Crime

Violência contra comunidades indígenas cresce no Oeste do Paraná

Nas últimas semanas um indígena foi assassinado e outro agredido gravemente

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Enterro de indígena mobilizou toda a comunidade - Povo Avá-Guarani

A violência contra o povo Avá-Guarani tem aumentado no Oeste do Paraná, afirmam lideranças indígenas. São agressões, ameaças e um assassinato registrado neste ano. “A violência contra os Guarani tá aumentando bastante. Não indígena não respeita o nosso povo. Bater e matar sem motivo. Preocupa essa situação”, diz um indígena de uma das comunidades da região. Os indígenas ouvidos nesta reportagem não serão identificados por razões de segurança.

No dia 8 de março, Virgínio Tupa Rero Jevy Benites Avá-Guarani, de 24 anos, foi assassinado na Vila Ponte Nova, município de Diamante do Oeste. Na ocasião três jovens indígenas com idades entre 18 e 20 anos, que acompanhavam Virgínio, ficaram gravemente feridos.

O motivo do assassinato, conforme a Polícia Civil, é que o rapaz teria urinado na frente de uma residência. “Não foi verdade porque as testemunhas disseram que moradores pediram para ele sair e ele saiu. Mijou em outro lugar. Mesmo assim justifica o assassinato? Isso envolve ódio, desrespeito contra a nossa gente”, afirma liderança Avá-Guarani.

Virgínio e os outros três indígenas são das aldeias Itamarã e Añepepe. São terras compradas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pela Itaipu Binacional para receber as comunidades desalojadas pela construção da usina hidrelétrica. Mais indígenas das duas aldeias, além dos quatro, passaram o dia na Vila Ponte Nova.

“Tava todo mundo lá porque teve um campeonato de futebol. A gente participa e os não indígenas costumam ir jogar também nas aldeias. A gente não esperava por isso”, conta a liderança Avá-Guarani. Virgínio e os colegas se dirigiram a um bar nas imediações do evento para uma confraternização.

Não houve nenhuma desavença ou conflito anterior. “Um motivo besta assim, de mijar aqui ou ali, só pode ser ódio”. Por volta das 19 horas, os Avá-Guarani decidiram ir embora. Perto de uma lombada, a emboscada: a moto de Virgínio foi interceptada por um grupo de não indígenas.

“Derrubaram no chão e com facão, facas e espingardas atacaram. O Virgínio levou um corte de facão na testa. Uma outra pessoa, pelas costas, deu uma facada nele. Atacaram outros três que estavam com eles. Um deles foi internado no hospital, teve alta, mas segue não muito bem. Deram uma pedrada na cabeça dele”, detalha a liderança.

De acordo com os Avá-Guarani, os não indígenas envolvidos, um total de quatro, foram identificados, com exceção de um homem desconhecido. Uma mulher teria servido de suporte ao bando armado, e também foi identificada pelos Avá-Guarani. Além disso, os próprios agressores chamaram a Polícia Militar.

“Os policiais foram até a casa onde estavam os agressores. Depois foram embora, mas os indígenas os chamaram de volta. Pediram para ajudar os feridos. O Samu levou quase 1 hora e meia para chegar. O Virgínio faleceu logo após chegar ao hospital”, conta. A moto de Virgínio foi furtada após o ataque.

A Polícia Civil de Santa Helena ficou incumbida de investigar o caso. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul acompanha o caso com o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP). Na sexta-feira (13), integrantes das duas organizações foram à delegacia, mas a encontraram fechada.

Ameaças e agressões após o assassinato

“Os indígenas estão apavorados porque eles trabalham fora, em frigoríficos locais. Estudantes que chegam já na madrugada, em Diamante, e ficam expostos. Analisamos como um caso de genocídio. Os indígenas não tinham briga com essas pessoas. Dizem que o indígena foi urinar na frente da casa de uma pessoa, como se justificasse, mas mesmo assim não é verdade”, analisa a missionária Osmarina Oliveira, do Cimi Regional Sul.

Os Avá-Guarani seguiram recebendo ameaças após o assassinato de Virgínio. Mensagens por redes sociais e ligações aos familiares nas aldeias se tornaram comuns. Indivíduos não identificados afirmam que mais mortes ocorrerão e que os Avá-Guarani devem ficar calados.

No sábado, 14, as ameaças contra a aldeia Itamarã geraram um comunicado que correu as redes sociais para sensibilizar as autoridades públicas pelo envio de forças policiais para garantir a segurança da comunidade. “É uma situação que pra gente é bem ruim. Tem indígena que não foi mais trabalhar, perdeu o emprego. Estudantes sem poder sair da aldeia. As autoridades precisam fazer alguma coisa”, afirma a liderança Avá-Guarani.

Guaíra e Terra Roxa são outros municípios que no oeste do Paraná registram aumento na violência contra indígenas. “Começa com os prefeitos das cidades, que entraram com ação judicial para suspender as demarcações das terras dos Avá-Guarani em seus municípios”, explica Marina Oliveira, do Cimi. Em fevereiro foram registradas agressões e ameaças de morte contra caciques.

O caso mais recente, ocorrido nesta sexta-feira (13) é o de um indígena Avá-Guarani agredido na Vila Eletrosul, em Guaíra. Precisou ser hospitalizado.

“Ele estava tocando violão e cantando num barzinho quando aconteceu. Mendônio tinha até levado remédio para os não indígenas. Esse é o agradecimento que ele recebe. A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) trouxe ele aqui para a aldeia perto do meio-dia de sexta”, relata liderança indígena do tekoha Jevy.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Leandro Melito e Lia Bianchini