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Criacionista é indicado do governo Bolsonaro para presidir a Capes

Benedito Guimarães Aguiar, evangélico que defende criacionismo, comandará a pós-graduação no Brasil

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Negação da ciência é marca do governo Bolsonaro, cujo ideólogo, Olavo de Carvalho, flerta com a terra plana
Negação da ciência é marca do governo Bolsonaro, cujo ideólogo, Olavo de Carvalho, flerta com a terra plana - Foto: Creative Commons

Mais uma substituição no Ministério da Educação, comandado por Abraham Weintraub: Benedito Guimarães Aguiar foi o escolhido do governo de extrema direita do presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), para presidir a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O evangélico já chega cercado de polêmicas. Aguiar foi reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e defende uma abordagem criacionista em contraponto à teoria da evolução.

Aguiar carrega em sua ideologia um dos marcos do governo Bolsonaro, a negação à ciência. Ele advoga por uma teoria chamada “design inteligente“, uma máscara para o criacionismo. De acordo com sua teoria, Deus seria o criador das múltiplas formas de vida como elas são hoje, em contraponto com à Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin; esta última aceita na comunidade acadêmica por colocar à prova as afirmações a partir do método científico.

Na teoria darwinista, as formas contemporâneas de vida na Terra evoluíram a partir de ancestrais. Características mais adaptadas ao contexto socioambiental tendem a predominar a partir da seleção natural, ou seja, a forma dos animais é fruto de um longo processo evolutivo. Essa teoria é repetidamente comprovada a partir de estudo e checagem. Já a teoria criacionista defendida pelo novo membro do governo não tem como ser comprovada. A reposta para ela é simples e baseada em crendices.

Existe um consenso sobre a invalidez da teoria criacionista, há muito superada pelo conhecimento humano. Em 2014, o Reino Unido chegou a proibir o ensino de teorias criacionistas, como o design inteligente, em instituições de ensino. Aguiar discorda da ciência. Mesmo responsável agora por um núcleo de pós-graduação, ele chegou a defender que o criacionismo deveria estar presente nas escolas desde os níveis mais básicos.

“Queremos colocar um contraponto à teoria da evolução”, disse em um congresso realizado no Mackenzie no ano passado, “disseminar que a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”, completou.

Aguiar entrou no lugar de Anderson Correia; mais uma substituição na pasta, que já trocou todos os cargos importantes durante o primeiro ano de governo Bolsonaro. Mesmo o atual ministro entrou no lugar de Ricardo Velez. O único nome que persiste no ministério desde o começo é o de Carlos Nadalim, uma indicação do ideólogo bolsonarista, o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, que flerta com a ideia de que a terra é plana.

O novo secretário assume como um aceno aos evangélicos e às universidades particulares. Nas mãos, o desafio de integrar um ministério desprestigiado por uma condução altamente ideológica e pouco técnica de Weintraub, além de seguidos cortes na pasta, como o de 8% nas bolsas da Capes no ano passado.

Edição: RBA