Pandemia

Movimentos lançam campanha de solidariedade aos catadores de materiais recicláveis

Só no Rio Grande do Sul, são 40 mil catadoras e catadores que sobrevivem da coleta seletiva

Porto Alegre | BdF RS |
Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), 15% dos cooperados são de grupos de risco, acima de 60 anos, lactantes ou portadores de doenças crônicas - Foto: Wilson Dias / Abr

A integrante da coordenação nacional do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), Aline Sousa da Silva, em entrevista recente à Agência Brasil informou que a maioria dos catadores parou com as atividades durante a pandemia do novo coronavírus, uma vez que “boa parte deles têm idade mais avançada, portanto pertencem ao grupo de risco”.

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Segundo a coordenação do movimento, cerca de 15% dos cooperados são de grupos de risco, acima de 60 anos, lactantes ou portadores de doenças crônicas. Como, no atual momento, as cooperativas de catadores estão fechadas por força de decreto, o risco de contágio desses profissionais está restrito aos catadores independentes, aos quais as cooperativas não têm controle.

Diante dessa  situação, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), a União Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do Brasil (Unicatadores) e a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT), junto com uma rede de parceiros e apoiadores, lançaram, em caráter emergencial, a Campanha de Solidariedade aos Catadores do Brasil.

O objetivo é diminuir os efeitos drásticos que essa crise vem gerando para aqueles que tanto cuidam do bem-estar e do meio ambiente nas cidades brasileiras. Você pode colaborar com R$ 100, R$ 50, R$ 20 ou qualquer outro valor.

Para saber como está a situação das catadoras e dos catadores no Rio Grande do Sul e como apoiar, conversamos com o integrante do MNCR Alex Cardoso. Ele também fez parte da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis da Cavalhada (ASCAT) e da Central de Cooperativas de Catadores de Porto Alegre e Região Metropolitana (Rede CATAPOA).

Confira a entrevista.


Alex Cardoso integra o MNCR e a Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis da Cavalhada – ASCAT / Foto: Thomas Lohnes/Arquivo Pessoal

Brasil de Fato RS - Como está a situação das catadoras e catadores no estado?

Alex Cardoso - São 40 mil catadoras e catadores vivendo no estado. A maioria vive coletando materiais nas ruas, utilizando carrinhos e carroças. Em torno de 4 mil estão organizados em associações e cooperativas. Com a pandemia do coronavírus, o comércio fechou, deixando então de gerar resíduos de uma hora para outra.

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A categoria ficou na mão. As catadoras e os catadores sobrevivem dos materiais recicláveis, da comercialização. Desta forma, estão atualmente sem estes resíduos. Aqueles que estão em associações e cooperativas também enfrentam situações complicadas, com a baixa dos materiais. Alguns compradores entraram em quarentena, sendo que os que continuam comprando, baixaram os preços dos materiais. Desta forma, a categoria precisa de apoio e solidariedade para que não percam suas vidas, não somente por causa do perigo de adquirir o vírus, mas de morrer de fome.

BdFRS - O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) está realizando uma Campanha de Solidariedade. Como está funcionando?

Alex - Construímos um site nacional, buscando articular recursos para apoiar a todas as catadoras e os catadores de materiais recicláveis, aqueles organizados coletivamente bem como aqueles que trabalham individualmente nas ruas e lixões do Brasil, sendo inclusive os que mais precisam no momento. A campanha nacional é para que possamos apoiar a todas e todos, pois alguns grupos são bem articulados e conseguem mobilizar apoio, enquanto outros não conseguem se mobilizar,  quanto mais apoio, mais catadoras e catadores poderemos ajudar. 

BdFRS - Quais as orientações para a população ajudar os catadores na coleta seletiva?

Alex - Com a pandemia, os materiais recicláveis acabam sendo um dos problemas, pois são objetos compartilhados que saem das mãos das pessoas de todas as regiões da cidade e vão para as mãos das catadoras e dos catadores. Desta forma, aqueles que puderem colocar os resíduos em quarentena, podem diminuir a chance de algum catador contrair o vírus. Naqueles casos em que a família está com um caso adquirido de coronavírus, ou sob suspeita, os resíduos devem ser ensacados duplamente e todos dispensados na coleta comum - que não terão contato com os catadores e pela duplicidade do saco, praticamente inviabiliza que o gari venha também a contrair. Mascarás devem ser ensacadas em sacos plásticos antes de serem dispensadas, nunca as colocando para a coleta seletiva nem para os catadores individuais. 

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Este momento é super importante para que a coleta seletiva tenha apenas materiais recicláveis, sendo bem separados dos orgânicos, pois os mesmos têm uma força maior de contaminação. No orgânico o vírus sobrevive por mais de 10 dias. Mais do que nunca, separe adequadamente seus resíduos e descarte de maneira correta, buscando cuidar de todas e todos. Todo mundo merece ser cuidado e ter suas vidas preservadas. 

BdFRS - Quais são as formas de colaborar pra campanha em Porto Alegre e no estado?

Alex
- Entrem no site ou mandem um zap para (51) 98922.6565 (não liguem, pois o celular pode estar ocupado e as mensagens todas poderão ser respondidas). Quem puder doar, doe. É um momento em que precisamos nos cuidar coletivamente, sendo que as catadoras e os catadores são agentes importantes em defesa da natureza, mas que são tão vulneráveis economicamente que precisam do seu apoio.

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Sejamos todas e todos solidários, vamos nos cuidar e fique (quem puder) em casa. Nós cuidamos do planeta, agora precisamos que vocês ajudem a cuidar de nós. 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Leandro Melito e Marcelo Ferreira