Decreto

Na periferia de São Paulo, empresas abrem no primeiro dia de quarentena

Na região central paulistana, comércio fechou as portas e houve redução na circulação de pessoas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Lava rápido funciona normalmente na zona leste de São Paulo, apesar da quarentena imposta no estado - Foto: Igor Carvalho

Entrou em vigor, nesta terça-feira (24), o decreto que determina uma quarentena até o dia 7 de abril no estado de São Paulo, anunciado pelo governador João Doria Jr. (PSDB) no último sábado (21). Durante o período, somente serviços de áreas essenciais, como segurança, saúde e alimentação, poderão funcionar nos 645 municípios paulistas. Porém, na periferia da capital, houve desrespeito à medida.

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A reportagem do Brasil de Fato esteve em alguns bairros da zona leste de São Paulo e constatou que empresários insistem em manter seus comércios abertos. No bairro de Aricanduva, uma marmoraria funcionava normalmente com oito trabalhadores, já que não houve dispensa da equipe.

“O dono nos disse que, se não funcionarmos, não terá como manter o emprego de todo mundo. Ele depende da fábrica e a gente também”, explicou um empregado, que não quis se identificar. O proprietário do estabelecimento não estava no local, pois trabalhava de casa.

Próximo de Itaquera, em um cruzamento da avenida Radial Leste, principal via da região, um lava rápido que também funciona como estacionamento estava aberto ao público. “Eu atendo somente o pessoal do hospital aqui perto que é mensalista, não posso ficar abrindo o portão toda hora para entrar carro, pois posso pegar o vírus, então já deixo aberto. Mas só estão entrando os mensalistas, não estamos lavando o carro”, afirmou João Santos, proprietário do estabelecimento. No local, havia água, sabão, produtos de limpeza e um funcionário usava galochas e um avental que estava molhado.

A maioria dos estabelecimentos abertos eram estacionamentos, que não estão na lista dos serviços que podem funcionar durante a quarentena em São Paulo. Somente na avenida Conselheiro Carrão, no bairro do Carrão, sete estavam funcionando. Próximo dali, na avenida Cantagalo, uma tabacaria funcionava com apenas uma porta aberta. Lá dentro, o proprietário lamentou o decreto do governador.

“Se eu não abrir, vou falir, eu pago R$ 1.800 de aluguel e tenho dois funcionários registrados, que eu dei férias. Se eu ficar fechado, não tenho nem como entrar em maio. Nem delivery dos meus produtos eu posso fazer, tem cliente me ligando”, aponto o empresário, que pediu para não ser identificado. Quando perguntado sobre a possibilidade de contrair ou transmitir o vírus, ele minimizou. “É uma gripe, estou tomando todos os cuidados, a minha máscara está aqui e o álcool gel também”, disse.

Em um posto de gasolina em Itaquera, clientes consumiam salgados e bebiam na loja de conveniências, que foram autorizadas a trabalhar apenas com produtos embalados e que não devem ser consumidos no interior do comércio. A reportagem do Brasil de Fato perguntou à balconista se poderia comer um pão de queijo dentro do estabelecimento, a funcionária consentiu.

Ainda em Itaquera, uma marcenaria estava fechada para o público, mas lá dentro os trabalhadores seguiam suas atividades.

A interrupção da circulação das pessoas nas ruas do estado depende do comércio baixar as portas. Um ponto de ônibus na rua Dr. Luís Aires, na saída da estação Arthur Alvim do Metrô, era um exemplo. Dos cinco passageiros que aguardavam ônibus, quatro estavam indo trabalhar.

“Eu trabalho em uma lavanderia. Não vamos abrir para o público, mas nós vamos trabalhar lá dentro, lavando e passando”, afirma a trabalhadora, que também não quis se identificar.

Na avenida Maria Luisa Americano, no Jardim Nossa Senhora do Carmo, um salão de cabeleireira estava aberto, além de uma concessionária de veículos.

Em entrevista coletiva nesta terça-feira (24), o governador João Doria ameaçou os empresários que insistirem em manter seus comércios abertos durante o período de quarentena. “Há algumas recomendações e determinações em decreto, a pena pode envolver, inclusive, prisão”, declarou.

Foi massiva a adesão dos bares e lanchonetes. Todos abertos, mas com mesas impedindo a entrada do público, entregando comida na porta, como manda o decreto. A reportagem do Brasil de Fato não flagrou nenhum bar que descumprisse a quarentena.

Centro

Na região central da cidade de São Paulo, o respeito ao decreto foi maior. A circulação de veículos e pessoas estava reduzida, provocando imagens curiosas, como a rua 25 de Março – importante zona de comércio popular – e o Largo São Bento – com importantes pontos históricos e de comércio – vazios.

A praça da Sé estava povoada apenas por trabalhadores da Prefeitura, que faziam a limpeza do tradicional ponto turístico de São Paulo.

No Largo do Paissandu, a Galeria do Rock e a Galeria Olido, dois prédios que provocam a concentração de muita gente na região, estavam fechados e vazios. A rua Santa Ifigênia, onde se aglomeram comerciantes e consumidores diariamente, estava abandonada.

Edição: Vivian Fernandes