Educação básica

Com "apoio crítico" da esquerda, novo Fundeb pode ser votado em comissão na Câmara

Proposta conta, no entanto, com pressão contrária do governo Bolsonaro, que defende menos investimentos na área

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Caso seja aprovado na comissão, o texto vai a plenário. Se receber o aval da Câmara, precisa ser discutido ainda pelo Senado - Arquivo/Agência Brasil

Em tramitação há cerca de quatro anos, a proposta de instituição do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) pode ser votada nesta terça-feira (10), na comissão especial que avalia a pauta na Câmara dos Deputados. O relatório em debate, produzido pela deputada Dorinha Rezende (DEM-TO), prevê a transformação do fundo em uma política de Estado permanente para o financiamento da educação básica no país.  

Além disso, o parecer propõe um aumento da participação da União no Fundeb, que atualmente é de 10%. Pelo texto, o aporte passaria a ser de 15% em 2021 e cresceria de forma escalonada nos anos subsequentes, chegando a um teto de 20% em um intervalo de seis anos. O relatório tem o apoio de partidos da oposição, que pressionam pela aprovação da medida.

“É um apoio crítico, mas nós apoiamos. A partir do momento em que a União não assume a sua responsabilidade, fica difícil cumprir as metas do PNE [Plano Nacional de Educação], que já não estão sendo cumpridas”, afirma o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), membro da comissão, acrescentando que a oposição defendia um aporte maior de verbas.

O texto de Dorinha Rezende é um parecer sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 15/2015, de autoria da ex-deputada Raquel Muniz (PSD-MG). A primeira versão do relatório, apresentada em setembro de 2019, previa que esse índice fosse de 40%, mas o relatório não obteve apoio da maioria da comissão, que, assim como o plenário da Casa, é hegemonizado por parlamentares do chamado “centrão”.

O grupo tem tendência neoliberal e é tradicional defensor das políticas de arrocho fiscal. Entre outras coisas, o centrão foi o principal entusiasta da aprovação do Teto dos Gastos, medida aprovada durante o governo Temer (MDB) que restringiu os investimentos nas áreas sociais por um prazo de duas décadas.

Paralelamente à expectativa para a votação do novo Fundeb, os defensores da pauta convivem com a oposição do governo, que, com base no discurso fiscalista, vem destilando críticas à proposta. Na segunda-feira (9), por exemplo, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse à imprensa, que, caso o texto seja aprovado, A União pode não ter condições financeiras de sustentar os gastos previstos. Segundo ele, o impacto seria de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões.

“Acho que essa fala é uma senha pra tentar mudar o relatório da deputada Dorinha. Pode ser que o governo queira cortar [o aporte] pra baixo”, aponta a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), integrante da comissão, ao mencionar as dissidências em torno do texto.  

No mês passado, por exemplo, a base do governo apresentou um pedido de vista coletivo para adiar o processo. O prazo terminou na última semana, por isso a projeção de que a votação ocorra ainda nesta semana.   

“Eu espero que seja, mas, como o governo é imprevisível quando se trata de direitos, pode ser que queira fazer qualquer tipo de mudança ainda”, destaca Alice Portugal.  

Caso seja aprovado na comissão, o texto vai a plenário. Se receber o aval da Câmara, precisa ser discutido ainda pelo Senado.

Sociedade civil

O Fundeb entrou em vigor no ano de 2007 por meio de uma emenda constitucional. Ele foi concebido para ser uma política transitória e prevista para acabar este ano, motivo pelo qual a educação básica pode ficar sem o financiamento da União a partir de 2021, caso o Congresso Nacional não converta o fundo em política pública permanente.  Por esse motivo, entidades da sociedade civil pressionam a comissão da PEC para que o texto seja aprovado.  

“Esperamos que hoje pelo menos haja um compromisso com a permanência do Fundeb no corpo da Constituição pra assegurar que a população possa contar com esse atendimento educacional e que haja mais recursos da União pro fundo”, disse ao Brasil de Fato o secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Gilmar Soares, que está na Câmara para acompanhar a sessão. 

Edição: Rodrigo Chagas