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Início Bem viver Cultura

LITERATURA

Carta a José Saramago

Em meio ao dia do livro e à revolução dos Cravos, recordar o comunista português é preciso

24.abr.2020 às 07h39
Curitiba (PR)
Pedro Carrano

Você reposicionou o papel do intelectual e escritor, colocando-se sobre a política - Divulgação

Caro José,

Pressinto que o mundo nunca foi tão fiel ao retrato que você fazia dele. Uma

mistura assombrosa da ficção e alegorias dos seus romances com a lucidez e secura das suas análises mais pessimistas.

E te escrevo essa carta porque você e a sua obra parecem mais vivos e pulsantes do que nunca.

Nos anos 2000, quando você era uma referência solitária, um escritor e prêmio Nobel conhecido, dizendo que não havia saída para o capitalismo, ainda mais em sua fase neoliberal, destoando da maioria dos outros escritores, com a autoridade de ser um dos principais autores vivos daquele momento.

Você recolocou Portugal na rota dos grandes autores. Mas, muito mais importante que isso, na minha opinião desde aquela época, em dias de individualismo e ausência de saídas, você reposicionou o papel do intelectual e escritor, colocando-se sobre a política, mantendo a obra com alto grau de estética e linguagem, mas sem se agarrar de forma cômoda no alto do conhecido muro… de marfim.

Falar em morte ou datas com você é estranho. Como é comum se dizer hoje, "Ensaio sobre a Cegueira" nunca foi tão atual, a razão cega é insuficiente. Uma cena, em especial, se bem me recordo, quando os personagens acabam mexendo numa escada, e isso acarreta a morte de várias pessoas cegas, que não tinham por onde sair de um porão, dá o exato tom do que vivemos hoje na quarentena, entre o desejo de sair, lutar e ajudar os outros, mas sabendo que justamente não podemos ser responsáveis pela ampliação do contágio e morte de mais pessoas. Em o “Evangelho Segundo Jesus Cristo” – talvez a sua obra mais polêmica e mais polêmica ainda hoje em dia – você apresenta um Jesus profundo e angustiado com o destino da humanidade. Em “Todos os Nomes” novamente como não pensar na relação com os dias de hoje, na medida em que se acumulam números de mortos – 3 mil em um Brasil subnotificado até agora, 150 mil no plano mundial e muitas vezes tratados como números sob o olhar frio de governantes aqui e nos EUA; o Cipriano Algor de “A Caverna”, trabalhador oleiro sem lugar no mundo de hoje, que me faz pensar nos trabalhadores precarizados, apartados das tecnologias digitais e de condições, lançados à própria sorte neste momento.

No lançamento do livro A Caverna, numa conferência em Curitiba, você começou a sua fala de forma incisiva: “nasci em um mundo injusto e certamente vou morrer em um mundo injusto". Ainda assim, na idade de um Mujica ou de um Bernie Sanders, quando parece que uma pessoa busca os últimos voos certeiros, você lançou uma mensagem de ânimo para aquela juventude, naquele centro de conferências, sem ideia do que o neoliberalismo ainda seria capaz de fazer com a humanidade:

– "Se quiserem mudar as coisas e saírem às ruas, contem comigo".

Ainda tive, José, contato indireto com você em duas situações que me marcaram muito. A primeira delas conhecendo amigos seus que atuavam em Chiapas, no sul mexicano, amigos das Ilhas Canarias, educadores populares com quem tive o prazer de atuar.

A segunda vez, mais recentemente, quando Pilar del Rio, jornalista, escritora e sua companheira de vida esteve conosco na Vigília Lula Livre. A mensagem dela é a mesma: preocupação universal, amor aos mais humildes, participação ativa e uso da razão para mudar o que tem de ser mudado.

Há algo que atravessa o seu trabalho e que o tempo todo insiste em colocar o humano e a criação material no centro da História, como se pudéssemos ser donos de nossas escolhas e destino – mesmo que neste momento possamos nos sentir ou parecer incapazes ou inúteis. Nesse momento difícil da crise econômica, política e humanitária, encontro essa mensagem no livro "Memorial do Convento", de 1982:

"…e também estes navios que vês no rio, houve um tempo em que não tiveram velas, e outro tempo foi o da invenção dos remos, outro o do leme, e, assim como o homem, bicho da terra, se faz marinheiro por necessidade, por necessidade se fará voador…", José Saramago, em Memorial do Convento, de 1982.

Onde estiver, um abraço necessário, daqueles que em breve queremos voltar a ter com os nosso,

Pedro Carrano, Curitiba, 23 de abril de 2020.

 

Editado por: Gabriel Carriconde
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