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Parto em tempos de coronavírus causa preocupação em gestantes

Federação de Ginecologia e Obstetrícia esclarece que não há estudos que indiquem complicações por conta da covid-19

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Diante das medidas de isolamento social, muitos procedimentos foram alterados durante período de gravidez; na foto, Jamille Victoria Lauriano Freire, grávida de 17 semanas - Foto: Ana Maria Freitas Lauriano Freire

A jornalista Sheila Jacob se prepara com dedicação para a chegada da primeira filha, Violeta, no mês de junho.

"Eu estou planejando um parto humanizado, em que eu seja ouvida as minhas vontades. O parto mais natural possível, sem intervenções desnecessárias. Eu to fazendo yoga para gestantes e tenho também o acompanhamento de uma doula. O que tem sido muito bom, porque eu estou recebendo muitas dicas de leitura, de exercícios para eu poder me preparar para esse momento"

O aumento dos casos de coronavírus não mudou os planos de realizar o parto em uma maternidade do SUS na capital fluminense, mas a pandemia causa preocupação.

"Primeiro pelo medo de me contaminar. Então eu estou respeitando o máximo possível a orientação do isolamento social. Outra tensão é a com relação ao parto em si. Eu gostaria muito que meu companheiro, o pai da minha filha, estivesse comigo, e a doula também. Pode ser que eu não consiga ter esse acompanhando como eu estava imaginando".

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Grávida de 33 semanas do segundo filho, a nutricionista Aline de Oliveira teve a consulta do pré natal adiada por sua obstetra estar com suspeita de coronavírus. O acompanhamento no momento do parto, que deve ser realizado em um hospital privado, ainda está incerto. Emocionada, Aline relata as dificuldades e as perdas, inclusive afetivas que a pandemia impõe.

"Pequenas coisas, como compra de enxoval eu tenho uma grande dificuldade porque você não encontra onde comprar, somente pela internet. Também é um momento muito especial para a própria família, mas você não consegue realizar uma ultrassonografia, até consegue marcar mas tem que ir sozinha, não pode nem ir com seu marido. A família em si não pode ficar junta nesse momento tão especial de escutar o bebê. Acaba que ficando todo mundo muito solitário. E a principal preocupação é com o parto, onde você escolher ter o seu filho".

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Febrasgo, preparou um material com recomendações às gestantes. As orientações esclarecem inclusive a ausência de pesquisas que indiquem quais consequências que a infecção pelo novo coronavírus tem na gestação.

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Segundo a Febrasgo, a gestante que não tiver sintomas de covid-19 pode manter sua opção quanto à escolha da instituição para o parto. Já aquelas que apresentarem sintomas, devem discutir com seu médico o melhor local para ter o bebê.

O material destaca que até o momento, as poucas evidências disponíveis demonstram que o risco de contrair o covid-19 não é maior nas gestantes ou puérperas do que no restante da população.

Diante das incertezas, a procura de informações sobre as possibilidade de realizar um parto domiciliar também tem crescido. A enfermeira obstétrica Ariana Santos, da equipe Sankofa Atendimento Gestacional, relata que o trabalho tem sido de muito esclarecimento às mulheres.

A consultoria é um momento em que a gente vai discutir com essa mulher quais são os riscos e os benefícios do parto domiciliar, um momento que a gente apresenta evidencias científicas para essa mulher

"Muitas vezes a gente só esclarece a essa mulher que as maternidades continuam funcionando normalmente. E, às vezes, num primeiro momento conversando, essa mulher continua com a ideia inicial que ela tinha de uma parto hospitalar. A consultoria é um momento em que a gente vai discutir com essa mulher quais são os riscos e os benefícios do parto domiciliar, um momento que a gente apresenta evidencias científicas para essa mulher, para que ela escolha o parto domiciliar não pela romantização, mas tendo consciência de que os riscos existem, assim como existem no hospital, mas que mesmo assim ela ache que seja uma melhor assistência. Então é assim que a gente decide se essa mulher vai ter ou não o parto domiciliar."

Segundo a enfermeira, para a realização do parto domiciliar são observados protocolos rigorosos, como a ausência de condições de risco e a existência de uma maternidade há até 20 minutos de distância, por exemplo. A grávida precisa também estar com no máximo 32 semanas de gestação, de forma que haja tempo hábil para avaliação das condições da gravidez e estabelecimento de vínculo.

A enfermeira obstétrica explica que houve aumento de procura, mas o número de partos realizados em domicílio pela equipe continua no padrão, porque muitas mulheres procuraram o atendimento já no final da gestação e foram apenas esclarecidas e acolhidas.

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Ariana conta que a equipe passou a trabalhar com uma rotina diferenciada, que inclui encontros online e recomendação expressa de quarentena para as gestantes. Ela relata que o momento exigiu também adequações na principal característica do parto domiciliar: a proximidade.

A Defensoria Pública do Estado do Rio enviou nesta semana uma recomendação aos secretários de saúde dos 92 municípios do estado para que o direito garantido por lei à gestante de ter um acompanhante antes, durante e após o parto seja respeitado em todas as unidades de saúde mesmo durante a pandemia.

O comunicado diz que o Plano de Contingência da Atenção Primária à Saúde para o Coronavírus no Rio de Janeiro não exclui esse direito. Segundo a Defensoria, a recomendação pode implicar em ato de improbidade administrativa, se não for atendida, e resultar na adoção de medidas administrativas e judiciais contra os responsáveis.