América Latina

Chile decreta estado de calamidade por coronavírus e adia plebiscito constituinte

Esperança dos chilenos em acabar de vez com modelo neoliberal de Pinochet terá que esperar o fim da crise do coronavírus

Brasil de Fato | Santiago do Chile |
A presidenta do Colégio de Médicos do Chile, Izkia Siches, dá declaração, cercada por líderes de partidos chilenos - Alejandra Naranjo

A pandemia do coronavírus levou o presidente do Chile, Sebastián Piñera, a decretar estado de calamidade no país, para tentar evitar a propagação da doença.

A decisão inclui uma série de restrições à circulação de pessoas, fechamento de vários estabelecimentos, e inclusive uma intervenção militar, similar a que foi declarada durante a revolta social de outubro de 2019.

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Além disso, a medida obrigou a um adiamento do plebiscito constitucional, que estava marcado para o dia 26 de abril. A votação marcaria o início do processo que acabaria de vez com atual constituição do país, que foi imposta em 1980 pelo ditador Augusto Pinochet.

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O processo de criação uma nova carta magna tem o potencial de ser duplamente inédito: no âmbito nacional, seria a primeira do país feita através de uma assembleia constituinte, e em termos internacionais, seria a primeira realizada por um órgão com igualdade de gênero, devido a uma lei recentemente aprovada, que obriga a que metade das representantes sejam mulheres.

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Decisão apoiada

Representantes de diferentes setores políticos respaldaram a decisão de Piñera, embora alguns tenham criticado o uso dos militares. Catalina Pérez, presidenta do partido Revolução Democrática, concordou em que a prioridade agora está em tomar as medidas para conter a disseminação do coronavírus no Chile.

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“Acreditamos que não é momento de mesquinharia nem de cálculos políticos, e sim de priorizar a saúde das pessoas. Precisamos que as distintas lideranças, os especialistas, os cientistas, também as autoridades sanitárias, que todos juntos possamos estabelecer uma política de Estado que permita entregar tranquilidade certezas à população”, comentou a deputada.

Já o presidente do Partido Democrata Cristão, Fuad Chahín, afirmou que a crise do coronavírus deveria alterar não só este plebiscito marcado para abril, como todo o calendário eleitoral chileno neste 2020, que também prevê eleições municipais para o segundo semestre.

“Quando dizemos que a saúde e a vida das pessoas é a primeira prioridade, indiscutivelmente, isso significa revisar a data não só do plebiscito como de todo o calendário eleitoral deste ano”, opinou o deputado.

Porém, o temor de que o adiamento possa levar ao cancelamento do processo constituinte também se instalou entre os chilenos. Por isso, o presidente do Partido Socialista, Álvaro Elizalde, foi categórico em descartar essa possibilidade. “O plebiscito terá que ser realizado sim ou sim, é uma exigência dos cidadãos que querem se pronunciar democraticamente. A data (nova) terá que ser avaliada, de acordo a considerações de caráter técnico, nos quais o tema da saúde pública será o tema central da decisão”, afirmou o senador.

O plebiscito terá que ser realizado sim ou sim, é uma exigência dos cidadãos que querem se pronunciar democraticamente.

Médicos se manifestam

Quem também se pronunciou foi a presidenta do Colégio de Médicos do Chile, Izkia Siches, que fez um apelo ao presidente Sebastián Piñera para que crie um comitê político transversal, incluindo representantes da área da saúde.

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A ideia da médica é dar mais legitimidade às decisões, já que o mandatário chileno tem apenas 4% de aprovação, segundo as pesquisas. “Este Colégio de Médicos colocará em jogo todo o seu capital político para alinhar o país e enfrentar esta pandemia, e por isso espero que, nos próximos dias, o presidente nos chame para conformar o comitê transversal de resposta integral, que nós promovemos como organização”.

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Edição: Rodrigo Chagas