saúde que é precária, porque quase não é feita a limpeza [do local]. O lugar é superlotado e as pessoas são mantidas como sardinhas, sem [novas] mudas de roupas. Em maio, tinha a sarna [escabiose], que é terrível, porque o vírus se propaga e pode levar à morte. Isso cria uma situação precária e lastimável", afirma.

Endurecimento e maus-tratos 

Para o padre, que atuou em Roraima por mais de 15 anos e visitou o Estado recentemente, o que aconteceu com os detentos já era de se esperar, sobretudo, depois que a Força de Intervenção Penitenciária (FTIP) passou a atuar no estado. "Tem um endurecimento dos agentes penitenciários, todo um protocolo. Nós vimos que está havendo torturas, maus-tratos, dedos quebrados e assim por diante. Portanto, há uma violência e todo um sistema que eu defino como nazista", relata.

Graziola conta que recentemente conversou com diversos parentes dos detentos, que disseram que a situação no presídio está ainda pior. Ele lembra que, desde então, a Força de Intervenção Penitenciária passou a implantar um rigoroso esquema de controle sobre os detentos, que os priva até mesmo de sair de suas celas.

"As condições de lá são bastante precárias, porque o Estado praticamente está colocando peças em uma estrutura antiga. O local onde está o chamando cadeião, entre as alas que eram 14 e 15, é altamente insalubre. As alas não poderiam ficar o tempo todo fechadas, como estão fazendo por lá. Há um endurecimento da pena. Portanto, a questão das celas fechadas e superlotadas, naturalmente, fazem com que toda doença infecto-contagiosa se propague com muita facilidade e tenha um terreno fértil", denuncia.

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Até o momento, ao menos 29 presos seguem em tratamento hospitalar por terem contraído escabiose. Uma pessoa chegou a relatar que perdeu a capacidade de andar em decorrência da infecção. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Roraima, os detentos estão sendo tratados.

“Exames diários e tratamento continuado estão sendo feitos. Todos os pacientes estão tendo progressiva melhora. A Sesau destaca que estão sendo adotados todos os protocolos para garantir a segurança no HGR (Hospital Geral de Roraima)”, diz a nota.

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Edição: Douglas Matos