Manifestação

Centrais sindicais protestam contra Bolsonaro durante visita à Fiesp

Alto índice de desemprego e crescimento do trabalho informal são principais críticas contra o governo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Centrais sindicais realizam ato conjunto na Avenida Paulista - Caroline Oliveira

Centrais sindicais e movimentos populares ocuparam pela manhã desta segunda-feira (3) a Avenida Paulista, em São Paulo (SP), para protestar contra a pauta econômica e educacional do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). 

O ato ocorreu no mesmo momento em que Bolsonaro foi recebido, também na Avenida Paulista, por Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O protesto é contra a política econômica do governo, tendo como principais críticas o alto índice de desempregados e o crescimento do número de trabalhadores na informalidade.

"Nós estamos na verdade nos defendendo de um ataque que já vem desde a posse do governo Bolsonaro, atacando o movimento sindical, atacando os direitos trabalhistas e nós vamos resistir. Nós não vamos deixar isso acontecer. Vamos começar a resistir a esse governo antes que ele acabe com o Brasil", afirma Wagner Gomes, secretário-geral da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB).

Ele considera que a próxima grande batalha dos trabalhadores é no Congresso em relação à PEC 905, que institui a carteira do trabalho verde e amarela, "que libera geral os empresários para acabarem com os direitos dos trabalhadores", avalia Gomes.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada na última sexta-feira (31), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desocupação entre os brasileiros caiu de 12,3% para 11,9% em 2019 em relação ao ano anterior.

Quando comparado ao aumento da taxa de informalidade, no entanto, a diminuição da desocupação se mostra falha. Os empregos informais atingiram 38,4 milhões de pessoas, em 2019, abarcando 41,1% da força de trabalho, o maior nível em três anos. Em 2016, a proporção era de 39,1%.

“A luta é árdua. Com esse desmonte que o presidente Bolsonaro vem mantendo nas políticas públicas, o sucateando da questão das indústrias, a gente vem batendo de frente para conquistar nossa soberania, a questão do emprego pro trabalhador, dos direitos dos trabalhadores principalmente. A gente vem nessa luta pra reconquistar tudo que está sendo perdido",  destaca o metalúrgico Américo José Galvani Júnior, 29 anos, empregado da montadoraVolkswagem em São Bernardo do Campo (SP).

A empresa colocou cerca de 1,2 mil trabalhadores em regime de lay off - suspensão temporária do trabalho - pelo período de cinco meses. Durante esse período os empregados recebem o seguro-desemprego e um complemento pago pela empresa para completar o salário integral. 

Luiz Cláudio Marcolino, vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, ressalta que a unidade entre as centrais sindicais foi formada desde o final do ano passado e a manifestação desta segunda-feira (3) faz parte de um conjunto de ações pelo desenvolvimento social com a defesa de empregos e contra o processo de desmonte da indústria nacional.

 “Queremos o desenvolvimento nacional, queremos a industrialização. É um diálogo também com o governo federal que não está conversando com o movimento sindical, não tem dialogado com as centrais sindicais e está simplesmente retirando direitos. Mexeu na Reforma da Previdência, na Reforma Trabalhista com o Temer, quer mexer na estrutura sindical. Então tudo isso tem feito com que o trabalhador diminua sua renda, diminua seu poder de compra, e com isso todo mundo perde", defende.

Juvandia Moreira, presidente da Confederação Nacional dos Bancários, critica a venda de empresas estatais estratégicas do país propostas pelo governo. 

"O governo está entregando estatais importantes que são responsáveis pelo investimento e o país vira um grande exportador de produto primário. Essa política econômica só serve para aumentar a concentração de renda. Pra aumentar os privilégios daqueles que tem muito dinheiro", aponta.

 Wagner Fajardo, coordenador do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, considera que o protesto é importante para mobilizar as pessoas contra as medidas do governo Bolsonaro que afetam os trabalhadores. 

“Cada dia ele desfere um ataque diferente para os trabalhadores e os metroviários também são vítimas dessas ações. Bolsonaro é o que há de pior na política brasileira e o que há de pior para os direitos do povo. Combater este governo é combater o fascismo, é combater as ideias nazistas que dominam esse governo, e com certeza para o povo trabalhador não tem nenhuma saída a não ser a luta pra tentar barrar esse processo", defende.

Educação

Simone Nascimento, ex-diretora de Assistência Estudantil da União Nacional dos Estudantes (UNE), falou sobre a importância da presença da juventude na manifestação. “Estar aqui com o trabalhadores é fundamental no sentido que a luta é uma só. É contra esse projeto de governo bolsonarista que tem precarizado a vida dos mais pobres. E os mais pobres são a juventude, os trabalhadores, negros, negras, mulheres, LGBTQIA+. Muitos dos trabalhadores têm filhos, muitos dos estudantes são trabalhadores. Muitos dos trabalhadores são estudantes.” 

O estudante Alexandre Terini, militante do movimento Juntos, integra a manifestação para protestar "contra os cortes e o caos na Educação" e pedir a saída do ministro Abraham Weintraub, titular da pasta, devido aos erros cometidos na divulgação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele considera que o sucateamento da Educação e o aumento da precarização do trabalho tira a perspectiva dos jovens brasileiros.

"Muitos jovens não tem conseguido acessar a universidade pelo corte das bolsas de estudo e isso tem afetado muitas pessoas pelo país inteiro. A universidade tem se distanciado cada vez mais das perspectivas do jovem no Brasil em favor de uma mão de obra cada vez mais precarizada que eles querem garantir. Então a gente tá realmente numa situação de fragilidade, a gente não tem uma perspectiva de futuro", aponta.

Edição: Leandro Melito