CHINA

Coronavírus: OMS diz que é cedo para decretar emergência mundial

Ministério da Saúde descartou cinco casos suspeitos no Brasil, mas afirma estar em alerta para o risco de transmissão

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

O coronavírus já matou 18 pessoas na China e infectou 600 pessoas; Para infectologista, não é preciso alarde no Brasil - Foto: Nicolas Asfouri/AFP

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu não considerar a propagação do coronavírus como um caso de emergência mundial de saúde pública. Representantes da entidade afirmaram, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (23), que ainda não é o momento para classificar as infecções causadas pela nova variação do vírus dessa forma. Entretanto, fizeram a ressalva de que podem voltar a se reunir caso seja necessário reavaliar o posicionamento. 

Continua após publicidade

“É um pouco cedo para considerar se esta é uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Não se enganem, porém, esta é uma emergência na China. Mas ainda não se tornou uma emergência de saúde global”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus. 

A OMS, porém, aconselhou a países não afetados que estejam preparados para eventuais providências de contenção e prevenção. Até o momento, o coronavírus já matou 18 pessoas na China e infectou 600 pessoas.

 

Três cidades chinesas adotaram medidas de quarentena para tentar controlar a epidemia e impedir que o numero de vítimas fatais cresça. Apesar da maioria esmagadora dos casos terem origem no país asiático, pelo menos outros nove países registraram casos pontuais. 

Entre as pessoas infectadas, foram identificados sintomas como febre, tosse e falta de ar. Casos mais graves apresentaram pneumonia e síndrome respiratória aguda grave.

A Organização não recomendou restrições mais amplas a viagens ou ao comércio, mas sim medidas de contenção como triagem na saída dos aeroportos. 

A denominação "emergência de saúde pública de interesse internacional" só foi utilizada pela OMS em casos raros de epidemias como a gripe suína H1N1, em 2009, a febre ebola, que atingiu países africanos massivamente entre 2014 e 2016, e o zika vírus, que também se alastrou em 2016.

 

Trabalhadoras produzem máscaras de proteção na cidade de Handan, na China (Foto: STR/AFP)

E o Brasil?

Também nesta quinta-feira (23), o Ministério da Saúde brasileiro descartou cinco casos suspeitos e afirmou estar em estado de alerta para os riscos de transmissão. Na quarta (22), a pasta criou o Centro de Operações de Emergência (COE) - Coronavírus com o objetivo de preparar a rede pública de saúde para o atendimento de possíveis casos no Brasil. 

Apesar da iniciativa, o Ministério reiterou que não há nenhum caso sob suspeita no país e que tem realizado monitoramento diário da situação junto à OMS. Além de especialistas da própria pasta, o COE é composto por representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Evandro Chagas (IEC), e outros órgãos. 

Não vejo, nesse momento, nenhum motivo pra pânico e nem pra se assustar com o que está acontecendo.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o infectologista Mário Gonzalez, do Hospital Emílio Ribas, corrobora a avaliação da OMS. Segundo o especialista, todos os casos identificados tiveram origem na China, sendo a imensa maioria das infecções em áreas circunscritas à cidade de Wuhan.

“Não há motivo para alarde, principalmente no Brasil. Não temos nenhum voo direto. O único voo, da Air China, vem duas vezes por semana e faz uma escala em Madri. Então não temos um fluxo de pessoas tão grande circulando entre os dois países”, analisa Gonzalez. 

O infectologista complementa que será possível conter, nos aeroportos, as pessoas que possivelmente chegarem sintomáticas ao território brasileiro, já que as áreas da saúde responsáveis estão montando um fluxo de segurança para impedir a transmissão.

“Realmente não vejo, nesse momento, nenhum motivo pra pânico e nem pra se assustar com o que está acontecendo. As pessoas não precisam pensar que só porque estão com tosse ou febre, que estão com o coronavírus. A não ser que tenham vindo da China há menos de duas semanas, período de incubação do vírus antes do início dos sintomas. Se não, não é caso suspeito”, reforça.

Novo coronavírus

As primeiras notificações de casos de infecção pelos coronavírus (CoV), uma grande família viral que causa infecções respiratórias em seres humanos e em animais, foram registradas em Wuhan no dia 31 de dezembro do ano passado.

No entanto, as infecções recentes foram causadas por uma nova forma do vírus até então desconhecida e identificada pela sigla 2019-nCoV, considerada mais agressiva. 

O reservatório do vírus era um animal e aí o ser humano, por um acidente, acabou sendo infectado.

Mário Gonzalez relata que surtos de outros coronavírus aconteceram no início dos anos 2000, também na China. Um deles foi o SARS -- sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave --, doença causada por uma variação específica de coronavírus em 2002. No ano seguinte, também foram contabilizados casos do coronavírus MERS, sigla para Síndrome Respiratória do Oriente Médio. 

De acordo com o infectologista, o novo coronavírus ainda não havia sido identificado em seres humanos.

“Provavelmente é uma zoonose, um vírus que teve origem no animal. O reservatório do vírus era um animal e aí o ser humano, por um acidente, acabou sendo infectado. Não sabemos o que foi exatamente, estão especulando teorias de como esse vírus saltou de um animal para um ser humano”, explica.

Ainda não existem informações científicas para assegurar que o 2019-nCoV possa gerar uma resposta imune definitiva nos corpos dos indivíduos contaminados ou se uma pessoa pode ser infectada mais de uma vez.

Edição: Rodrigo Chagas