Coluna

Os azarados

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Tenório e Afonso eram dois grandes azarados - Christian Erfurt/ Unsplash
Tinha onze camas para ele escolher, e escolheu logo a quebrada

Já vi gente com mania de azarada, mas ninguém como o Tenório e o Afonso.

O Tenório era meu colega em uma equipe de onze pessoas que fazia trabalhos nas áreas de esportes, cultura e lazer em geral, no interior paulista. Éramos funcionários do Sesc.

Um dia marcamos uma reunião em Itapira (SP). Chegamos ao único hotel que havia na cidade e pedimos onze apartamentos. O dono do hotel chiou. Se desse onze apartamentos para nós, não sobraria quarto para nenhum hóspede a mais. 

Então, ele propôs:

⸺ Eu tenho um apartamento com três quartos e três banheiros, vocês podiam ficar nele. Tem justamente onze camas. O preço sai bem mais barato pra vocês, e eu dou nota fiscal como se tivesse ficado cada um num quarto.

Todo mundo topou. Deixamos as malas na portaria e íamos sair para almoçar, mas o Tenório, com sua mania de azar, cismou que podia ter alguma coisa errada e quis ver o apartamento.

Ele subiu com um funcionário do hotel, e nós ficamos esperando. Uns dez minutos depois, ele não tinha voltado, e fomos ver o que estava acontecendo. 

Diante do funcionário do hotel, que o olhava pasmo, sem entender bem aquela chiação, o Tenório reclamava, falando sem parar:

⸺ Justo a minha cama está quebrada! Justo a minha cama!

Tinha onze camas para ele escolher, já que foi o primeiro a ir ao apartamento, e escolheu logo a quebrada. 

O outro azarado, o Afonso, também era funcionário do Sesc. Era um sujeitinho depressivo, sempre com cara de sofredor, do tipo que parecia ter uma nuvenzinha negra pairando eternamente sobre sua cabeça. 

Um dia, ele chegou todo feliz a uma reunião da equipe. Contou que tinha sonhado com seis números e tinha certeza que ia ganhar na mega-sena. Um dos colegas, o Hanneman, viu o jogo dele, e não falou nada. 

No dia seguinte, disse ao Afonso: “Você vai dividir o prêmio comigo. Fiz um jogo igualzinho ao seu”. E mostrou o jogo feito. 

O Afonso entrou numa depressão braba. Parecia que o mundo ia desabar sobre ele. 

No dia do sorteio da mega-sena, o Afonso estava feliz de novo. Trabalhou sem reclamar. Só no finalzinho do expediente é que revelou o motivo. 

Chamou o Hanneman e falou: “Você não vai ficar com a metade do prêmio coisa nenhuma, vai ganhar só um vigésimo. Fiz mais dezoito jogos iguaizinhos. Somando com o que já tinha feito antes, são 19 jogos. E não dá tempo de você jogar mais. O sorteio é daqui a pouco”. 

Não ficou com 19 vigésimos do prêmio. Aliás, não fez nem uma quadra. Só gastou mais no jogo azarado. E continuou com seu baixo-astral.

 

Edição: Geisa Marques