Coluna

Um problema chamado Jair Bolsonaro

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Bolsonaro vem seguindo linha contrária à grande maioria dos líderes políticos de todo o mundo - Marcos Correa / Presidência da República / AFP
A falta de apoio tem feito Bolsonaro recuar de suas posições nefastas e até mesmo criminosas

Seguimos todos em uma quarentena necessária para conter esta pandemia provocada pelo coronavírus não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Mas, como o mundo todo tem dito, comentado, anunciado e divulgado, o Brasil, além de um problema de saúde e de um problema sanitário, enfrenta também um problema político extremamente sério. E esse problema político se chama Jair Bolsonaro.

Há uma semana, Bolsonaro surpreendeu a todos, indo em cadeia nacional de rádio e televisão, contradizendo todos os indicativos de cientistas, de profissionais da área da saúde e, inclusive, da Organização Mundial da Saúde (OMS), fazendo um chamamento às pessoas, para que voltassem às ruas.

No final de semana, ele fez pior. Saiu do Palácio da Alvorada e foi caminhar pelas ruas de Brasília, nas cidades satélites, numa conclamação clara para que a população voltasse ao trabalho.

Agora, nessa terça-feira (31), ele voltou à televisão ao rádio e, em cadeia nacional, recuou das suas posições, pelo menos aparentemente. E nós precisamos analisar o que significa esse recuo. Nada mais é do que um sinal de que ele sabe e de que ele tem consciência do nível de isolamento que ele está enfrentando. Repito, isolamento.

Ele não detém o apoio da grande maioria da sociedade, das lideranças mundiais, nem mesmo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que é o seu ídolo número um e estava perdendo dia a dia, hora a hora, o apoio daqueles que estiveram o tempo inteiro ao seu lado. Então, isso foi o que fez com que Bolsonaro recuasse das suas posições nefastas e até mesmo criminosas.

De nossa parte, temos que seguir entendendo que a prioridade neste momento é salvar vidas. A prioridade neste momento é exigir agilidade por parte do governo para que pague logo a ajuda cidadã que foi aprovada pelo Congresso Nacional, de R$600,00 no mínimo, para cada pessoa que não tem renda ou que perdeu a sua renda por conta do coronavírus.

Aliás, diga-se de passagem, Bolsonaro tem divulgado que ele foi quem determinou esses R$600,00. Não é verdade. Por ele, teria sido aprovada somente uma ajuda de R$200,00 e ainda uma lei que deixaria trabalhadores formalizados no Brasil sem salário durante quatro meses. Era isso que ele queria inicialmente. Os R$600,00 foi fruto da mobilização da opinião pública e principalmente da luta dos partidos de oposição no Congresso Nacional.

Então, a nossa prioridade neste momento é garantir que esses recursos cheguem nas mãos da população, porque só assim nós teremos condições de ver a maioria da nossa gente resguardada em casa, protegendo-se do coronavírus, mas também dando segurança à sua própria vida e à vida da sua família. Esse é o nosso grande desafio hoje: lutar em favor da vida por meio de um pacto nacional. Essa é a nossa prioridade número um.

Sobre o futuro de Bolsonaro, depende das próximas iniciativas que ele adotar. Se ele continuar insistindo em andar em um caminho diferente daquilo que anda o mundo inteiro, daquilo que indica a ciência, daquilo que indica as autoridades em saúde pública, ele estará cavando a sua própria cova.

 

*Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e membro do Comitê Central do PCdoB.

Edição: Camila Maciel