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Álbum gravado apenas com vozes exalta narrativas de mulheres

Eu acho que EVA é um disco completamente militante e ativista

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Ligiana Costa, cantora, compositora, musicóloga e doutora na área musical, lançou seu terceiro álbum - Foto: Divulgação
Eu acho que EVA é um disco completamente militante e ativista

Ao escutar o último álbum de Ligiana Costa, pode-se imaginar inúmeros instrumentos musicais que foram utilizados para compor a obra. Mas, na verdade, foi apenas um: a voz. EVA (Errante Voz Ativa) é composto de diferentes tonalidades, timbres e alturas musicais, porém tudo feito a partir de algo que todos temos: sistema vocálico. A ausência de instrumentos físicos não limitou a criatividade sonora de Ligiana Costa, pelo contrário, fez com que ela explorasse ainda mais os recursos que temos dentro do nosso corpo. Seis vozes compõem o álbum que mistura poesia, técnica musical e política.

“Esse disco [EVA] é de música popular brasileira, apesar de ser um disco que também olha muito para o mundo, em termos de estilo e de composição” explica Ligiana Costa sobre o disco EVA, lançado em fevereiro de 2020, marcando uma retomada nos lançamentos da carreira solo.

Além da voz na estética, o disco EVA também contorna a voz poética feminina. São oito canções ao todo, cada uma tituladas com um nome de uma mulher. As músicas trazem narrativas de mulheres em contextos diversos, sendo do passado ou do presente, da história ou do imaginário, do mundo ou da vida pessoal da artista. Faixa a faixa, temos a sequência com Nice; Ná; Luzia; Lilith e Eva; Maya; Afrodite; Nesrin; Rosa.

“Mulheres que a princípio não se encontrariam em nenhum outro lugar, a não ser num disco e numa criação livre como essa. Mas, com certeza, existia o desejo de ter diversas vozes de mulheres, diversos nomes, diversas possibilidades de mulheres da história, de mulheres que pudessem representar alguma coisa, a luta, o amor, o desejo”, ressalta a musicóloga.

Algumas das referências poéticas em EVA são a sororidade entre as irmãs Lilith e Eva; a homenagem à cantora Ná Ozzetti; o protesto pela perda do fóssil de Luzia com o incêndio do Museu Nacional, em 2018; o legado político de Rosa Luxemburgo e a referência feminina na poesia “Nossa marcha”, de Maiakovski. A faixa de abertura, Nice, traz uma referência afetiva sobre a companheira de Ligiana. Há ainda a personagem mítica Afrodite e a luta da guerrilheira curda Nesrin Abdulhah. 

“Eu acho que EVA é um disco completamente militante e ativista, mas não é escancarado a forma como eu coloco isso, eu sinto isso. É mais poético a forma como eu coloco, vai para um local mais para próximo da minha forma de conceber, a minha militância pessoal. É um disco que se apoia muito nas minhas inquietações e visão de mundo e país”. 

A conclusão do disco é feita com uma mensagem de esperança, quando na faixa 8, Rosa, o refrão deseja que “caia a chuva do amor no mundo”. O disco EVA é produzido por Dan Maia, que é também um dos cantores, ao lado de Bruna Lucchesi, Lívia Nestrovski, Marina Decourt, Pedro Iaco e São Yantó. O material está disponível para compra nas plataformas digitais de música. 

Álbuns e estudos

A carreira de Ligiana Costa sempre foi permeada pelos estudos acadêmicos na área musical. A compositora adentrou no canto lírico, barroco e filologia musical da Renascença e Idade Média, até chegar ao doutorado sobre ópera barroca, concluído na França. 

Na carreira artística, Ligiana Costa lançou os discos solo “De amor e mar”, de 2009, e Floresta, dem 2006. Posteriormente, veio o projeto NU (sigla de Naked Universe), em que a artista faz um duo com o cantor Edson Secco. O projeto NU rendeu o disco homônimo, “NU”, de 2016, e “Atlântida”, de 2019.  

“Meu primeiro disco [De amor e mar] é de samba, de uma pessoa que estava morando fora do Brasil, saudosa. Enquanto compositora inicialmente eu era muito tímida. Tem somente duas canções minhas no primeiro [disco], no segundo disco quase todas as canções são minhas, e nesse [disco EVA] são todas minhas. Eu acho que eu fui me tornando mais criadora, não só como compositora, mas também em termos da ousadia da criação” explica a cantora.

 

 

Edição: Lucas Weber