Carnaval na Amazônia

Circuito Mangueirosa: o resgate do Carnaval de Belém do Pará

Belém já figurou entre os maiores carnavais do Brasil e a valorização da cultura local é prioridade do Mangueirosa

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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Para a edição de 2020, a organização aguarda 60 mil pessoas. - Arquivo/Circuito Mangueirosa

Belém do Pará é conhecida também como a Cidade das Mangueiras, mas você já ouviu falar do Circuito Mangueirosa? O evento é realizado na época do Carnaval por seis produtoras locais, que se uniram com o objetivo de resgatar o Carnaval paraense.

Este ano serão 50 atrações incluindo Pitiú,  Revoada e Banzeiro e a expectativa de público é de que 60 mil pessoas participem. A organização diz que além de fortalecer a cultura, o evento gera 300 empregos diretos e 1,2 mil indiretos.

A abertura é nesta sexta-feira (21), às 19h, com shows de Dona Onete, Ita Lemi Sinavuru e DJ Jack Sainha. A programação é gratuita, no Ver-o-Rio, às margens da Baía do Guajará, com acesso pela Avenida Marechal Hermes.

Cidade pré-carnavalesca

A primeira edição do evento foi realizada em 2019 e recebeu mais de 40 mil brincantes. Em Belém, a tradição, nessa época do ano, são os pré-carnavais e, geralmente, nos dias a população sai da cidade para aproveitar a festividade em outros municípios ou estados do Brasil.

O Mangueirosa surge com essa proposta de fazer com que o paraense aproveite o carnaval na capital e também seja um foco de atração de turistas, que busquem curtir um carnaval em ritmo amazônico. 

A gente está tentando fazer um carnaval paraense com atrações, músicas paraenses priorizando a cultura do Pará.

Maurício Viana, da Melé Produções, uma das organizadoras do evento, conta que a ideia de criar o circuito surgiu quando as seis produtoras envolvidas decidiram fazer um grande festival no carnaval, justamente, incomodados, porque nessa época do ano, a cidade costumava ficar esvaziada por falta de opções culturais.

Viana recorda que, antes da primeira edição, em 2019, o conjunto musical Bando Mastodontes, organizadora do bloco Manada, estava planejando fazer um evento no sábado de carnaval. O bloco Filhos de Glande, que queria fazer uma festa na terça. Quando os dois grupos perceberam que poderiam unir os blocos e conhecimentos da cena cultural paraense, plantaram a semente Circuito Mangueirosa.

"Quando a gente viu que tinha potencial para fazer um grande evento de graça foi quando a gente se deu conta de que o circuito era muito maior do que os blocos. Foi assim que surgiu. Tudo isso surgiu por causa do carnaval, porque várias produtoras já viam um movimento de resgate do carnaval em Belém", afirma. 

Segunda edição

A ideia deu tão certo, que para a edição de 2020 eles aguardam mais 20 mil pessoas quando comparado a 2019. Maurício reforça ainda que Belém tem uma cena cultural própria e rica e valorizar isso é também fortalecer as raízes do povo paraense.

"A gente está tentando fazer um carnaval paraense com atrações, músicas paraenses priorizando a cultura do Pará. Lógico que a gente abre as portas para outros outros ritmos, outras referências, outros artistas de fora, outras músicas. Mas a gente quer dar uma cara paraense para o carnaval paraense, porque o Pará é uma terra muito criativa, muito quente em vários e culturas. Então, a gente está usando dessa cultura para fazer esse carnaval genuinamente paraense e eu acho que essa toda é a diferença. O Carnaval da Bahia, a gente sabe como é; o Carnaval de Recife a gente sabe como é. Então, a gente não queria ser só mais um Carnaval, sendo que a gente têm algo tão rico aqui dentro na nossa terra", pontua.

 


Entre os ritmos do Carnaval de Belém estão: brega, lambada, carimbó, batuques, carimbó chamegado, frenético e muitos outros ritmos (Assessoria/Circuito Mangueirosa)

Belém dos 300 blocos

Gustavo Moreira, produtor cultural, responsável pelo bloco Manada, que vai tocar neste domingo (23) conta que uma grande inspiração para as produtoras do Circuito Mangueirosa foi o conhecimento que Resenildo Franco, pai de um dos membros, tem sobre o carnaval da cidade. 

"Era muito inspirado no Carnaval do Rio de Janeiro, tanto que o que rolava mesmo era bloco de rua e as escolas de samba também muito fortes. Ele tem vários registros do Caetano e do Gil no Quem São Eles no final da década de 70. Ele narra a história da Belém dos 300 blocos, que se você saísse do Ver-o-Peso até o Mercado de São Braz, que é um percurso de mais ou menos uns quatro quilômetros você daria de encontro com 300 blocos, uns maiores, uns menores. Uns com mil brincantes e outro só com uma família, mas tu encontrarias 300 blocos. Isso na década de 80", conta. 

Gustavo também cuida de toda a parte logística e da montagem do espaço, no Ver-o-Rio. Segundo ele, o advento do Axé Music foi um dos motivos que modificou a estrutura do Carnaval paraense. Por isso, hoje, o circuito faz questão de valorizar os artistas da terra.

"Na década de 90 veio o fenômeno do Axé Music, Axé Bahia e o Carnaval de Belém acabou virando o carnaval do abadá. Ele foi engolido por uma proposta comercial, meio que importada da Bahia. Muita coisa se perdeu dessa tradição carnavalesca de Belém, que tinha muito haver com fantasia, baile de máscara, batalha de confete, muito disso se perder na era do Abadá". 

Gustavo pontua ainda que é uma responsabilidade muito grande elaborar um evento que leva as pessoas para as ruas, porque é preciso fornecer conforto e, sobretudo, segurança para as pessoas e o Mangueirosa se inspirou nos maiores carnavais do Brasil.

"A gente oferece uma programação 100% paraense com uma estrutura extremamente profissional de evento que dá conforto e uma opção legal de cultura gratuita pro público. A gente tem shows no Ver-o-Rio, que é um lugar lindo, às margens da Baia do guajará, que é uma vista inesquecível de Belém. Tudo bem que está só chuva nessa época, mas o povo não tem muito problema de se molhar. A gente segue em cortejo pelas ruas, que também é uma tradição das festas carnavalescas de Belém. A gente ocupa a rua. Então, tem muita coisa legal que acontece", afirma.

 


Brincantes de Belém do Pará com fantasias que homenageiam as aparelhagens da cidade / Assessoria/Circuito Mangueirosa

Para o DJ Raul Bentes, que toca no dia 22 de fevereiro e tem um repertório que valoriza os artistas locais, o diferencial do Carnaval de Belém, principalmente, do Circuito Mangueirosa é a preocupação em valorizar ainda mais a música paraense. 

"Mostrar músicas paraense, mostrar as músicas daqui, dos artistas daqui, colocar os músicos daqui para tocarem a música deles mesmos, as músicas autorais e fazer essa essa representação. Claro que rola outros estilos, mas tem essa preocupação em tocar e mostrar o que é nosso e o mais diferencial ainda é saber que o público está lá pra ouvir exatamente isso." 

O Carnaval do Circuito Mangueirosa começa nesta sexta, dia 21, e segue até o dia 25 de fevereiro. A programação é gratuita, mas há programações pagas ao valor de R$ 15, o ingresso.

Edição: Rodrigo Chagas