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Paulo Freire e saúde pública: um caminho libertador

A pesquisadora Grasiele Nespoli explica como a saúde pública se relaciona com a educação popular

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A educação libertadora de Paulo Freire valoriza os saberes e as práticas populares de cuidado - Instituto Paulo Freire
A pesquisadora Grasiele Nespoli explica como a saúde pública se relaciona com a educação popular

O cenário é de um Brasil, cujo presidente, Jair Bolsonaro, desfere ao educador brasileiro Paulo Freire o título de “energúmeno”. Para além das representações político-ideológicas entre esquerda e direita, o mundo construído onde Paulo Freire é tido como “energúmeno” é o seguinte: de um lado a elite política, levantada em cima de bases pragmáticas que deixam os saberes populares, assim como suas populações, ao léu.

O que faltou na construção desse mundo foi mesmo Paulo Freire, cuja ausência é retratada no esquecimento e adoecimento do povo brasileiro. 

A análise é da professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio das Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), Grasiele Nespoli. Mas o que o adoecimento da população e saúde pública têm a ver a educação popular de Paulo Freire?

Resumidamente, a educação popular é “muito importante” para a saúde pública, “porque valoriza os saberes e as práticas populares de cuidado”, afirma Nespoli.

Ao contrário, no cenário atual, são produzidas práticas que não valorizam todas as vidas, tornando-se imprescindível “construir caminhos coletivos que possam fortalecer a vida de todo o mundo”.

Para isso, Nespoli defende a educação popular como o primeiro e mais sensato caminho, porque “se preocupa em libertar as pessoas que estão mais vulneráveis das situações de vida precária, dos seus sofrimentos, porque a desigualdade e a pobreza são fatores que geram muitos problemas de saúde pública, adoecimento e morte”. 

A pesquisadora explica que a o método de Paulo Freire compreende a educação enquanto um ato político comprometido com a transformação do mundo. Longe de propor uma educação doutrinadora, as ideias freirianas propõem que “ninguém educa ninguém, mas que os homens se educam entre si na relação com o mundo”. “O principal é não impor um determinado conhecimento sobre o outro, é promover o diálogo entre os saberes", ressalta.

Nesse sentido, Nespoli afirma que a educação popular reconhece todos os seres humanos como sujeitos de conhecimento, uma vez que todos possuem algum saber: “os saberes que derivam das experiências de vida, de trabalho, nas relações comunitárias, familiares, na relação com as escolas, com os serviços de saúde”. 

Ao lado da educação popular, que começa a se tornar um campo crescente desde a década de 1980 no Brasil, também caminha a promoção e a defesa da saúde pública enquanto um direito universal, como garante a Constituição Federal do país. 

“A saúde não pode ser uma mercadoria. Não podemos permitir que somente quem tenha dinheiro possa ter acesso aos serviços de saúde. Mais do que isso, todos devem ter boas condições de vida. Um povo sem condições de vida vai adoecer e vai morrer", alerta.

Edição: Leandro Melito