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Ansiedade: quando é normal e quando é um transtorno?

A ansiedade patológica é sempre essa iminência de que algo vai acontecer

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O que diferencia uma ansiedade normal de uma ansiedade patológica? - Aarón Blanco Tejedor/Unsplash
A ansiedade patológica é sempre essa iminência de que algo vai acontecer

Você certamente já ouviu falar de ansiedade e possivelmente já passou por alguma situação em que sentiu frio na barriga, mãos frias e o coração acelerar. Pois é, a ansiedade faz parte da vida do ser humano, mas como saber quando ela passa do limite e se transforma um transtorno de ansiedade? Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Carolina Miralha a diferença está no que essa ansiedade provoca em você. Ela te paralisa? Te impede de seguir com a rotina? Seus planos de vida? Se sim, talvez tenha chegado a hora de procurar ajuda profissional. 

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Antes de fazer um esclarecimento técnico, a psicoterapeuta Carolina Miralha traz um contraponto com um sentimento que todos conhecemos muito bem: o medo. 

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“O medo é aquilo ligado ao presente. Eu consigo por exemplo, pontuar do que eu tenho medo. A ansiedade é aquilo que todo indivíduo tem. No entanto, o risco é no futuro. O que diferencia uma ansiedade normal de uma ansiedade patológica? É o tempo de duração. A  ansiedade normal: aquilo que antecede algumas situações corriqueiras, a iminência de uma viagem; uma prova; alguma situação que é estressante em algum sentido e que me deixa ansiosa. Passou aquela situação, eu volto ao meu estado normal, digamos assim. A ansiedade patológica é sempre essa iminência de que algo vai acontecer, possibilidades futuras que muitas vezes nos paralisam e que fazem, inclusive, entrar no movimento de procrastinação na tentativa de se evitar algo que eu não sei o que. E aí o tempo de duração faz com que essa ansiedade vira um transtorno de ansiedade", explica.

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Apesar de essa ser a configuração para todos os seres humanos, nem todo mundo vai desenvolver um transtorno, mas, caso se chegue ao limite em que a pessoa perceba que as ações foram paralisadas por causa da ansiedade, chegou a hora de procurar um profissional. Neste caso, o ideal é passar pela avaliação de um psicólogo ou até mesmo um psiquiatra. 

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"Métodos para combater: terapia e medicamentos, a partir do momento em que isso é diagnosticado como um transtorno. Transtorno a tal ponto de prejudicar a vida cotidiana desse sujeito. Aí o acompanhamento é sempre em conjunto com um psiquiatra e psicólogo", recomenda.

Abraçando a própria realidade

A jornalista Carol Amorim, de 29 anos, se descreve como uma pessoa que sempre foi ansiosa desde a infância. Mas a percepção de que a ansiedade dela era, na verdade, um transtorno foi percebida durante as sessões de terapia. 

"Eu identifiquei que eu tinha sociedade a partir do tratamento com a psicóloga mesmo e através desse tratamento eu aprendi a identificar comportamentos que eu tinha desde muito cedo na minha vida, desde muito criança, que era de fuga. Não encarar determinadas coisas por medo por alguns bloqueios. Na verdade eu procurei a psicóloga porque eu não estava tendo forças pra fazer coisas que eu achava que eu queria muito. Aí eu comecei a me taxar de preguiçosa, inerte. Comecei a me julgar e aí o meu quadro só foi piorando. Coisas que eu gostava muito de fazer eu já não conseguia mais fazer", conta.

Esse sentimento de ser paralisada é o que pontuou a psicóloga Carolina Miralha. No caso da jornalista, ela optou por não seguir um tratamento com medicamentos, uma vez que não conseguiu se adaptar aos efeitos colaterais do antidepressivo.

"Eu faço acompanhamento psicológico com a mesma terapeuta ainda. Completei um ano na terapia e eu me sinto muito melhor. A gente tentou iniciar tratamento com antidepressivos, mas eu não me adaptei muito bem. Conversei com ela e escolhi o caminho mais difícil que é fazer o tratamento sem o remédio", relata. 

A decisão sobre a escolha da medicação para tratamento de ansiedade deve ser feita sempre por meio do aval de um profissional da área. Contudo, Carol acredita que o principal recado que uma crise de ansiedade pode trazer é que precisamos nos aceitar e abrir um pouco mão de ter controle sobre coisas que não podem ser controladas.

"Eu sei que eu sempre vou manifestar esse tipo de comportamento, que eu sempre vou estar propícia a ter um surto, a me desesperar, em um determinado dia não conseguir fazer nada se eu não respeitar os meus limites e eu não ficar atenta ao que o meu corpo e a minha mente estão manifestando o tempo todo. Então, eu acho que a ansiedade acaba sendo um grande chamado para que a gente olhe mais pra dentro mesmo para o que a gente é o que a gente sente de verdade", diz.

Para as pessoas que têm transtorno de ansiedade, Carol deixa um recado sobre se abraçar, se respeitar e, sobretudo, estar sempre em busca do autoconhecimento para melhorar o relacionamento que temos conosco e com o outro.

"Se aceite, se conheça, se respeite. Não deixe que o julgamento ou o pensamento das pessoas de como você deveria agir sobre determinada situação te molde e aprenda você a se ouvir com todas as suas negatividades, com todas as suas qualidades e sendo você mesma a primeira pessoa que vai se defender e também reconhecer onde você está falhando para mudar”, conclui. 

Edição: Douglas Matos