IMAGEM NEGATIVA

Após visita, Bolsonaro retorna ao Brasil sob repercussão negativa na imprensa indiana

Publicações ligam imagem de presidente à extrema direita e lembram que o brasileiro já fez apologia à tortura

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O presidente Jair Bolsonaro voltou, nesta segunda-feira (27), ao Brasil após quatro dias de viagem à Índia. A visita, no entanto, foi mal vista por grande parte da mídia local. Os principais jornais do país repercutiram a estadia da comitiva brasileira e se dedicaram a descrever as principais ideias de Bolsonaro, que até então era desconhecido da maioria dos indianos. 

O jornal The Times Of India tentou responder à pergunta: “quem é Bolsonaro?”, ressaltando suas aproximações com o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. O portal The Wire fez uma lista chamada “10 coisas que Bolsonaro acredita que deveriam assustar você”, chamando a atenção para as declarações racistas, homofóbicas e machistas do presidente, que já fez apologia ao estupro e à tortura. Já o Newsclick destacou as semelhanças entre o capitão reformado e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi -  principal representante do nacionalismo hindu - político de extrema direita, acusado de restringir direitos dos trabalhadores. 

Protestos 

A visita de Bolsonaro se tornou alvo de protestos pelo país. No último sábado, por exemplo, ele foi hostilizado por motivos políticos e econômicos. O brasileiro foi chamado de corrupto, fascista e autoritário por camponeses e estudantes em uma manifestação na capital Nova Delhi. Os agricultores também criticaram o governo brasileiro por questionar internacionalmente os subsídios dados pelo governo indiano aos produtores de cana de açúcar. 

Além de assinar acordos, Bolsonaro visitou o memorial de Mahatma Gandhi, líder da independência indiana. A presença do brasileiro, porém, incomodou a própria bisneta de Gandhi. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, a professora de estudos religiosos Supriya Gandhi disse que Bolsonaro se juntou ao governo local na tentativa de se apropriar e distorcer o legado de seu bisavô. “Eles querem um Gandhi despido de seu poder e de sua força radical”, analisou. 


Afinidade radical

Durante a visita, ficou clara a afinidade entre Bolsonaro e o primeiro-ministro Modi, membro do BJP, partido de extrema direita. Especialistas apontam que eles têm características semelhantes, como a postura agressiva e autoritária contra opositores e contra a imprensa. Os dois políticos foram eleitos com slogans de cunho nacionalista e religioso, e durante o encontro fizeram questão de enfatizar as boas relações entre os países. 

Também participaram da comitiva brasileira representantes dos ministérios das Relações Exteriores, de Minas e Energia, de Ciência e Tecnologia, da Cidadania, da Agricultura e do Gabinete de Segurança Institucional.

Com 1,4 bilhão de habitantes, a índia tem a segunda maior população mundial e a sétima maior economia do planeta. Em 2019, o Brasil teve um déficit comercial de US$ 1,49 bilhão na relação com o país asiático, o que significa que gastou mais com importações do que arrecadou com exportações. Os principais investimentos indianos no Brasil são no setor de transmissão de energia, agrotóxicos e fabricação de veículos pesados. o Brasil, por sua vez, realiza investimentos em solo indiano nas áreas de motores elétricos, terminais bancários e componentes de veículos pesados. Em 2019, os intercâmbios comerciais totalizaram US$ 7,02 bilhões.

Acordos e gafe

Durante a viagem de quatro dias, o capitão reformado assinou 15 acordos bilaterais com o governo indiano, em áreas como segurança, tecnologia, energia, saúde e agronegócio.  Oito dos quinze acordos são memorandos de entendimento, ou seja, documentos preliminares, que não geram nenhuma obrigação aos dois países no âmbito do direito internacional.

Mesmo assim, o presidente brasileiro comemorou os resultados da viagem nas redes sociais.  Na sexta-feira, ele cometeu uma gafe e foi motivo de piada na internet ao escrever no twitter que os fluxos comerciais entre brasil e índia poderiam saltar de US$ 7 bilhões para US$ 50 bilhões. O próprio documento oficial da visita cita uma “meta realista de US$ 15 bilhões”.

 

 

Edição: Douglas Matos