Ativismo

Ativista russa critica Bolsonaro: "Que liberdade é essa, se você mata opositores"?

Masha Alyokhina, da banda Pussy Riot, veio ao Brasil para lançar livro que narra seus dias na prisão

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Masha Alyokhina, da banda russa Pussy Riot, durante lançamento do livro "Riot Days" - José Eduardo Bernardes

Presa por quase dois anos, após realizar uma intervenção artística em uma igreja cristã ortodoxa em Moscou, capital da Rússia, Masha Alyokhina, da banda Pussy Riot, decidiu dividir as experiências que teve no cárcere e os motivos que a levaram a ser presa no livro Riot Days, lançado no Brasil na última sexta-feira (31). 

Por aqui, a publicação teve parceria com mulheres do sistema prisional. Egressas da Cooperativa Libertas, elas foram responsáveis por confeccionar uma balaclava amarela que envolve a capa do livro. Além disso, duas presas que estavam no mesmo presídio - Santana, Zona Norte de São Paulo -- da ativista Preta Ferreira adicionam duas histórias em cordel à publicação.

No Brasil, a russa Masha Alyokhina, encontrou não apenas parceiras para a confecção do livro, mas também semelhanças que aproximam as mulheres encarceradas nos dois países e espera incentivar o ativismo brasileiro com sua história.

"A distância entre os nossos países é grande. E ver as semelhanças entre os dois sistemas (prisionais), de certa maneira é muito triste, mas por outro lado, fico feliz de podermos fazer coisas juntas. E de alguma forma ajudar essas meninas também", explica.

Masha espera que sua história de ativismo, ao lado do coletivo Pussy Riot, seja útil para as brasileiras. "Para aquelas que queiram ser ativistas, aquelas que já são ativistas também. Porque são diversas situações em que fizemos nossas escolhas e eu espero que, de alguma maneira, as pessoas aqui possam tomar suas próprias decisões", completa.
 
Além do lançamento do livro, Masha também integrou a programação do festival Verão Sem Censura, da Prefeitura de São Paulo, que até o dia 31 de janeiro apresentou gratuitamente obras que, de alguma maneira, foram alvo de censura nos últimos anos, assim como a banda Pussy Riot. 

A iniciativa é comemorada pela ativista russa, que neste caso, não encontra similaridades com sua terra natal.

"No nosso país esse é um dos principais problemas e tem ficado cada vez pior. Aqui ainda está começando, com a presidência de Jair Bolsonaro. Mas na Rússia, Putin já está há 20 anos na presidência. Não temos nenhum canal de TV, nenhum grande jornal que seja independente. Não temos direito de sair às ruas para protestar porque as pessoas são detidas", afirma. 

Uma possível ligação entre pessoas do entorno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a morte da vereadora carioca, Marielle Franco (PSOL), ainda sem resolução, também foi lembrada pela ativista russa. Masha questionou o discurso de Bolsonaro sobre liberdade:  

"Já vi declarações de Bolsonaro sobre liberdade. Ele diz que é libertário. Que liberdade é essa se você mata seus opositores, em que agentes ligados ao seu filho matam uma mulher só por ela ser sua opositora? Isso não é liberdade, é hipocrisia", afirma.

Edição: Leandro Melito