Violência

Avá-Guarani é assassinado e sobreviventes recebem ameaças de morte no Oeste do Paraná

Liberdade dos autores impõe rotina de ansiedade e medo na Aldeia Itamarã, em Diamante D’Oeste

Brasil de Fato | Diamante D’Oeste (PR) |
Após uma hora e meia de espera por atendimento, Virgínio morreu logo após dar entrada no hospital - Foto: Povo Avá-Guarani

Decidir urinar na rua, ao invés de esperar por sua vez no banheiro do bar, foi o gatilho para a morte do jovem Avá Guarani Virgínio Tupa Rero Jevy Benites, 24 anos. Ele e mais três amigos comemoravam o resultado de um campeonato de futebol organizado no último 8 de março, em parceria com não indígenas, na cidade de Diamante D’Oeste, a 115 quilômetros de Foz do Iguaçu (PR).

Após se envolver em uma discussão com moradores vizinhos ao local da festa, Virgínio e os outros três guaranis decidiram voltar para casa e seguiram rumo à Aldeia Itamarã. No caminho, ao passarem por uma lombada, poucos quilômetros após a partida, foram surpreendidos por um grupo de quatro homens armados com espingardas, facões e facas.

De acordo com relato dos guaranis sobreviventes, três jovens com idades entre 18 e 20 anos, os agressores não deram chance alguma de reação às vítimas. “Foi uma sorte não ter acontecido mais mortes. Os agressores foram para matar. Um dos meninos foi atingido com uma pedrada na cabeça, outros levaram facadas nas costas, foi um terror”, conta ao Brasil de Fato o cacique Cipriano Alves.

Responsável por cuidar da Aldeia Itamarã, a liderança decidiu juntar forças com caciques de aldeias vizinhas em busca de respostas sobre o atentado até então sem autoria identificada pela polícia. Com apoio de representantes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), a comitiva de caciques foi recebida na manhã desta segunda-feira (16) pelo delegado Geraldo Evangelista Junior.

Após ouvir o relato dos indígenas, o delegado informou que daria início às diligências de investigação. “Iniciamos hoje algumas diligências nesse procedimento que apura o crime de homicídio qualificado consumado e tentativa de homicídio. Temos alguns indicativos de autoria, mas que serão qualificadas e interrogadas no decorrer do procedimento, sem prejuízo pela representação de um mandado de prisão preventiva”, comentou o delegado, oito dias após o crime.

A inoperância e o descaso das autoridades policiais sobre o caso é motivo de preocupação para o povo Avá-Guarani. Em um vídeo gravado na noite da emboscada, é possível observar a presença de dois policiais militares que atendiam à ocorrência.

As imagens demonstram dois jovens indígenas feridos no chão, rodeados por familiares em desespero. Um deles solicita aos PMs que procedam o transporte das vítimas ao hospital mais próximo dentro da viatura. A negativa do militar foi justificada com o argumento de que o socorro estaria a caminho. Após uma hora e meia de espera por atendimento, Virgínio morreu logo após dar entrada no hospital.

Segundo informações de indígenas que pediram para não serem identificados, os próprios agressores chamaram a Polícia Militar no dia do atentado. “Os policiais foram até a casa onde estavam os agressores. Depois foram embora, mas os indígenas os chamaram de volta. Pediram para ajudar os feridos. Ninguém foi preso”, conta uma testemunha.

Pânico

Desde o ocorrido, a rotina dos indígenas da Aldeia Itamarã é marcada por ansiedade e medo. “Ninguém está em paz. Ainda mais que pessoas tentaram invadir nossa aldeia neste fim de semana. Já recebemos ameaças para não denunciarmos os crimes. Não vão nos calar. Os culpados precisam ser punidos”, suplicou o cacique.

Com cerca de 200 índigenas Avá-Guarani, a Aldeia Itamarã foi comprada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pela Itaipu Binacional para receber as comunidades desalojadas pela construção da usina hidrelétrica.

Edição: Leandro Melito