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OPINIÃO

Artigo | Desleituras de Olavo de Carvalho

Autor é fruto da mesma indigência intelectual da qual, um dia, se propôs zombar

24.jan.2020 às 15h24
Porto Alegre
Fabricio Silveira
Considerado guru da família Bolsonaro, Olavo parece ter passado a acreditar ferozmente naquilo que diz

Considerado guru da família Bolsonaro, Olavo parece ter passado a acreditar ferozmente naquilo que diz - Reprodução

Lembro-me que li dois livros de Olavo de Carvalho na segunda metade dos anos 1990. À época, eu tinha cerca de vinte e três anos e havia concluído minha graduação em Jornalismo na Universidade Federal. Um dos livros era o primeiro volume daquela que se tornaria a série Imbecil Coletivo. O outro – não me recordo ao certo, mas acho que foi lido um pouco mais tarde – se chamava Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão. Era uma resenha sarcástica sobre a dialética erística de Arthur Schopenhauer.

Os dois escritos me atraíram porque enxerguei neles uma atitude confrontacional que me agradava, uma disposição anárquica para questionar o establishment cultural, o senso comum dos segundos cadernos da imprensa do centro do país, o rigor excessivo e a própria formalidade do meio universitário.

Antes de tudo, Olavo de Carvalho me parecia um franco atirador, alguém cujo maior mérito, senão o único, era o de fustigar, tirar onda, contribuindo assim para dessacralizar o meio intelectual, inserir alguma zombaria, uma atitude rebelde junto ao comedimento e à correção das boas ideias, das análises frias, excessivamente justas e sensatas.

Olavo de Carvalho era visto – não só por mim, mas também por outros amigos que me acompanhavam – como um bufão necessário, um outsider que não se poderia reprimir ou disciplinar por completo. O bobo da corte do mundo intelectual. Era interessante lê-lo como um “respiro”, uma piada estimulante. Líamos como havíamos lido, antes dele, Paulo Francis, muito embora Francis fosse de outra estirpe, tivesse mais classe e maior refinamento.

Vale salientar, no entanto, que essa leitura precisava ser feita em “chave irônica”, reconhecendo-se que residia nisso – na ironia, na pilhéria, na provocação – o núcleo do contrato proposto ao leitor. Sempre esteve claro que não era uma leitura para ser levada a sério. Essas, as leituras sérias, eram outras, constavam nos programas das disciplinas da faculdade, não dependiam da diatribe rasteira e se legitimavam de outro modo.

Hoje, passados mais de vinte anos, o público de Olavo de Carvalho se transformou tremendamente. Primeiro, perdeu a capacidade de lidar com os textos de modo irônico. Tudo o que se diz passa a ser tomado ao pé da letra. Não há margem para interpretação. Não há mais “piscadela de olhos”, pacto ou desvelamento autocrítico.

Vejo também que esse público – e incluo aqui o atual Ministro da Educação – não possui “anticorpos”, não tem outra base de referências para lidar com os sofismas plantados por Carvalho, desconstruindo-os ou blindando-se um pouco mais em relação a eles. São coisas, aliás, que andam juntas: essa leitura é literal porque também é dirigida. Falta-lhe, em suma, pluralidade e autonomia. Falta-lhe maior capacidade de confrontação e de realizar julgamentos mais qualificados.

Uma terceira característica que vejo nesse fenômeno – um fenômeno de recepção digno de estudo, oxalá alguém se dedique a isso no futuro – é que se trata de uma leitura, além de literal e cativa, direcionada à ação política. Os leitores não apenas interpretam muito literalmente. Eles não apenas se deixam dirigir, por falta de outros instrumentos e referenciais mais plurais. Mas eles pautam suas vidas, no cotidiano concreto, por aquilo que leem de modo tão precário e obtuso. Aceitam, inclusive, que políticas de estado sejam daí derivadas.

Trata-se de uma ocorrência daquilo que Umberto Eco chamou de “misreading”. Isto é: uma “desleitura”, uma “leitura capenga” e empobrecida, marcada sobremaneira por um viés. Uma trágica misreading, aliás, de efetividade política e disseminação nacional desastrosas, sobretudo no que toca hoje ao ambiente da cultura e da educação universitária no país.

Vale dizer também que, no curso das décadas, Olavo de Carvalho parece ter passado a acreditar ferozmente naquilo que diz. Tornou-se vítima do personagem que criou para si próprio, engolido pelas estratégias irônicas que aprendeu a praticar como recurso retórico de polemista público.

A dialética erística, por sinal – que ele conhece e pratica tão bem –, nada tem a ver com a busca da verdade. Tem a ver com o impressionamento de um auditório leigo. Sequer tem a ver com o convencimento direto do adversário numa disputa de ideias. É pura e simples manipulação do auditório com vistas a vencer, mesmo sem ter nenhuma razão, uma contenda retórica qualquer.

Ficam, por fim, duas certezas. Primeiro, a certeza de que os leitores atuais de Olavo de Carvalho ou, pelo menos, grande parte deles, são maus leitores, dóceis aprendizes intelectuais, desprovidos não só de uma inteligência mais afiada, mas também de senso de humor. Em segundo lugar, a certeza de que Olavo de Carvalho é fruto (e agora agente de exponenciação) da mesma indigência intelectual da qual, um dia, se propôs zombar.

 

* Professor universitário

 

Editado por: Marcelo Ferreira
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