Feira

Entre cores e sabores, mulheres do MST expõem produtos da reforma agrária em Brasília

Mostra integra 1º Encontro Nacional de Mulheres sem Terra, que ocorre até segunda-feira (9) e reúne 3,5 mil militantes

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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A mostra traz frutas, cereais, diferentes tipos de café, queijos, cajuína, produtos estéticos naturais, brinquedos, entre outros produtos - Leonardo Milano

No 1º Encontro Nacional de Mulheres sem Terra, que ocorre desde quinta-feira (5), em Brasília (DF), um corredor de mesas chama a atenção em meio ao intenso fluxo de pessoas que transitam no local: a Mostra de Produtos da Reforma Agrária. Destinada à exposição de gêneros produzidos por agricultoras familiares e militantes de outros espaços, a iniciativa reúne mulheres que vieram das mais diferentes partes do Brasil para participar do evento e aproveitaram para colocar suas produções à venda.  

Por entre as mesas, o doce de caju da agricultora Eliene dos Santos faz brilharem os olhos dos transeuntes. “É todo orgânico, caseiro e feito no fogão à lenha”, gaba-se a trabalhadora, que vem do Assentamento Caraíbas, no município de Japaratuba (SE), onde uma agroindústria mobiliza 26 mulheres que produzem cotidianamente diversos gêneros da roça.  

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Uma parte das variedades veio parar em Brasília, nas mesas da mostra. Além do doce de caju, Eliene trouxe broa de milho, queijadinha, óleo de coco, biscoito amanteigado e até sabonete à base de ervas. Para ela, que atua no campo há 20 anos, a exposição organizada pelo encontro do MST é uma oportunidade de evidenciar a associação entre a produção da agricultura familiar e a pauta política dos sem-terra, que atuam em prol da reforma agrária popular.

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“É pra gente estar mostrando realmente por que a gente vai pra debaixo de uma lona, por que a gente luta. É pra mostrar a nossa produção, que não é só a da roça, mas também o beneficiamento da produção, como é o caso da broa do milho. A gente pega o milho e faz a broa pra merenda escolar, pra alimentação do dia a dia”, exemplifica, acrescentando que “essa luta é necessária”.

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É pra gente estar mostrando realmente por que a gente vai pra debaixo de uma lona, por que a gente luta.


A agricultora familiar  Eliene dos Santo, que trouxe produtos orgânicos de Sergipe para vender na feira / Leonardo Milano

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A dirigente Ester Hoffmann, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), aponta que iniciativas como a da feira integram o rol de prioridades da organização, que tradicionalmente investe na interação entre campo e cidade por meio da distribuição da produção dos agricultores familiares.  

“A luta pela reforma agrária se torna cada vez mais difícil, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais necessária, porque a gente tem se alimentado de veneno e mercadorias que adoecem as pessoas. Então, estão na centralidade da nossa luta pela reforma agrária a produção de alimento saudável, a defesa do território, e essa mostra traz isso”.

A luta pela reforma agrária se torna cada vez mais difícil, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais necessária, porque a gente tem se alimentado de veneno e mercadorias que adoecem as pessoas.

Para encantar os participantes do evento, que reúne cerca de 3,5 mil mulheres e recebe também representantes de 14 países até a próxima segunda-feira (9), as feirantes prepararam um mundo de cores, sabores e aromas.

A mostra traz frutas, cereais, diferentes tipos de café, queijos, cajuína, produtos estéticos naturais, brinquedos artesanais, óleos naturais, objetos de decoração e ainda cerveja orgânica. Produzida por um coletivo de mulheres do MST do Rio de Janeiro, esta última é um dos principais destaques da feira.

Ao atender os clientes que se aproximam da banquinha de exposição, a militante Eró Silva faz questão de sublinhar que a historiografia registra a íntima relação entre a mão de obra feminina e as antigas cervejas, apesar de isso ainda ser pouco conhecido pela maioria das pessoas.  

“Algumas historiadoras relatam que a produção das cervejas era extremamente feminina e que o capital foi se apropriando desse processo de produção, passando a utilizar até mesmo o corpo da mulher pra comercialização da cerveja, mas não o conhecimento tradicional [delas]”.

Algumas historiadoras relatam que a produção das cervejas era extremamente feminina e que o capital foi se apropriando desse processo de produção

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Para a militante, elaborar o produto de forma comunitária e artesanal a partir de mãos femininas é uma forma de resgatar esse processo e ainda de inserir a elaboração de bebidas na pauta política dos movimentos do campo.

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“Estamos aqui pra dizer que até mesmo a cerveja pode participar disso e que ela também pode ser pensada como um alimento saudável. A gente aproveita e discute ainda, junto com isso, a organização das mulheres, a autonomia feminina na geração de renda, no debate da segurança e da soberania alimentares.”

Edição: Rodrigo Chagas