CINEMA

Com protagonista recifense, filme “Alice Júnior” será exibido em Berlim

Filme retrata as mudanças na vida de uma adolescente transgênero

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Protagonizado por Anne Celestino Mota, mostra a avalanche de mudanças na vida de Alice, que muda do Recife para uma escola católica - Divulgação

De forma bem humorada e leve, o diretor Gil Baroni leva ao cinema mais uma vez a discussão sobre gênero e sexualidade, dessa vez com o longa metragem Alice Júnior.  O filme foi selecionado para quatro exibições dentro do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que acontece de 20 de fevereiro a 1 de março.

A produção paranaense será exibida na a mostra Generation do festival, dedicada a retratar a realidade de jovens ao redor do mundo. Protagonizado por Anne Celestino, o filme mostra a avalanche de mudanças na vida de Alice, que muda do Recife para uma escola católica localizada numa pequena cidade do Paraná. 

Transgênero e nordestina, o corpo, a voz e a visão de mundo de Alice contrastam com o ambiente pacato da cidade fictícia de Araucária do Sul. Anne Celestino que começou a atuar ainda na infância com aulas de teatro e continua seus estudos na universidade. Em entrevista ao Brasil de Fato, a atriz conta que alguns pontos na sua vida são comuns aos da personagem. 

“Eu e Alice temos várias semelhanças e diferenças. A Alice é muito mais ‘blogueirinha’ que eu e muito mais empoderada do que eu, porque no filme ela é bem mais jovem. A Alice é bem acolhida pelos pais, tem toda uma história de proteção, amor e carinho, o que se parece muito comigo, especialmente em relação à minha mãe”.

No longa, Alice faz parte de uma área profissional em ascensão nos últimos anos: a produção de conteúdo para a internet. A personagem é Youtuber, o que casa com o projeto gráfico moderno do filme, com uma linguagem cheia de elementos da vida online, como os memes.

A proposta de criar uma narrativa onde a personagem é acolhida pela família e leva uma vida confortável não esconde o contraste entre a vida da personagem e a realidade das pessoas trans fora das telas. Celestino acredita que o filme deve ser utilizado o filme como uma ferramenta de debate, especialmente nas escolas, um ambiente historicamente hostil para essa parcela da população

“O filme deve ser passado em escolas também, porque é muito didático sem perder a leveza. É uma maneira muito bonita de ensinar. Com os prêmios o filme ganha visibilidade no sentido de ser uma atriz trans interpretando uma personagem trans, e dá também a oportunidade dele chegar e ser exibido em mais lugares”, projeta Anne. 

Prêmios

Lançado em setembro passado o filme já acumula importantes premiações. No Festival do Rio foi eleito melhor filme pelo júri popular e melhor longa brasileiro. No Festival de Brasília, foi o segundo maior premiado com quatro Candangos - troféu que homenageia os brasilienses -  de melhor atriz (Anne Celestino), atriz coadjuvante (Thais Schier), trilha sonora (Vinicius Nisi) e montagem (Pedro Giongo).

No Festival Mix Brasil foi escolhido como melhor longa metragem nacional e teve o prêmio de melhor interpretação apra Anne Celestino. 

Celestino comemora a repercussão positiva do filme espera ver a aceitação de seu trabalho quando o longa chegar nas salas comerciais, em junho deste ano. “Por enquanto, com o filme rodando os festivais, nós estamos encontrando um público muito bom. Eu quero muito ver a resposta do filme quando ele chegar nas telas dos cinemas comerciais, para ver a aceitação do grande público. Por enquanto a energia é muito positiva e tem gerado muita visibilidade”. 

Além de Alice Júnior, outras quatro produções brasileiras também serão exibidas no Festival de Berlim deste ano. Meu Nome é Bagdá, dirigido por Caru Alves Souza,  foi selecionado para a mostra Generation.  Cidade Pássaro, coprodução entre Brasil e França dirigido por Matias Mariani,  foi selecionado para a mostra Panorama e  Apiyemiyekî, coprodução com França e Holanda dirigido pela brasileira Ana Vaz estará na seleção Forum Expanded.

O longa-metragem Todos os Mortos de Caetano Gotardo e Marco Dutra foi selecionado para a competição principal do Festival.

