Economia

Medidas anticrise de Guedes são necessárias mas insuficientes, dizem economistas

Segundo especialistas, pacote do governo não injeta novos recursos na economia e atende apenas à formalidade

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Ministro Paulo Guedes apresentou medidas para aliviar a crise econômica - World Economic Forum/Ciaran McCrickard

As medidas apresentadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, na tentativa de aliviar a crise econômica aprofundada pela pandemia do coronavírus são importantes, mas insuficientes, conforme economistas.

O governo federal anunciou na segunda-feira (16) que vai injetar R$ 147,3 bilhões em um pacote de ações adotadas pelos próximos três meses. Entre as medidas, estão a antecipação do 13º para aposentados, o reforço do Bolsa Família e a antecipação do abono salarial do PIS/Pasep para junho, por exemplo.

::Ministério prevê crescimento do número de casos de coronavírus até junho::

O economista Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirma que as ações de Guedes são tardias e não acrescentam novos recursos à economia nacional.

“São importantes, mas são muito incipientes. Estamos no começo de medidas que deveriam ter sido tomadas antes e agora vão ter que ser aceleradas. Essas medidas não colocam novos recursos. É dinheiro que as pessoas já previam receber parte desse recurso. Isso não altera, em grande medida, o impacto que a gente gostaria”, afirma Fausto.

Estamos no começo de medidas que deveriam ter sido tomadas antes e agora vão ter que ser aceleradas. Essas medidas não colocam novos recursos.

Para o economista, é necessário que o governo tome medidas paralelas para além de apenas liberar o recurso que já é de direito do trabalhador.

“Você precisa baixar os custos para as famílias. A questão do preço do botijão de gás, a questão da possibilidade das pessoas terem que lidar com as suas dívidas. Nós precisamos congelar tudo isso para que a gente pudesse, minimamente, dar um pouco de fôlego para as famílias começarem a operar”, diz o diretor do Dieese.

Fausto reforça que o pacote é inócuo para trabalhadores informais, cada vez mais precarizados na economia interna brasileira. “40% do mercado é informal, não vai ter FGTS, não vai ter antecipação do 13º e já estão com dificuldades porque a economia está parando, as pessoas estão deixando de circular e os informais estão deixando de ganhar. Daqui a pouco estão deixando de comer”.

A economia está parando, as pessoas estão deixando de circular e os informais estão deixando de ganhar. Daqui a pouco estão deixando de comer.

O economista e pesquisador David Deccache, assessor técnico do PSOL na Câmara dos Deputados, sugere que o Estado deve injetar mais recursos na economia, diferentemente do que Guedes propõe. Para ele, a tendência é que a situação piore nos próximos meses.

“A saída da crise não deve ser feita com a poupança do trabalhador, e sim com recursos disponibilizados pelo Estado. Porque, quando a crise do coronavírus acabar, vamos entrar em uma fase muito difícil na economia, com desemprego ainda mais alto, ainda mais formalidade, e é um absurdo a gente utilizar uma poupança que deve servir como proteção para essa fase difícil que ainda virá. Essa é uma crise de fôlego longo. Esses recursos vão ser necessários no futuro”, opina.

A proposta de agregar mais pessoas ao Bolsa Família, diz Deccache, é só uma correção dos cortes que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promove desde que assumiu o poder. “O Bolsa Família é a principal trava para as pessoas, no momento de crise, não caírem na linha de extrema pobreza ou pobreza. É uma trava que nem isso eles corrigiram. Isso é o mínimo que eles deveriam fazer, e nem isso”.

Alternativa

Segundo o economista, o PSOL deve apresentar ao Executivo uma série de propostas para agregar às que Guedes apresentou. O principal ponto do pacote pensado pelo partido é uma renda básica emergencial para famílias de baixa renda – que ganham menos de R$ 500 por pessoa da família ou menos de R$ 3 mil no total. “A gente tem que propor uma renda básica emergencial, de um salário mínimo, para todas as famílias de baixa renda”, sugere.

Os benefícios seriam automáticos, com base nos registros do Cadastro Único. “O Cadastro Único já tem quase 30 milhões de famílias cadastradas. Ou seja, nós já temos uma ampla base de dados porque todas as famílias que já passaram por algum tipo de programa do governo são cadastradas. Imediatamente, eles receberiam o benefício. Nisso a gente conseguiria proteger muitos trabalhadores informais, que trabalham por conta própria, desempregados. Seria uma medida que protegeria 30 milhões de famílias imediatamente”.

Edição: Rodrigo Chagas