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Com pandemia e sem recursos da Ancine, pequenos cinemas podem fechar as portas no Rio

Exibidores de redes maiores também reclamam de falta de programas de financiamento por parte do governo federal

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Cine Santa
Assim como todas as salas, Cine Santa, em Santa Teresa (RJ), está fechado há um mês por decreto do governo do estado - Divulgação

Sem funcionar há mais de um mês por conta da pandemia da covid-19, diversos cinemas do Rio de Janeiro, em especial as salas menores, correm o risco de não voltar a abrir quando a quarentena determinada pelo governo estadual terminar. Além da falta de entrada de dinheiro com a exibição de filmes, via bilheteria, o dono e administrador do Cine Santa, localizado em Santa Teresa, Adil Tiscatti, afirmou que a Agência Nacional de Cinema (Ancine) não paga desde 2017 um prêmio devido às salas de todo o país.

“Muitos cinemas no Rio e quase uma centena no Brasil podem fechar se a Ancine não pagar o prêmio PAR [Prêmio Adicional de Renda/2016] que devia ter sido liberado desde 2017. O prêmio é dado aos cinemas pela exibição de filmes brasileiros. Com o fechamento decretado em razão da pandemia do coronavírus, os cinemas estão sem renda para pagar funcionários e custos normais”, escreveu Tiscatti, que administra o cinema na zona central do Rio, em depoimento no Facebook.

No edital, a Ancine publicou uma lista de 70 cinemas de todo o Brasil que receberiam a verba. O montante total dos recursos do prêmio seria de R$ 3 milhões. No estado do Rio, além do cinema de Santa Teresa, foram contempladas as seguintes salas: Cine Museu da República, Cine 3 Rios, Imperial Paracambi, Jorge F. da Silva, em São Jesus de Itabapoana, Ponto Cine Produções, em Guadalupe, na zona norte do Rio, Cine 9 de Abril, Cinemas Lacerda, Cine Art UFF, Cinemaxx CasaRio, Vassouras, Cinemagic John Kennedy e o Cine Glória Valença.

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Socorro

Uma das principais redes de cinema de arte do Rio, o Grupo Estação, que tem salas na zona sul do Rio, publicou nesta segunda-feira (20) um pedido de ajuda ao governo federal. A diretora do Estação, Adriana Rattes, lembrou que os cinemas da rede formaram gerações de cinéfilos nos últimos 35 anos de existência e que já sobreviveu a diversos problemas com falência de sócios e patrocinados nos últimos anos.

Rattes ressaltou que o grupo está de acordo com o fechamento das salas em função da pandemia, mas disse que o Estação vem passando por problemas inexplicáveis e sem solução depois de ter sido rejeitado em um edital de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A diretora disse que agora precisa resolver “um processo Kafkiano para garantir os vínculos e os salários das 75 pessoas da equipe”.

Em edital publicado no último dia 8, o BNDES anunciou o Programa Emergencial de Suporte e Emprego, que é destinado à folha de pagamento de pequenas e médias empresas. De acordo com o banco, estão aptas a pedir o financiamento empresas com faturamento anual acima de R$ 360 mil até R$ 10 milhões. Como contrapartida, elas não poderão demitir trabalhadores no período.

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“Fomos gongados para o financiamento do BNDES da folha de pagamento porque ano passado faturamos mais de R$ 10 milhões! Suprema ironia, pois como uma empresa completamente paralisada pode ter fluxo de caixa para manter seus funcionários sem este tipo de ajuda? E porque este ano, certamente, teremos um faturamento menor que a linha de corte do programa”, queixou-se a diretora do Estação.

Edição: Mariana Pitasse