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Casa Transformar oferece acolhimento a pessoas trans em Fortaleza

O espaço acolhe LGBT’s em situação de vulnerabilidade econômica e exclusão familiar

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
A Casa Transformar é mantida, atualmente, apenas com doações
A Casa Transformar é mantida, atualmente, apenas com doações - Celso Aquino

A funkeira trans, Nicole, conhecida como Nik Hot e seu companheiro, o cabelereiro Davy Lima são os fundadores da Casa Transformar, um abrigo para LGBTs em situação de vulnerabilidade econômico-social e exclusão familiar. Localizado no Bairro do Siqueira, periferia de Fortaleza, neste momento a casa abriga seis pessoas, comporta até sete.

Segundo Nik, a ideia do abrigo foi tomando consistência depois de alguns anos, "começou com amigas minhas, que se descobriam trans, e as famílias não queriam, então eu dizia, vem pra minha casa". A primeira pessoa acolhida pelo casal, foi Bruna, mulher trans que chegou no final de 2017. "Chegou um momento em que a casa estava lotada, e as pessoas iam indicando, perguntando se ainda tinha vaga", relatou Nik.

Um dos motivos que mais levam as pessoas a procurarem o abrigo é a não aceitação familiar, seja pela questão de orientação sexual ou pela identidade de gênero. Para Nik é importante recompor a estrutura psicológica e emocional das acolhidas na Casa, "aqui não é só dar um teto e um prato de comida para a pessoa, aqui nós cuidamos do psicológico, tentamos dar o máximo de afeto e carinho, que é justamente o que a pessoa não teve em casa, com os pais. Nós sentimos uma necessidade de dar esse amor que eles nunca receberam". 

Segundo Davy Lima, a casa ajuda a formar para a vida, tendo um conjunto de responsabilidades individuais e coletivas, como acordar cedo, fazer tarefas domésticas e estudar.

Atualmente, a casa oferece ajuda psicológica profissional e aulas de dança, gratuitamente. Estão nos planos para 2020 abrir um salão de beleza e reformar um segundo alojamento na casa, que possibilitará dobrar o número de residentes acolhidos. Também está no projeto de futuro, acolher mães jovens que foram abandonadas por seus companheiros.

Mantida exclusivamente por doações e por eventos como feijoadas beneficentes e bingos, a Casa Transformar recebeu apenas uma visita da Prefeitura de Fortaleza com algumas cestas básicas, disseram as moradoras. Há queixa da ausência dos governos na manutenção da iniciativa, "isso que a gente tá fazendo aqui é obrigação do Estado. A gente faz isso por amor, e eles deviam fazer isso por obrigação. Quando o estado não faz, as bichas vão lá e fazem".

Para Nik, o objetivo da casa é ir para além de apenas abrigar, é ajudar na construção de um futuro melhor para a comunidade LGBT, "eu sei que eu poderia estar na situação delas, mas nós estamos conseguindo mudar as estatísticas. Eu quero que saiam daqui mais formadas, para faculdade, tendo seu emprego. Quero travesti sendo professora, médica, eu quero que a gente saia dessa bolha que a sociedade botou a gente dentro e fechou".

 

Moradoras da Casa

Noah Davina, conheceu a Casa Transformar através das redes sociais e de amigas que já conheciam o projeto. De família evangélica, desde a infância se sentia recusada pelos parentes, "eu não sabia o que era trans, mas desde criança eu era afeminada, sempre gostei de ter o cabelo grande, eles eram contra a minha sexualidade, me batiam, faziam coisas muito pesadas comigo".

Antes de ir para a casa abrigo, Noah ponderou se ela realmente precisava daquela vaga, ou se podia tomar uma vaga de alguém com maior necessidade, "eu não queria vir para cá no começo, como eu sofri muito desde pequena, eu achava que poderia aguentar mais na casa de minha mãe com meus irmão me batendo". Após conversar com Nik, ela decidiu ficar na casa e agora se considera parte de uma família, "o povo aqui me respeita, eu saí de casa atrás de uma família que me respeitasse, aqui eu sou respeitada, sou bem quista".

Atualmente Noah trabalha com o companheiro confeccionando fantasias para eventos de cultura pop, os quais também se apresenta. Com cursos em elétrica residencial e informática, em 2020, Noah participou de três entrevistas de emprego, os quais fora rejeitada. Conclui, "qual mercado de trabalho que vai oferecer uma vaga para uma trans ou travesti? Eles já te olham condenando, achando que você é um rapaz louco, são transfóbicos".

 

A casa está aberta para visitas de segunda a sábado, das 10h às 17h.
Para visitação, entrar em contato via o Instagram @casatransformar

Edição: Monyse Ravena