Confira os  filmes que participam da mostra competitiva do Festival de Berlim

Berlin Alexanderplatz (Alemanha/Holanda), por Burhan Qurbani
Com Welket Bungué, Jella Haase, Albrecht Schuch, Joachim Król, Annabelle Mandeng, Nils Verkooijen, Richard Fouofié Djimeli.
Estreia mundial.

DAU. Natasha (Alemanha/Ucrânia/Reino Unido/Rússia), por Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel
Com Natalia Berezhnaya, Olga Shkabarnya, Vladimir Azhippo, Alexei Blinov, Luc Bigé.
Estreia mundial.

Domangchin Yeoja (The Woman Who Ran) (Coreia do Sul), por Hong Sangsoo
Com Kim Minhee, Seo Younghwa, Song Seonmi, Kim Saebyuk, Lee Eunmi, Kwon Haehyo, Shin Seokho, Ha Seongguk.
Estreia mundial.

Effacer L’historique (Delete History) (França/Bélgica), por Benoît Delépine e Gustave Kervern
Com Blanche Gardin, Denis Podalydès, Corinne Masiero.
Estreia mundial.

El Prófugo (The Intruder) (Argentina/México), por Natalia Meta.
Com Érica Rivas, Nahuel Pérez Biscayart, Daniel Hendler, Cecilia Roth, Guillermo Arengo, Agustín Rittano, Mirta Busnelli.
Estreia mundial.

Favolacce (Bad Tales) (Itália/Suíça), por Damiano & Fabio D’Innocenzo
Com Elio Germano, Barbara Chichiarelli, Lino Musella, Gabriel Montesi, Max Malatesta.
Estreia mundial.

First Cow (EUA), por Kelly Reichardt
Com John Magaro, Orion Lee, Toby Jones, Scott Shepherd, Gary Farmer, Lily Gladstone.
Estreia internacional.

Irradiés (Irradiated) (França/Cambodja), por Rithy Panh.
Filme documentário.
Estreia mundial.

Le Sel des Larmes (The Salt of Tears) (França/Suíça), por Philippe Garrel
Com Logann Antuofermo, Oulaya Amamra, André Wilms, Louise Chevillotte, Souheila Yacoub.
Estreia mundial.

Never Rarely Sometimes Always (EUA), por Eliza Hittman
Com Sidney Flanigan, Talia Ryder, Théodore Pellerin, Ryan Eggold, Sharon Van Etten.
Estreia internacional.

Rizi (Days) (Taiwan), por Tsai Ming-Liang
Com Lee Kang-Sheng, Anong Houngheuangsy.
Estreia mundial.

The Roads Not Taken (Reino Unido), por Sally Potter
Com Javier Bardem, Elle Fanning, Salma Hayek, Laura Linney.
Estreia mundial.

Schwesterlein (My Little Sister) (Suíça), por Stéphanie Chuat, Véronique Reymond
Com Nina Hoss, Lars Eidinger, Marthe Keller, Jens Albinus, Thomas Ostermeier, Linne-Lu Lungershausen, Noah Tscharland, Isabelle Caillat, Moritz Gottwald, Urs Jucker.
Estreia mundial.

Sheytan Vojud Nadarad (There Is No Evil) (Alemanha/República Checa/Irã), por Mohammad Rasoulof
Estreia mundial.

Siberia (Itália/Alemanha/México), por Abel Ferrara
Com Willem Dafoe, Dounia Sichov, Simon McBurney, Cristina Chiriac.
Estreia mundial.

Todos os Mortos (All the Dead Ones) (Brasil/França), por Caetano Gotardo e Marco Dutra
Com Mawusi Tulani, Clarissa Kiste, Carolina Bianchi, Thaia Perez, Alaíde Costa, Leonor Silveira, Agyei Augusto, Rogério Brito, Thomás Aquino, Andrea Marquee.
Estreia mundial.

Undine (Alemanha/França), por Christian Petzold
Com Paula Beer, Franz Rogowski, Maryam Zaree, Jacob Matschenz.
Estreia mundial.

Volevo Nascondermi (Hidden Away) (Itália), por Giorgio Diritti
Com Elio Germano.
Estreia mundial.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Leandro Melito e Monyse Ravena