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Opinião

Artigo | Crenças Atrasadas: Religião ou Superstição?

A manipulação da fé popular em busca de vantagens financeiras e político-eleitorais

04.fev.2020 às 08h01
Porto Alegre
Cristovao Feil

Assinalados na fotografia, Steve Bannon, articulador da extrema-direita mundial, e o astrólogo Olavo de Carvalho. - Divulgação

“É pena ver o governo atual mergulhado em crenças atrasadas que podem prejudicar no largo prazo o nosso destino como nação”. (Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado no dia 2 de fevereiro de 2020)

 

Todos sabemos, nos dias de hoje, que espertalhões exploram a fé popular para obterem vantagens econômicas, mas também – e sobretudo – força político-eleitoral. Há muitos anos esse fenômeno vêm se verificando no Brasil, bem antes do golpe de Estado de 2016. Hoje, temos um grupo político no poder de Estado que se reivindica laços religiosos da fé cristã, sem qualquer correspondência com o legado original de Cristo. Ao contrário, se projetaram de estratos sociais (e territórios inteiros) onde mina a criminalidade miliciana como meio de vida normalizado e próspero, valendo-se da ausência do Estado e/ou da sua inoperância. 

Essa gente maneja grosseiramente a religião de forma utilitarista, para lograr êxito nos seus propósitos de ambição política e pecuniária. Já não praticam religião, mas a transfiguraram e a rebaixaram para superstição sórdida e rasteira.

Já se vê que estamos retornando ao subsolo da nossa civilização (sempre incompleta). A religião, nos ensina Weber, é um estágio cultural-civilizatório superior e avançado em relação ao pensamento mágico-mítico-supersticioso. Pois estamos trazendo de volta algo que é parte da arqueologia, se podemos falar assim, do ser humano. A continuar assim, em breve estaremos habitando a caverna de Platão, onde as sombras e os ecos faziam as vezes do real.

Outros antropólogos entendem a religião como uma forma primitiva de instituições como o direito, a política, e a ciência. Através das religiões as comunidades arcaicas coordenavam suas questões disciplinares, comportamentais, morais e políticas. Certas religiões impunham regras, para além da ética, no campo da higiene pessoal, alimentação adequada e práticas comunitárias visando a coesão social. Bastava acreditar na vida eterna e em um Deus onisciente. A introdução destes elementos disciplinares asfaltam o caminho para o surgimento do Estado moderno, e de um modo de produção onde o trabalho é o criador da riqueza e do excedente (ainda que com apropriação privada). Mas a religião não deu conta dos desvios que esse “progresso” propiciou. Não só não deu conta, quanto foi tomada pelo utilitarismo do poder de déspotas, tiranos e genocidas colonianistas, quase todos da dita civilizada Europa. 

Voltaire, já no século 18, foi um ácido crítico dos desvios da religião e da ideia de uma divindade suprema, e ao mesmo tempo, recompensador (no sentido do suborno) e vingativo (a ideia do inferno). O intelectual e enciclopedista francês ficava muito à vontade para fazer suas duras críticas às instituições religiosas e sobretudo à Igreja, uma vez que ele mesmo era um deísta, acreditava em um ser superior, mas desacreditava das religiões organizadas e instituídas, com as suas corrupções e desvios mundanos (o papa Francisco que o diga, nos dias de hoje).

Voltaire entendeu que a religião funcionava como elemento disciplinador, ético-moral e pacificador dos instintos mais primitivos somente para “la canaille” (a gente comum do povo). O poder se nutria da força moral da Igreja para produzir medo (inventou o Deus vingativo e a constante ameaça do Inferno) e sugerir suborno (o Deus bondoso e recompensador, em troca de obediência cega e resignação desmobilizadora). Deus funcionava como um instrumento manipulatório em favor dos interesses e ambições do poder e do mandonismo.

“O primitivo divino foi o primeiro bandido que encontrou o primeiro bobo” – Voltaire expelia fogo e enxofre intelectual da sua pena. Ao mesmo tempo, o filósofo exalta Cristo na teologia do Sermão da Montanha e as andanças do jovem nazareno em meio aos sábios, alertando e lastimando os crimes que eram cometidos “em nome do Pai”.

A atualidade de Voltaire é extraordinária, em especial na atual conjuntura delinquencial do Brasil, onde os limites entre Justiça e bandidagem são plásticos e elásticos, conforme a conveniência de cada fator de uma terrível e trágica equação.

O grande filósofo do Iluminismo foi um dos primeiros que intuiu e denunciou a calculada (e politizada) confusão entre a manifestação autêntica da fé e o mero ato supersticioso rebaixado e egoísta, sempre interessado na vantagem negocial entre o divino e o próprio indivíduo.

Precisamente o que ocorre nos nossos dias. Tanto nos campos de futebol, quanto no círculo de poder planaltino, vêem-se cenas de rezadores contritos e fervorosos empenhados em conquistas fúteis e terrenas.

Aos 83 anos, o velho filósofo começou a conciliar-se com a morte. Quando sua filha vinha beijá-lo, dizia: “A vida beijando a morte”. No final, certo dia apareceu um abade em sua casa, para ouví-lo em confissão. “Quem vos mandou, senhor abade?”, disse o velho. “O próprio Deus”, foi a resposta. “Muito bem, senhor, onde estão vossas credenciais?” O homem foi embora sem conseguir o seu intento.

O agoniante plano inclinado para o fim da vida já estava inexoravelmente traçado. Semanas antes de morrer, o que acaba acontecendo em 30 de maio de 1778, Voltaire chama o seu secretário e dita-lhe uma declaração final: “Morro adorando a Deus, amando meus amigos, sem odiar meus inimigos e detestando a superstição”.

Encerro com a palavra de ordem de Voltaire, gravada em cada artigo e cada carta que escrevia:

“Esmagai o infame”.

Em 3 de fevereiro de 2020.

 

*Sociólogo

Editado por: Marcos Corbari
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