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Política de Bolsonaro para o cinema “é um crime", diz atriz portuguesa em Berlim

Leonor Silveira atua em Todos os Mortos, filme brasileiro na competição internacional do Festival de Cinema de Berlim

Brasil de Fato | Berlim* |
Leonor Silveira, atriz portuguesa descoberta por Manoel de Oliveira, atravessou o Atlântico para filmar no Brasil - Foto: John MACDOUGALL / AFP

Atriz portuguesa no filme Todos os Mortos, Leonor Silveira define como " um crime,  uma vergonha mundial" o que o governo Bolsonaro está fazendo contra o cinema no Brasil. A declaração foi feita ao Brasil de Fato,  durante o Festival Internacional de Cinema de Berlim.

"Tenho pena por não perceberem o mal que estão a fazer ao Brasil. Mas também sei que foram se meter com quem não deviam, porque artista tem resistência como diz a Sara Silveira, para continuar a criar. E o artista brasileiro é muito bom em todas as áreas. E esse palco, como é o da Berlinale, que traz este ano 19 filmes brasileiros e outros que vierem no próximo ano, mostra e mostrará o que é a coragem e a capacidade do cinema brasileiro e não há nada que impeça que isso continue", afirmou a atriz.

Na ocasião da estréia de Todos os Mortos no Festival, Sara Silveira, produtora do filme já havia alertado para os riscos colocados ao cinema nacional pelo governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro.

"Estamos sendo totalmente tolhidos, freados por um governo que não entende, talvez por lhe faltar inteligência. Já que são tão neoliberais porque não entendem que proporcionamos empregos, idéias, diversidade e, sobretudo, resistência", afirmou em entrevista ao Brasil de Fato.

Primeira atuação no Brasil

Leonor Silveira, atriz portuguesa descoberta por Manoel de Oliveira, um dos maiores cineastas portugueses, atravessou o Atlântico para filmar pela primeira vez no Brasil. Ela faz parte do elenco de nove mulheres do filme Todos os Mortos, na competição internacional do Festival de Cinema de Berlim.

A presença de Leonor Silveira no filme dos brasileiros Caetano Gotardo e Marco Dutra, foi importante, pois Todos os Mortos lembra uma época em que o Brasil era ainda bastante próximo de Portugal, apenas dez anos após a proclamação da República, logo depois de ter acabado a escravatura dos descendentes dos negros levados da África.

"Nunca participei em filmes do cinema brasileiro, essa é a minha primeira vez e o fiz com muita satisfação e muito orgulho. Caetano e Marco vieram ao meu encontro em Portugal e me propuseram essa participação, uma oportunidade maravilhosa. Tivemos os primeiros contatos por email mas depois vieram a Lisboa", conta.

Sobre algumas diferenças de linguagem, Leonor explica ter havido alguns momentos nos quais algumas palavras tiveram de ser trocadas para serem entendidas. E sua participação previa justamente o sotaque português de Portugal, pois na época do filme era grande a influência portuguesa no Brasil.

Confira os filmes brasileiros que participam do Festival de Berlim 

Este ano o Brasil alcançou o recorde de filmes brasileiros que serão exibidos no Festival, ao todo 19 produções brasileiras serão exibidas até o dia 1 de março.

Na mostra Panorama , cujo tema principal é a situação dos imigrantes, foram selecionadas cinco produções brasileiras. 

Cidade Pássaro (Brasil / França), de Matias Mariani
Nardjes A. (Argélia / França / Alemanha / Brasil / Qatar), de Karim Aïnouz
O Reflexo do Lago (Brasil), de Fernando Segtowick
Um Crímen Comun (Argentina / Brasil / Suíça), de Francisco Márquez
Vento Seco (Brasil), de Daniel Nolasco

A mostra Geração, selecionou quatro produções brasileiras. Dedicada a retratos da infância e da juventude, os filmes dessa mostra são divididos entre Kplus, apropriados ao público infantil, e 14plus, voltados aos adolescentes.

Kplus

, de Ana Flávia Cavalcanti e Júlia Zakia

14plus

Alice Júnior, de Gil Baroni
Irmã, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes
Meu Nome É Bagdá, de Caru Alves de Souza

Para as mostras  Forum e Forum Expanded, dedicadas ao cinema experimental, foram selecionadas sete produções brasileiras.

Forum

Vil, Má (Brasil), de Gustavo Vinagre
Luz nos Trópicos (Brasil), de Paula Gaitán
Chico Ventana También Quisiera Tener un Submarino (Uruguai / Argentina / Brasil / Holanda / Filipinas), de Alex Piperno

Forum Expanded

Apiyemiyekî? (Brasil / França / Holanda / Portugal), de Ana Vaz
Jogos Dirigidos (Brasil), de Jonathas de Andrade
(Outros) Fundamentos (Brasil), de Aline Motta
Vaga Carne (Brasil), de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.
Letter From a Guarani Woman in Search of the Land Without Evil (Brasil), de Patricia Ferreira Pará Yxapy

Na mostra Encounters, nova mostra competitiva consagrada a propostas estéticas inovadoras, será exibido Los Conductos, de Camilo Restrepo (coprodução Colômbia, França, Brasil)
 

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*Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. É criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de LisboaCorreio do Brasil e RFI.

Edição: Leandro Melito