Carnaval

Bloco leva Estatuto da Criança e do Adolescente ao Carnaval de São Bernardo do Campo

Bloco levou ao Carnaval reflexão sobre os direitos da juventude e referência à militante ambiental Greta Thunberg

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bloco EurECA tomou as ruas de São Bernardo do Campo , no ABC paulista - Nara Lacerda/ Brasil de Fato

“Como vocês se atrevem?
Apagar a minha história
Limitar minha memória
Massacrar nossa nação”

A referência direta à frase da jovem militante ambiental Greta Thumberg , Como vocês se atrevem, foi o fio condutor da folia do bloco EuRECA (Eu Reconheço o Estatuto da Criança e do Adolescente), que tomou as ruas de São Bernardo do Campo nesta sexta-feira (21).

Há quase três décadas o grupo se reúne para brincar o Carnaval com reflexões sobre os direitos da infância e da juventude. O enredo de 2020 dialoga diretamente com as preocupações e questionamentos dos grupos de crianças e adolescentes ligados ao bloco.

A questão ambiental tem caminhado para se tornar uma pauta da juventude global e reação das ruas da cidade do ABC paulista comprovam esse cenário. Comerciantes e transeuntes pararam para ver o bloco passar e alguns se juntaram ao batuque. 

Em carta aberta à sociedade o EuRECA ressalta que as temáticas foram discutidas com a meninada que compõem o bloco e que outras questões sociais surgiram nesse processo. “Trazendo para a realidade brasileira, conversamos com os meninos e as meninas, a importância de sermos latino- americanos, valorizando todos os povos do nosso continente, em especial os indígenas, que vivem nessa terra há séculos, os africanos, que foram escravizados e hoje seus descendentes são a maioria da população brasileira, ouvimos a voz desses grupos contra o processo de exploração que oprime a classe trabalhadora, violenta, tortura e mata crianças, adolescentes e jovens.” 

A situação política e a realidade econômica do Brasil também estão no documento, entregue a quem se juntou ao bloco e a quem parou para ver a folia passar. “Hoje o atual governo federal tem demonstrado um total desprezo pelas populações mais vulneráveis, expondo uma face cruel (...)as balas sempre acertam o corpo negro, pobre e periférico (…) O desemprego enorme sufoca as famílias, trazendo meninos e meninas para as ruas do Brasil.”

Néia Bueno, uma das organizadoras do bloco, afirma que as reflexões fazem parte de um processo de formação que dura o ano todo e que incluí as crianças e adolescentes em todas as etapas.

“Tudo parte de um processo de formação. Aqui é o final do bloco, mas ele dura o ano todo. Termina agora e daqui a gente parte para uma avaliação e começa a pensar o que vai fazer no próximo ano. As crianças fazem parte desse processo, é o que a gente tenta fazer, porque não dá para trazer o pessoal para a rua sem que eles saibam o que estão fazendo.”

Apesar das críticas o EurECA também elencou avanços que devem ser comemorados, como os trinta anos do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente e o crescimento de articulações e mobilizações em defesa da infância e da juventude.

Escuta, a pirralhada aqui resiste
É brincante, não só triste
Aqui tem luta e imaginação

Edição: Leandro Melito