Coluna

Ir às ruas em março para deter a escalada neofascista

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Em 2018, atos contra o então candidato Jair Bolsonaro levaram milhões de pessoas às ruas do país. - Mídia Ninja
Sem mobilização popular de massa, Bolsonaro e seu governo não serão derrotados

Abriu-se um novo momento na conjuntura com o apoio público de Jair Bolsonaro (sem partido) à provocação bonapartista dos atos convocados para o próximo 15 de março sob a bandeira “Fechem o Congresso!”. 

A escalada autoritária merece ser levada muito a sério. O ensaio de um “golpe dentro do golpe” está sendo construído. A forma atabalhoada dos recuos de Bolsonaro são simulações que não devem enganar ninguém. Bolsonaro é rude, grosseiro, tosco, mas seus movimentos obedecem a um projeto.

A questão central da análise passou a ser calibrar o grau de perigo imediato que nos ameaça. O governo Bolsonaro tem ou não uma estratégia de subversão do regime democrático-liberal? Foi somente um improviso irresponsável, um desatino impensado, um blefe impulsivo? Haverá ou não uma inescapável medição de forças com a ala neofascista no próximo mês de março? A resposta a esta pergunta é a questão central de máxima gravidade para todos os partidos da esquerda brasileira.

Desde 2015, tem prevalecido na maioria das correntes de esquerda uma subestimação da audácia das forças da extrema direita. Esta desvalorização do perigo só pode ser explicada como consequência de uma triste e catatônica adaptação ideológica às instituições parlamentares do regime eleitoral. 

Evidentemente, a esquerda deve chamar todos os que têm algum compromisso com as liberdades democráticas a sair juntos às ruas. Mas não serão Rodrigo Maia (DEM-RJ), Dias Toffoli ou Celso de Mello que irão deter Bolsonaro. Sem mobilização popular de massa, Bolsonaro e seu governo não serão derrotados. Mais uma vez o perigo de um “inverno siberiano” bate nas nossas portas.

O elemento-chave que define o novo momento foi a decisão de Bolsonaro de se unir à convocação de manifestações de massas contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Esta iniciativa significa um desafio frontal às instituições do regime, portanto, uma medição de forças com a maioria dos partidos de direita e centro-direita no Congresso que garantiu, até agora, a aprovação dos principais projetos do governo, como a reforma da Previdência, além de um desafio ao STF.

O conflito em torno da possível derrubada na Câmara dos Deputados do veto de Bolsonaro ao orçamento impositivo foi somente o gatilho do novo momento político.

Se foi assim, sejamos claros. A situação é tão ruim, tão reacionária que a chave do novo momento é uma disputa entre um governo de extrema-direita e a maioria de centro-direita, que, para o fundamental, garantiu que os projetos do governo Bolsonaro fossem aprovados. 

Não se trata de um enfrentamento de Bolsonaro com a oposição de esquerda, com a resistência popular, mas um conflito de reposicionamento de forças dentro do bloco que apoia o projeto de recolonização.

A questão central para a esquerda é saber se há ou não um perigo real de um autogolpe em construção, ou de um golpe dentro do golpe. Se ela obedece a um plano calculado, minuciosamente, ou foi um improviso, se será sustentada até o fim ou haverá recuo, não podemos saber. Mas é, de qualquer forma, muito sério. 

Existe um plano contrarrevolucionário que é, para a ala neofascista, indivisível das transformações econômico-sociais que estão em marcha com os ajustes dirigidos por Guedes. A tática de se apoiar na mobilização de massas para abrir o caminho e conquistar plenos poderes desafiando as instituições do regime não é um blefe. Poderão ou não recuar desta iniciativa de 15 março dependendo da força da reação, mas não deixarão de testar até o limite máximo a possibilidade de levar seu projeto adiante.

Sempre que ocorre uma mudança brusca na situação política é natural que se precipite alguma crise, em maior ou menor grau, nas organizações de esquerda. Porque é necessário explicar os fatores que a provocaram, a nova dinâmica, seus possíveis desdobramentos, os cenários previsíveis. E, sobretudo, se coloca o problema-chave do que fazer.

A política envolve sempre a decisão de correr riscos. Eles devem ser bem calculados, mas será fatal se não houver uma resposta à altura nas ruas dias 8, 14 e 18 de março. Existe crise na esquerda porque há uma acomodação política que se alimenta da ilusão de que as instituições do regime, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, serão capazes de frear a fúria bonapartista. 

Subestima-se o grau de apoio que Paulo Guedes conquistou na burguesia brasileira. A tarefa de encabeçar a resposta a Bolsonaro cabe à esquerda e é intransferível. A esquerda deve exigir de todos os partidos que se posicionem, inequivocamente, contra a ameaça neofascista. Mas é hora de fechar os punhos e se preparar para a luta. Vai ser nas ruas a medição de forças. E podemos vencer. Temos que chamar às ruas com vontade de vencer.

 

Edição: Geisa Marques