Coluna

Américo, o criador de animais

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Em sua coluna, Mouzar traz um curioso relato de seu amigo Américo que tinha chácara, e nela gostava de ter os mais diversos bichos - Foto: Doruk Yemenici/Unsplash
Um sujeito tomando cerveja e, deitado junto aos pés dele, um carneirinho, como se fosse seu cachorro

Uma época, quem fosse a um boteco em São Luiz do Paraitinga, no estado de São Paulo, muito provavelmente veria um sujeito tomando cerveja e, deitado junto aos pés dele, um carneirinho, como se fosse seu cachorro. Esse sujeito era o Américo, professor de Geografia, meu ex-colega dos tempos de estudante na USP, que ficou amigo para sempre.

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Já falei dele aqui, contei de sua chácara e um empregado que ele arrumou mas mais tomavam vinho do que trabalhavam. Pois é... Esse meu amigo morreu no fim de março. Não foi pelo coronavírus, foi ataque do coração. O coronavírus interferiu em outra coisa: o enterro dele. Apesar de ter um montão de amigos e admiradores, ninguém podia sair de casa. Todo mundo confinado.

Mas não estou aqui para falar da morte dele. Quando algum amigo ou uma amiga vai desta para uma melhor, gosto de lembrar de coisas boas e divertidas acontecidas com essas pessoas. O Américo inventava de criar animais na sua chácara, enjoava deles e iniciava a criação de outros animais.

Teve, por exemplo, caracóis, marrecos, coelhos e galinhas da angola. No caso da galinhas da angola, que no Nordeste chamam de capote, o que o fez de largar mão delas foi que, quando já eram umas trinta ou mais, andavam em bando e gritavam juntas: “tô fraco”, “tô fraco”...

Durante o dia, tudo bem, mas elas faziam duas assembleias por dia, embaixo da janela dele. Uma era às seis horas da tarde. Aí, nada contra. Mas a outra era pontualmente às seis da manhã. Depois de ir dormir de madrugada, acordava ao amanhecer com aquela gritaria debaixo da janela. Antes dessas galinhas, comprou uma ovelha prenha.

As ovelhas só têm um filhote de cada vez, mas essa pariu dois. Como acontece num caso desse, a ovelha, que dá pouco leite, rejeita um e cria só o outro. Se fosse querer dar leite aos dois, nenhum sobreviveria. Então ele resolveu virar “mãe” do carneirinho rejeitado. Dava mamadeira para várias vezes por dia. Daí o carneirinho o encarava como mãe mesmo. Andava atrás dele o tempo todo.

E quando o Américo ia para o centro, o bichinho ia atrás, todo feliz. Outra época, ele comprou um bezerro, mas foi por gozação. Ele se irritava com aqueles roceiros que tinham um gadinho vagabundo e diziam que eram pecuaristas. Pôs no bezerro o nome de Gado.

E quando estava num bar e aparecia um desses “pecuaristas” querendo conversar com ele, dizia em tom de deboche: “Preciso ir embora, tenho que cuidar do Gado”. Esse bezerro, o Gado, era bem tratado demais!

Edição: Lucas Weber