Paraná

Pandemia

Mulheres correm risco maior de violência em quarentena

Advogada explica que isolamento social traz à tona relações desrespeitosas e desiguais entre homens e mulheres

Curitiba (PR) |
"Quanto mais essas relações não forem sólidas e respeitosas, maior o risco de incidência da violência”, avalia Sandra Bazzo - Marcos Santos/USP

Restrição da locomoção por risco de contrair uma doença, insegurança financeira, necessidade de convivência em uma relação que já não era respeitosa e igualitária. Esses são fatores que tornam a quarentena um período mais perigoso para mulheres.

No início do período de isolamento social, a Polícia Militar do Paraná divulgou dados que mostram aumento de 15% no registro de denúncias relacionadas à violência doméstica. No primeiro fim de semana de isolamento (de 20 a 22 de março) foram 217 queixas, enquanto no fim de semana anterior (de 13 a 15 de março) o número era de 189.

Na Delegacia da Mulher de Curitiba, há relato de aumento no número de chamada ao 190 e também de mulheres que procuram denunciar presencialmente. Uma policial civil ouvida pela reportagem, que preferiu não se identificar, afirmou perceber que as “relações familiares tumultuaram muito” neste período. Além de denúncias em contexto matrimonial ou de relacionamentos românticos, muitas denúncias envolvem “agressões de pais com filhas, irmãos, primos”.

A advogada Sandra Lia Bazzo, integrante do Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), explica que historicamente o ambiente familiar é um lugar de perpetuação de violências contra as mulheres. “Quando você fala de violência, ela está associada a relações de poder. Quem tem mais poder numa família é quem provavelmente será o agressor. E isso a gente vê que normalmente será o homem em relação a uma mulher”, diz.

Na análise da advogada, o isolamento traz à tona relações que já eram desrespeitosas e desiguais entre homens e mulheres do mesmo convívio. Juntam-se a isso fatores psicológicos e econômicos que podem se agravar durante a pandemia de coronavírus, como ansiedade, desemprego e insegurança financeira.

“Dentro do que a gente conhece sobre o ciclo da violência, começa com pequenas ações e tende a aumentar gradativamente. Quanto mais tempo de convivência próxima e quanto mais essas relações não forem sólidas e respeitosas, maior o risco de incidência da violência”, explica Bazzo.

Com o intuito de orientar mulheres que estejam passando por situações de violência, em Curitiba foi criada a plataforma “Liga!”, que agrega todos os canais e serviços de atendimento à mulher. Além disso, a plataforma disponibiliza uma rede de profissionais voluntárias, fazendo uma triagem das situações de violência em seis grupos: Violência Psicológica, Violência Física, Violência Patrimonial, Violência Sexual, Violência Moral e um grupo com profissionais especializadas no encaminhamento e tratamento de agressores(as).

Fique em casa, mas não em silêncio

  • Ligue 190, em caso de emergência, (o número é válido tanto para vítima quanto para testemunhas)
  • Disque 180, para orientações sobre como proceder em caso de violência
  • WhatsApp (41) 99285-8134 é o número de atendimento do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública do Paraná 
  • Disque 153 para acionar a Patrulha Maria da Penha,
  • A Delegacia de Defesa da Mulher continua com atendimento normal, equipada para respeitar as orientações de prevenção ao contágio de coronavírus.

Edição: Frédi Vasconcelos