Minas Gerais

Educação

Cursinho popular no Barreiro, em BH, aprova sete estudantes na universidade

Aulas são totalmente gratuitas para promover a democratização do ensino superior

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Duas turmas de vinte alunos têm reuniões pedagógicas periódicas e atendimento psicológico para estudantes e professores - Divulgação/Cursinho Consciência

A região do Barreiro em Belo Horizonte é formada por 58 bairros, 18 vilas e abriga mais de 400 mil habitantes. A maior região da capital apresenta também altos índices de desigualdade social. Em uma cidade em que até 2010 apenas 22,9% da população havia completado o ensino superior, a grande maioria dos adolescentes que terminam o ensino médio não tem perspectivas de seguir estudando.

Neste contexto, ativistas universitários e professores da rede pública criaram em 2019 o Cursinho Popular Consciência Barreiro para dar suporte aos jovens que querem prestar o Enem. Em parceria com a Escola Municipal Polo de Educação Integrada (Poeint), que atende as atividades de escola integrada da região e é referência para a comunidade, as aulas são ministradas por voluntários de forma totalmente gratuitas.

Duas turmas de vinte alunos têm reuniões pedagógicas periódicas e atendimento psicológico para estudantes e professores, garantindo um acompanhamento de perto de cada um e cada uma que faz parte do projeto. As aulas abarcam todas as disciplinas durante a semana, além de monitoria e aulas temáticas aos sábados. Lanches nos intervalos, nos dias da prova, simulados de avaliação e auxílio-transporte também foram oferecidos.

Foram mais de 100 pessoas do Barreiro envolvidas nas atividades propostas pelo cursinho. Nada disso seria possível se não fosse um projeto baseado na ideia da educação popular e emancipadora. O debate político é parte constituinte do projeto do cursinho. “Consciência Barreiro” promove a luta pela democratização do acesso ao ensino superior e a ocupação das universidades pela população mais pobre e precarizada.

Para Izabella Lourença, uma das idealizadoras do cursinho, a universidade pública é um espaço que precisa ser cada vez mais ocupado pela juventude negra e periférica. “As ações afirmativas como as cotas raciais foram um passo fundamental para equilibrar a desigualdade histórica da nossa sociedade escravista e precisam ser defendidas com todas as forças. Com o governo Bolsonaro precisamos reafirmar nosso compromisso e a luta pela universidade pública, gratuita e de qualidade e o acesso à educação como um direito universal”. Mulher negra nascida e criada em Venda Nova, entrou na universidade em 2011 quando a política de cotas ainda não tinha sido aplicada e é formada em jornalismo pela UFMG. Hoje, como moradora do Barreiro, entende o cursinho como parte do movimento social da região. “Quando o poder público não chega aos nossos territórios, nossa forma de sobrevivência é a auto-organização em comunidade. A região é gigantesca e pulsa com uma juventude que não aceita mais ser excluída, que se expressa através da arte, da cultura, da música, do rap, do funk, da poesia e tem pressa de ocupar os espaços que nos foram historicamente negados”.

O cursinho inaugura o ano comemorando sua primeira experiência com aprovações através do ENEM. Foram aprovados 7 estudantes, sendo duas mulheres negras na UFMG nos cursos de Medicina Veterinária e Letras, além um jovem negro no curso de Pedagogia, na UEMG uma estudante também em Letras e mais três com bolsas pelo ProUni ou da própria faculdade.

No último sábado, dia 7, o “aulão” inaugural abordou criticamente o tema da canalização dos rios em Belo Horizonte. O cursinho segue em busca de voluntários e também doações para garantir a continuidade do projeto, devendo lançar nos próximos dias a campanha de financiamento coletivo.

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Edição: Joana Tavares